DEFENSORES E O UNIVERSO MARVEL
- Luís Henrique Franco
- Aug 20, 2017
- 8 min read
Com a chegada da série Os Defensores, da já celebrada parceria entre a Marvel e a Netflix, ocorrerá por fim a união da mais nova super-equipe da televisão, composta pelo Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e pelo Punho de Ferro, todos com séries individuais no serviço de stream. No geral, apesar de altos e baixos no decorrer de suas atuais histórias, as quatro séries tiveram uma boa aceitação do público (menos Punho de Ferro, que foi a que mais deixou a desejar) e pavimentaram a chegada de um novo grupo de heróis ao Universo Marvel. Separados do Universo Cinematográfico, esses novos personagens apresentam grandes diferenças daqueles introduzidos nas telas do cinema.

ANÔNIMOS DENTRO DA SOCIEDADE
Todos nos lembramos de um dos grande pontapés iniciais do Universo Cinematográfico da Marvel: quando Tony Stark declarou para uma sala cheia de repórteres que ele era o Homem de Ferro. Ao assumir sua identidade, Tony determinou que aquela seria sua vida principal, protegendo o mundo de inimigos e garantindo paz enquanto vestia uma poderosa armadura. De uma certa maneira, essa foi a função que todos os super-heróis que o sucederam nesse universo assumiram. Eles são protetores, guardiões, vingadores. Seu dever é proteger o mundo, e é isso que eles fazem durante todo o seu tempo.
Para darmos um exemplo mais concreto, tomemos o Capitão América. O alter-ego Steve Rogers refere-se apenas ao nome real do herói, mas ele por si só não apresenta uma outra vida, mais normal. Ele é um agente, um soldado com o dever de proteger o mundo da ameaça da Hydra e de qualquer outra instituição. Ele inclusive vive (ou costumava viver até os eventos de Guerra Civil ) na mansão dos Vingadores. E essa realidade é extremamente recorrente no universo cinematográfico. Mesmo heróis que antes costumavam ter uma vida mais normal acabam abraçando por completo a identidade de heróis e deixam de viver o que seria considerado uma vida normal em prol desse dever. Se desconsiderarmos Thor, por se tratar de um não-humano, todos os outros heróis basicamente deixam de viver como pessoas normais após se tornarem heróis: Falcão, Máquina de Combate, Viúva Negra são agentes e basicamente vivem em missões; Doutor Estranho deixa de atuar como médico para se tornar um mago defensor; Bruce Banner ou vive em fuga ou serve como Hulk ao lado dos Vingadores. A única exceção nessa equação seria o Gavião Arqueiro, que possui uma vida fora da S.H.I.E.L.D. e dos Vingadores, com mulher e filhos, mas mesmo essa vida acaba se tornando extremamente secundária diante de sua rotina de herói.
Já os Defensores são diferentes. Apesar de serem combatentes do crime, eles também possuem essa "segunda vida", uma vida normal na qual eles exercem um papel na sociedade comum, possuem um emprego, possuem problemas pessoais, têm dívidas. Nesse novo ambiente, a vida como protetores e vigilantes acaba sendo um algo a mais, outro fator da vida deles com o qual eles têm que lidar, equilibrando o lado fantástico e poderoso com o lado comum, o que muitas vezes acaba criando problemas com outras pessoas, amigos e colegas de trabalho que eles têm. Se analisarmos a vida do Demolidor, por exemplo, veremos que ela se resume a uma constante luta para tentar equilibrar o lado do herói, que precisa defender Hell's Kitchen contra corruptos e sociedades secretas, e a vida de Matt Murdock, que tentar obter sucesso como advogado.
Essa constante luta é o que torna esses heróis mais interessantes. De certa forma, os torna mais humanos, mais alcançáveis e, até certo ponto, mais verossímeis. Também torna a questão das identidades secretas muito mais importante para eles, visto que as pessoas que conhecem apenas seus alter-egos podem estar em risco caso algum de seus inimigos descubram quem eles são. Em relação aos Vingadores, por exemplo, esse risco, apesar de real, é mais atenuado visto que a maior parte das pessoas importantes para esses heróis também compartilham de seu ambiente de heróis, sendo ou outros agentes ou pessoas que os auxiliam no combate ao mal.
VIGILANTES
Outra grande diferença entre os Defensores e os outros heróis é que, enquanto os Vingadores são aclamados por seus feitos por boa parte das pessoas e são reconhecidos como protetores do mundo (o mesmo pode ser dito, por exemplo, dos Guardiões da Galáxia, que mesmo ex-criminosos, são reconhecidos como os salvadores de Xandar e carregam esse título aonde quer que vão), os Defensores não recebem medalhas ou grande reconhecimento das autoridades por seus serviços. Muito pelo contrário, alguns deles são inclusive caçados por agirem como justiceiros e realizarem o trabalho que a polícia deveria efetuar.
Um dos principais motivos para essa postura das autoridades é justamente o fato de que esses vigilantes não possuem uma identidade definida e agem preferencialmente pelas sombras. Eles realizam justiça com as próprias mãos e não respondem por seus atos, ou pelo menos não dentro dos padrões da sociedade. Por causa disso, escondem seus poderes e dificilmente os revelam para alguém.
Isso levanta uma séria questão quanto à ação desses heróis. Mesmo que eles sejam comprometidos a defender a sociedade e atacara somente criminosos e vilões, até que ponto a ação desses homens, impondo a justiça sem se submeterem a uma autoridade maior, realmente é um benefício para a sociedade? Como Vingadores, é conferido ao Homem de Ferro e ao Capitão América uma certa autoridade para realizarem justiça e combaterem o mal. Mas heróis como Luke Cage e o Demolidor simplesmente saem pelas ruas, enfrentando criminosos, sem que ninguém de fato os chame. Isso os coloca em conflito direto com a polícia e os transforma em pessoas a serem caçadas, mesmo que seus atos sejam, no final de tudo, bons para todos.
GENTE COMO A GENTE
Quando olhamos o Thor, recebemos imediatamente de alguém superior a nós. Não apenas no sentido de ele ser um Deus nórdico, mas também no sentido de ele ser quase um homem perfeito. Não possui problemas mundanos, está sempre em boas condições e, mesmo na derrota, mantém-se íntegro. A maioria dos heróis também segue esse rigoroso código de conduta, colocando-se acima de nós pelo fato de que nada que seja um “problema comum” parece afetá-los.
Quando falamos dos Defensores, no entanto, percebemos que eles estão suscetíveis aos mesmos problemas e às mesmas falhas que nós, humanos normais. Jessica Jones, por exemplo, tem que lidar com o trauma de uma relação abusiva e se mostra como uma pessoa alcóolatra. O Demolidor, além de cego, tem que lidar com a dificuldade de seu emprego como advogado, que ele consegue manter muito dificilmente ao lado de sua vida de super-herói. Luke Cage só deseja levar uma vida normal no Harlem e inclusive esconde seus poderes. Punho de Ferro é o herdeiro de uma grande empresa e possui alguns problemas de autocontrole.
Esse lado mais normal dos heróis é o que faz com que muitos deles sejam mais aceitos pelo público. Garante-se um ar mais cômico através da exploração do que seriam reações de pessoas comuns, que se tornam um pouco mais exageradas por conta do uso dos poderes. A verdade é que esses não são heróis que tentam ser deuses, mas pessoas normais que levam uma vida comum como todos os outros e que se diferenciam de grande parcela da população por possuírem algumas habilidades especiais. Muitas vezes, inclusive, possuir esse tipo de habilidade acaba sendo um problema para eles, como quando a super força e o temperamento explosivo de Jessica Jones a fizeram arrumar confusão com alguns de seus vizinhos.
Um bom exemplo também de como esses heróis tentam se adequar ao mundo são as confissões que Matt Murdock faz a um padre sobre seus trabalhos como Demolidor, algo do qual ele parece se arrepender em certos momentos.

CADA HERÓI COM O VILÃO QUE LHE CABE
Enquanto os Vingadores e os Guardiões da Galáxia se preocupam com grandes vilões intergalácticos e problemas de ordem mundial e universal, os Defensores se encarregam de criminosos mais locais. Apesar de algumas exceções, como a sociedade do Tentáculo, os vilões das séries são, em sua maioria, chefes do crime da cidade de Nova York ou pessoas que não têm, exatamente, a ambição de dominação mundial, mas um desejo de controlar o mercado local e expandir sua influência via poder político, econômico ou social.
Essa característica faz com que os vilões, assim como os heróis, sejam mais aceitos como algo mais realista e que poderiam realmente existir. O Rei do Crime (Vincent D’Onofrio), Cottonmouth (Mahershala Ali), Kilgrave (David Tennant), Madame Gao (Wai Ching Ho) e Harold Meachum (David Wenham) são vilões que não possuem poderes capazes de dominar o universo, não ostentam exércitos conquistadores ou tecnologias avassaladoras. Eles são senhores do crime, oportunistas, traficantes e corruptos, um tipo de criminoso com o qual estamos acostumados em nosso dia-a-dia normal, ou pelo menos consideramos mais normais do que alienígenas e dominadores intergalácticos. E mesmo possuindo alguns atributos que possam torna-los sobre-humanos, eles também apresentam uma característica em comum com os heróis: são parte integrante da sociedade e nela se escondem, sendo, dessa forma, aceitos dentro dela como “normais”, o que os leva a tramar seus planos pelas sombras, sem serem notados e sem chamarem muita atenção para si.

Entre esses vilões, como já foi dito, a exceção a essa regra de “normalidade” se dá pela organização criminosa conhecida como o Tentáculo, que é justamente o principal antagonista dos quatro heróis. Guerreiros místicos, os servos do Tentáculo conhecem os segredos do chi e são capazes de usá-lo para adquirirem vida eterna. Mesmo assim, essa não uma organização que se expõe para o mundo todo ver, mas que também age pelas sombras, opera em segredo e realiza investidas e atentados sem se revelar ao mundo.
A ARTE DE LUTAR
No universo de super-heróis, não é incomum presenciarmos cenas de luta corpo-a-corpo. Os Defensores não são exceção, e enfrentam combates contra seus rivais da mesma forma que os Vingadores. Contudo, existem algumas diferenças entre a luta das duas equipes, diferenças essas que dizem respeito justamente aos recursos disponíveis para cada um deles.
Quando olhamos os Vingadores, vemos uma equipe com poderosos armamentos e bom conhecimento de técnicas de combate. Mas mesmo os melhores lutadores da equipe, como o Capitão América, a Viúva Negra e o Pantera Negra, apresentam recursos poderosos a seu favor. Embora seja um bom soldado, o capitão faz muito uso de seu escudo na hora de lutar. A Viúva, habilidosa como ninguém, também possui armas e equipamentos de choque em seus punhos, que lhe concedem uma certa vantagem na hora de imobilizar adversários. Já o Pantera possui uma armadura e garras de Vibranium, que também lhe concedem uma vantagem, apesar de todas as suas habilidades.

Contra todos esses equipamentos e armamentos utilizados por esses heróis para aprimorar seus poderes, os Defensores não possuem nenhum recurso especial. Eles são extremamente poderosos, mas não possuem nada para ampliar esses poderes. Nenhum deles possui uma armadura super tecnológica, ou equipamentos feitos do metal mais poderoso da Terra, nenhum deles possui a ajuda de um deus. Tudo o que eles possuem é a sua própria capacidade de lutar, seu treinamento como guerreiros e suas próprias habilidades. Por causa disso, muitas vezes os Defensores sofrem para derrotar oponentes tão habilidosos quanto eles, ou que estão em maior número.
Essas são algumas das principais diferenças entre os Defensores e os heróis do MCU. Todas essas diferenças refletem diretamente no grau de influência das equipes. Quanto mais globais os heróis se apresentam, mais recursos eles apresentam. Como os Defensores não têm uma influência de ação maior do que a cidade de Nova York, e justamente porque não são heróis aceitos pela sociedade, seus recursos se resumem mais ao que eles possuem como pessoas normais, sem nenhuma grande riqueza para explorar.
Existe algum outro aspecto dessa nova equipe que vocês gostem? Comente abaixo! Já assistiu a série? Deixe as suas impressões!
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