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OSCAR 2020 - COMO O IRLANDÊS SUPEROU SEUS DESAFIOS DE PRODUÇÃO PARA SE TORNAR UMA OBRA PRIMA

  • Writer: Pietro Lago
    Pietro Lago
  • Jan 27, 2020
  • 7 min read

It’s what it is. Baseado no livro escrito por Charles Brandt, “I Heard You Paint Houses”, o mais novo filme do aclamado diretor Martin Scorsese, O Irlandês, traz uma nova nuance para sua longa lista de filmes sobre a máfia, e se consagra no cenário do cinema atual com atuações que dispensam apresentações, efeitos visuais revolucionários e uma direção recheada de simbolismos e metáforas inteligentes que não desmerecem nem mesmo o espectador mais atento.


Poster de O Irlandês (The Irishman), Netflix

Com três horas e meia de duração, O Irlandês reflete o passado e a vida de Frank Sheeran, um assassino profissional que trabalhou ao lado de algumas das personalidades mais marcantes do século 20, e que nos confessa as terríveis ações que cometeu em sua vida assim como uma imensurável traição.


Concorrendo ao Oscar com incríveis 10 indicações – Melhor Filme, Melhor Direção, duas indicações de Melhor Ator Coadjuvante (Al Pacino e Joe Pesci), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Design de Produção, Melhor Edição e Melhor Efeitos Visuais – O Irlandês se destacou rapidamente como uma tacada em cheio da Netflix numa época onde nenhum outro estúdio aceitou financiar o filme.


Confira abaixo os maiores destaques dessa produção e as chances que O Irlandês tem de levar consigo algumas estatuetas!



O TEMPO É O MAIOR VILÃO


Do ponto de vista lógico, o filme se apresentava como um desafio desde sua concepção inicial. O roteiro, que funciona através de flashbacks contínuos e não lineares, narra uma história que se desenrola entre os anos de 1949 e 2000, envolvendo assim um problema na representação da idade de seus personagens e, respectivamente, de seus atores… Scorsese resume o problema relatando que quando estava pronto para fazer o filme, De Niro, Al Pacino e Pesci não mais poderiam interpretar seus personagens quando jovens apenas com o uso de maquiagem. Ao analisar o roteiro, Scorsese percebeu rapidamente que isso significaria gravar apenas metade do filme junto a De Niro, a outra metade teria de empregar algum outro ator mais jovem, então por quê fazê-lo?


Foi em Taiwan, durante as gravações de “Silêncio”, que o diretor foi abordado pelo especialista em efeitos visuais, Pablo Helman, com uma proposta um tanto quanto ambiciosa: fazer o uso extensivo de CGI (imagens geradas por computador) para um processo de rejuvenescimento dos atores. Ainda relutante, Scorsese afirmou que não gostaria que seus atores tivessem de atuar cheios de marcações em seus rotos – que facilitam o processo de renderização do CGI – pois aquele se tratava de um filme mais íntimo, onde o olho no olho de cada personagem era importante. Para então conseguir aplicar a técnica de rejuvenescimento por CGI sem marcações e de uma maneira que não interferiria nas atuações e na direção artística do filme, Pablo teve que construir a tecnologia do zero, e com anos de trabalho e desenvolvimento fomos finalmente apresentados ao seu exímio trabalho em O Irlandês.


GIF mostrando o rejuvenescimento por CGI de Joe Pesci em O Irlandês (The Irishman), da Netflix

A tecnologia que estamos falando aqui consiste no uso de não uma, mas três câmeras simultâneas que captam as ações dos atores em diferentes perspectivas, junto com o desenvolvimento de um novo software, chamado FLUX, para alterar cada uma das 1700 tomadas que precisaram de rejuvenescimento por CGI, e tudo isso sem o uso de animações, ou seja, o que você vê no filme não se trata de uma remodelação das expressões faciais dos atores, mas sim suas verdadeiras atuações alteradas de forma sistemática para um efeito perfeitamente natural.


A criação e utilização dessa nova tecnologia marca de alguma forma um pioneirismo em efeitos visuais para o cinema nessa nova década. Embora o rejuvenescimento por CGI não seja nenhuma novidade, essa é a primeira vez que fora utilizado de maneira não destrutiva, sem animações e com boa qualidade, o que garante a O Irlandês fortes chances de receber o Oscar de Melhor Efeitos Visuais esse ano.



Ainda sim, ter ultrapassado a barreira do tempo não é crédito exclusivo da equipe de efeitos visuais de O Irlandês, mas também de toda a equipe de design de produção, figurino, maquiagem e fotografia do filme. Foram no total 117 locações e mais de 20 sets construídos do zero. 120 atores principais e 6500 extras que tiveram seus figurinos elaborados para harmonizarem durante 5 décadas. Entre De Niro, Al Pacino e Pesci somente, foram 215 figurinos diferentes utilizados, e tudo isso sem que nenhum dos personagens acabasse se parecendo com o outro, cada um tem e carrega sua própria personalidade em suas vestimentas.


ilustração do design de figurino desenhado por Christopher Peterson e Sandy Powell em O Irlandês (The Irishman), da Netflix
ilustração do design de figurino desenhado por Christopher Peterson e Sandy Powell em O Irlandês

Já na fotografia do filme, encontramos a terceira colaboração de Scorsese com Rodrigo Prieto, que também filmou “O Lobo de Wall Street” e “Silêncio”. Prieto relata que utilizou de antigas fotografias de família para se inspirar no look que o filme deveria ter em diferentes épocas e decidiu, junto a Scorsese, fazer o uso de diferentes tecnologias em coloração para emular o efeito de cada década vista no filme.


diretor de fotografia Rodrigo Pietro no set de filmagens de O Irlandês (The Irishman), da Netflix
diretor de fotografia Rodrigo Pietro no set de filmagens de O Irlandês


SCORSESE E A ERA DA PÓS-MÁFIA


Depois de quatro filmes retratando a máfia nos Estados Unidos, seria fácil julgar O Irlandês como apenas mais um filme de Scorsese sobre mafiosos. Ainda sim, o que encontramos aqui trata-se de uma nova reflexão sobre o tema. Scorsese parece estar ainda mais investido agora de quando era mais jovem, e se preocupa em levar seu novo filme para uma direção completamente diferente das anteriores. Se antes estávamos acostumados a ver longas tomadas com movimentos mais opulentos e majestosos que glorificavam certas ações em seus filmes, em O Irlandês o diretor parece buscar uma direção mais centrada, sutil e contida. Isso tudo, claro, não é atoa. Levando em consideração a temática mais intimista de O Irlandês, que retrata temas como o tempo, memórias, escolhas e o arrependimento, Scorsese busca em seu olhar artístico uma nova visão sobre seus próprios filmes e trabalhos, trazendo assim uma nova perspectiva para o espectador e tornando seu mais novo filme sobre a máfia italiana em algo completamente único.


Martin Scorsese em O Irlandês (The Irishman), da Netflix
diretor Martin Scorsese no set de filmagens de O Irlandês

Não mais somos apresentados a mortes triunfantes com alguma música dos Rolling Stones tocando no fundo. Ao contrário, em O Irlandês todas as mortes são retratadas de maneira rápida, quieta e sem muita importância. Em um momento um personagem está vivo e andando e no outro ele recebe dois tiros, cai no chão, morre e logo já passamos para outra cena. Cada vez mais podemos perceber como o cineasta se preocupa sempre em trazer algo de novo aos seus filmes, adaptando-se em seu próprio olhar artístico. E com O Irlandês isso não poderia ser diferente.


Al Pacino, Martin Scorsese e Rodrigo Prieto no set de filmagens de O Irlandês (The Irishman), da Netflix
Al Pacino, Martin Scorsese e Rodrigo Prieto no set de filmagens de O Irlandês

Além dessa direção artística, Scorsese também recebe destaque por seus méritos mais técnicos, não apenas se disponibilizando a trabalhar com novas tecnologias arriscadas, como o rejuvenescimento por CGI, mas também em aceitar produzir um filme de grande magnitude junto a um estúdio completamente novo para ele, como é a Netflix. Isso tudo garante a Scorsese uma grande vantagem perante outros diretores também indicados ao Oscar deste ano e representa uma chance da Academia de se redimir com um cineasta que, apesar da notoriedade e contribuição gigantesca ao Cinema, recebeu apenas um Oscar entre outras doze indicações passadas.



UM ELENCO DE PESO

Harvey Keitel, Joe Pesci, Robert De Niro, Martin Scorsese e Al Pacino em O Irlandês (The Irishman), da Netflix
Harvey Keitel, Joe Pesci, Robert De Niro, Martin Scorsese e Al Pacino

De Niro, Al Pacino, Pesci. Reunir esses atores em uma única história sobre mafiosos parece um sonho distante de qualquer cinéfilo que se preze, mas é algo que tornou-se realidade em O Irlandês. E acredite, conseguir juntar os três atores principais em uma só produção foi mais desafiador do que se aparenta. Al Pacino e Scorsese nunca haviam trabalhados juntos e a última colaboração de Scorsese com De Niro e Pesci foi há 25 anos, em “Casino”. Algumas fontes reportaram que Pesci, já aposentado de sua longa carreira como ator, chegou a recusar seu papel em O Irlandês mais de cinquenta vezes, até que Scorsese e De Niro finalmente o convenceram a interpretar o mafioso Russell Bufalino, prometendo que este não seria um filme de gângsters como qualquer outro. E não é que valeu a pena? Joe Pesci conquistou o coração de muitos críticos com sua atuação mais contida e restrita em O Irlandês, e possui fortes chances de ganhar o Oscar como Melhor Ator Coadjuvante esse ano, o que seria o segundo Oscar na carreira do ator. Sem dúvida uma maneira memorável de concluir sua carreira, visto que Pesci realmente não pretende voltar mais às telonas depois de O Irlandês.


Russell Bufalino (Joe Pesci) e Frank Sheeran (Robert De Niro) em O Irlandês (The Irishman), da Netflix

Outra atuação que chamou a atenção dos membros da Academia é a de Al Pacino como Jimmy Hoffa, que se baseou em vídeos e áudios reais do líder sindical americano para compor seu papel. Al Pacino chegou a revelar que possuía no set de filmagens de O Irlandês diferentes áudios de Hoffa para ouvir antes de atuar em cada cena, sempre buscando emular sua intonação. O ator procura uma interpretação mista que é ora mais explosiva, ora mais contida em seus olhares ainda expressivos, trabalhando em um personagem que chega a funcionar até mesmo como alívio cômico em certos momentos do filme.


Al Pacino como Jimmy Hoffa em O Irlandês (The Irishman), da Netflix


A FORMA E O MEIO


O Objetivo final de Scorsese, como também relata a editora do filme Thelma Schoonmaker, era a construção de um filme mais quieto, sutil e realista em todos seus aspectos, algo que se aproximasse de um documentário, mas que tivesse o feeling de um filme narrativo. E considerando que a maioria das pessoas estariam assistindo o filme pelo serviço de streaming da Netflix, uma edição extremamente cuidadosa se mostrou necessária. Thelma e Scorsese refletiram juntos diversas maneiras de como o filme poderia ser assistido, considerando pausas, retornos e cortes feitos pelo espectador.


Jimmy Hoffa (Al Pacino) e Frank Sheeran (Robert De Niro) em O Irlandês (The Irishman), da Netflix

Scorsese, sendo um cineasta que entende o formato midiático do cinema como ninguém mais, é capaz de criar uma obra única, uma releitura de seu passado e de sua carreira que se conforma nos moldes de uma indústria em plena transformação. O que experienciamos no final é na verdade um comprometimento exclusivo de vários artistas para com uma história, independente de como ela seja assistida, criando uma experiência interativa entre o filme e aquele que o assiste.


O Irlandês representa, assim, uma obra de arte que vale tanto por sua história e vigor artístico, mas também como uma resposta prática para um meio saturado de filmes sem significado e produções que se tornam náufragas de si mesmas na era da transformação digital em que vivemos.


E você, o que achou de O Irlandês? Deixe seus comentários sobre o filme e suas apostas para o Oscar! Para ler a crítica de O Irlandês clique aqui.




 

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