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OSCAR 2020 - ERA UMA VEZ UM TARANTINO...

  • Writer: Ulisses MRF
    Ulisses MRF
  • Feb 9, 2020
  • 7 min read

Updated: Jun 4, 2020

Entre uma das razoáveis excentricidades do diretor americano Quentin Tarantino, está seu enunciado de que produzirá 10 filmes longa metragem em sua carreira como diretor. Ele, que já recebeu mais de 30 indicações ao OSCAR e levou para casa 5 estatuetas, é um dos diretores e roteiristas mais consagrados do cinema americano, tendo passado por diferentes gêneros e estilos, mas sempre deixando evidente sua marca de um filme “Written and Directed by Quentin Tarantino” (a usual abertura dos créditos de suas produções: Escrito e Dirigido por Quentin Tarantino). Seu nono filme é uma miscelânea de um pouco daquilo que ele já produziu: ficção histórica, comédia baseada em diálogos ácidos, suspense, apanhado de referências a diretores consagrados e violência escrachada. Era Uma Vez em… Hollywood (Once Upon a Time ...in Hollywood, 2019) é uma homenagem ao cinema e à época de ouro da indústria cinematográfica que mostra um outro lado do diretor explorando bastante a metalinguagem. O filme recebeu 10 indicações ao OSCAR 2019, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Roteiro Original.



A jornada de dois amigos no distrito mais famoso de Los Angeles é o plot principal: Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt). O primeiro é um consagrado ator dos filmes e séries de faroeste dos anos 1950, o segundo é seu dublê oficial, um veterano de guerra, motorista e faz tudo. A história se passa em 1969, quando as produções de faroeste que marcaram época já estão em decadência e surgem novos diretores, novas propostas e novas estrelas para o universo do cinema. Dalton faz parte desse mundo que progressivamente vai sendo desfeito ou mudando de localidade. Ele, que já estrelou grandes sucessos, como a famosa série Bounty Law, está relegado a gravação de pilotos de diferentes séries de ação onde interpreta os vilões que dão espaço às novas estrelas de Hollywood na figura dos mocinhos. Rick está em crise, é um ator que deseja ser levado a sério por suas qualidades de atuação em uma indústria que já está saturada de mocinhos e bandidos. Logo acaba perdendo espaço para seus vizinhos, Roman Polanski (interpretado por Rafał Zawierucha) e Sharon Tate (Margot Robbie). O diretor polonês e sua esposa, personagens reais e importantes na trama do filme, são a dupla ascendente em Hollywood naquele momento.



Cliff Booth, por sua vez, é o amigo leal que dirige para Dalton ao som dos clássicos da rádio de Los Angeles. É um veterano de guerra dito como mortal, correm boatos por toda Hollywood de que ele teria matado sua esposa a sangue frio, e ele desempenha muito bem a profissão de dublê para o que der e vier. Sua vida fora do trabalho é bem simples, assistir televisão em seu trailer estacionado nos fundos de um Drive-in depois de alimentar seu pitbull chamado Brandy.



A tela dividida entre DiCaprio e Pitt ganha toques de leveza quando o espectador acompanha Margot Robbie e o sorriso encantador de Sharon Tate. Ela circula pela Hollywood salpicada de hippies e dá o tom de homenagem à atriz: acompanhamos Tate assistindo seu próprio filme em um cinema. São Robbie e Tarantino sorrindo para a tela ao ver a atriz real em uma de suas mais destacadas atuações em “Arma Secreta contra Matt Helm” (The Wrecking Crew, 1968).


A história de Era Uma Vez em… Hollywood acompanha a crise de Dalton no universo da atuação e a saída que o produtor Marvin Schwarz (Al Pacino) lhe apresenta de ir gravar faroestes na Itália. O roteiro segue um dos movimentos que marcaram a carreira de diferentes atores reais que encontraram no bang-bang spaghetti uma saída de sucesso para seu trabalho. Enquanto isso, Cliff Booth explora o universo homenageado por Tarantino, apresenta os bastidores das produções da época, com direito a uma briga com Bruce Lee (interpretado por Mike Moh), roda por Los Angeles com seu carrão e dá carona para uma hippie da posterior conhecida Família Manson. Aos poucos o roteiro de Tarantino apresenta o universo desse conto, suas luzes, músicas, estúdios e sol quente. Os personagens aparecem tanto em momentos delicados e íntimos, quanto momentos profissionais e públicos.



Os conhecedores da história de Hollywood sabem que, ao envolver o casal Tate-Polanski, a Família Manson e Cielo Drive no ano de 1969, Tarantino está também anunciando o final trágico da era de ouro de Hollywood. Charles Manson, o lunático líder da seita e assassino serial interpretado por Damon Herriman, aparece em uma cena curta. Booth e Dalton acabam envolvidos na história do assassinato trágico de Tate, mas com toques de Tarantino que garantem surpresas e um final feliz para esse conto em Hollywood.



O roteiro é primoroso na apresentação de seus personagens e na ambientação deles no universo hollywoodiano. Os diálogos conseguem, a partir das situações colocadas, apresentar a história dos personagens (que em alguns casos são complementadas por cenas dos filmes que eles fizeram), além de seus interesses e inseguranças. É um roteiro que permite a Leonardo DiCaprio brilhar em uma atuação que substitui rapidamente as mais diferentes emoções. Quando Rick Dalton está interpretando um vilão de faroeste acompanhamos a lente do diretor do episódio dentro do filme. Rick é a tensão em pessoa quando vai ameaçando aos poucos o mocinho do episódio, mas também é a face do desespero e da insegurança quando esquece suas próprias falas na frente de todo o pessoal do set de filmagens. DiCaprio interpreta um ator que entra e sai do personagem que está sendo gravado em poucos minutos. Chora e comove o espectador em um diálogo com uma atriz mirim sobre os clichês da vida em Hollywood, a ascensão e queda. O filme nos apresenta um ator no auge de sua carreira lidando com a crise do envelhecimento e da substituição daqueles que fazem parte de seu universo. A indicação de DiCaprio para o prêmio de Melhor Ator Principal não é de se jogar fora, ele tem uma concorrência forte e um histórico de ser esnobado pela academia, mas esse ano já surpreendeu.



Brad Pitt foi indicado para o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, o que pode parecer um pouco estranho para alguns, uma vez que ele divide o filme inteiro com DiCaprio. Seus desafios são de outra ordem, a presença de Cliff Booth leva o roteiro em outra direção: é ele quem explora o envolvimento da Família Manson no Rancho Spahn. Essa é uma das cenas mais marcantes do filme, e Tarantino escolhe criar um suspense dentro de seu filme que leva o espectador a acreditar que o desfecho ali será como em suas outras produções: grandes pancadarias com sangue esguichando para todo lado. Entretanto, o diretor segura a onda e apresenta um desfecho inesperado para a investigação de Booth no rancho, uma conversa com um cego e surdo George Spahn (Bruce Dern). Pitt também pode ser considerado um certo alívio cômico aqui, o jeito simples do personagem e sua força são utilizados para contrapor a euforia e luxo do ator principal e real (pelo menos no filme) feito por DiCaprio.

A homenagem de Tarantino a Sharon Tate é evidente, mesmo assim, a presença de uma atriz como Margot Robbie é pouco explorada. Vemos Tate em situações comuns do dia a dia, dormindo, fazendo as malas, ouvindo música com amigos. É o tipo de vida comum que talvez a atriz real teve pouco ou foi pouco registrado em seu tempo de vida e que aqui Tarantino quer dar destaque. Entretanto, todo o conjunto do universo de Tate e Polanski, seus amigos, a relação entre eles e mesmo a tentativa de apresentar uma vida cotidiana fica no meio do caminho. O verdadeiro Polanski é uma das figuras mais polêmicas de Hollywood até hoje, colocá-lo mais em cena poderia ser perigoso, e esse não era o objetivo do diretor, mas dessa forma Sharon Tate acaba como um sorriso bonito de Hollywood, que para aqueles que desconhecem a vida profissional da atriz pode não fazer muito sentido.


Do ponto de vista técnico o filme é exemplar. A seleção das músicas, tanto diegéticas quando adiegéticas, tem uma finalidade clara que é bem executada: apresentar esse universo e seus personagens assim como criar diferentes sensações a cada momento: euforia da fama e dos paparazzis, suspense de investigações e o clima de empolgação de Hollywood, por exemplo. A fotografia também é muito destacável, a luminosidade marca os diferentes momentos da trama, o sol forte e amarelo dos momentos de emoção e os tons escuros e frios do suspense e da cena final de violência. Há um grande destaque para a vida noturna de Los Angeles e seus clássicos anúncios neon. O figurino e a maquiagem também são muito bons, dão expressão aos personagens e marcam o momento de transição dos anos 1960 com sua pompa, lisura e cabelos com brilhantina para os anos 1970 com seus rasgos, sobreposições e cabelos longos e emaranhados.



Era Uma Vez em… Hollywood é um filme longo que prende o espectador e o coloca em um universo recortado de um momento histórico e apresentado com grande glória, ainda que com seus efeitos colaterais. É possível sentir a emoção que Tarantino tem ao escrever e dirigir algo sobre esse tempo e espaço, que com toda certeza o formou como cinéfilo e cineasta. Por tudo isso, o filme é um certo ponto de virada na carreira do diretor. Tal qual o universo de Hollywood, que também muda e deixa de produzir algumas coisas durante algum tempo para voltar com novos retoques dali a alguns anos, esse filme não é a sátira aos filmes de violência ou a elaboração de tensão por meio de diálogos rápidos com o escape pela violência que marcam os outros filmes do diretor. Ao realizar uma homenagem a um momento histórico, Tarantino se permite ser mais tranquilo, explorar com seu exímio perfeccionismo e sua riqueza de referências alguns estilos diferentes. Não aparecem seus característicos capítulos e as reviravoltas inesperadas, mas ele está lá. É um filme Quentin Tarantino, um nono filme que consolida uma carreira que já produziu de tudo, e que em 2019 entrega uma obra de arte diferente.



 

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