A TENSÃO E O SUSPENSE DE DARREN ARONOFSKY
- Luís Henrique Franco
- Sep 23, 2017
- 7 min read

Presente no universo Hollywoodiano desde o final da década de 90, o produtor e diretor nova-iorquino Darren Aronofsky é um dos nomes que sempre chamam a atenção no mundo cinematográfico, com filmes sempre chocantes e com uma tonalidade tensa, que muitas vezes deixam o telespectador confuso sobre suas intenções, gerando tanto aplausos como controvérsias em seus filmes, todos com um toque de surreal e de espantoso.
Em 2017, o diretor retorna com o seu polêmico longa Mãe! (Mother), que conta com as atuações de Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris e Michelle Pfeiffer. O filme, cujo roteiro o diretor afirma ter escrito em apenas cinco dias, promete surpreender o público com uma história surpreendente e impactante, focada em um casal (Lawrence e Bardem) que almejam começar uma nova vida, mas que têm a tranquilidade de seu lar interrompida quando visitantes inesperados chegam ao local. Diante de suas outras produções, Aronofsky já mostrou que não se pode saber o que esperar dele, e a promessa do choque é sempre uma constante quando falamos desse diretor.
INFÂNCIA DE UM ARTISTA
Nascido em 12 de fevereiro de 1969, Aronofsky passou sua infância no Brooklyn, bairro onde nasceu. Um artista desde seus primeiros anos, costumava pintar artes de grafite nos carros do metrô e de fazer pequenas montagens na Times Square. Também era um grande amante de filmes clássicos.
Aluno da escola pública, foi para Harvard após terminar o ensino médio. Lá, cursou cinema e antropologia social. Foi lá que ele conheceu Sean Gullette, ator e escritor que participaria em suas primeiras produções. Cursou tanto o cinema em live-action quanto a animação, antes de entrar para o American Film Institute para cursar Direção.
Seu primeiro filme, Supermarket Sweep, produzido junto com Gullette, foi produzido como parte de sua tese sénior e recebeu diversos prêmios cinematográficos, chegando inclusive a se tornar um dos finalistas do National Student Academy Award. O filme lhe rendeu grande reconhecimento e pavimentou sua ascensão entre os grandes diretores de Hollywood.
CHEGADA AO UNIVERSO DOS CINEMAS
Seu filme de estreia foi o suspense Pi (Pi), de 1998, que contou novamente com a atuação de Sean Gullette. Financiado em parte por doações de cem dólares vindas de amigos e parentes, e contando com um orçamento inicial de 60.000 dólares, o filme narra a história de um gênio da matemática (Gullette) que constrói um supercomputador capaz de fornecer um número que poderia ser a chave para toda a existência conhecida. Essa descoberta atrai o interesse de um cabalista e de uma firma poderosa de Wall Street, interessados em usar a descoberta em benefício próprio.

O filme chega a ser estonteante, tendo influências outras histórias como Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick, Brazil, de Terry Gilliam, as histórias do escritor Philip K. Dick e a teoria do caos. O filme rendeu a Aronofsky o prêmio de Melhor Diretor no Sundance Festival. A produção foi comprada pela empresa Artisan, cada um dos contribuintes que realizou doações para a produção do filme recebeu 150 dólares de retorno.
Seguindo com sua carreira, Aronofsky produziu o intenso Requiém Para Um Sonho (Requiem For A Dream, 2000), uma perturbadora história sobre quatro viciados em droga que sonham, cada um, com seu próprio universo utópico por conta do efeito das substâncias, todas extremamente prejudiciais para a saúde mental dos personagens.
Presos em suas próprias realidades, cada um deles vive um sonho próprio: Sara (Ellen Burstyn) deseja participar de seu programa de TV favorito e perder peso o mais rápido possível, o que a faz ingerir os remédios que causam seu vício; seu filho, Harry (Jared Leto), e o colega dele, Tyrone (Marlon Wayans), estão afundados em um vício em drogas e desejam se tornar grandes traficantes; a namorada de Harry, Marion (Jennifer Connelly) foi afastada de seu sonho de ser uma designer da moda ao entrar no mesmo vício dos homens. A fantasia de todos, no entanto, é destruída conforme seus vícios vão se tornando piores, demandando um consumo cada vez maior e que não pode ser mantido pelos personagens.
Baseado na novela de mesmo nome de Hubert Selby, o filme foi extremamente bem recebido pela crítica, que reconheceu o grande trabalho do estilo de direção de Aronofsky. Ellen Burstyn foi indicada ao Oscar por seu papel, além de receber indicações para o Globo de Ouro e para o SAG Awards.
QUEDA E RECUPERAÇÃO
Depois de dois grandes sucessos, Aronofsky voltou a dirigir um filme em 2006, quando lançou Fonte Da Vida (The Fountain, 2006). A trama é dividida em três histórias diferentes, ocorrendo em tempos diferentes. Os personagens centrais são um conquistador no território maia, um cientista e um explorador espacial (os três interpretados por Hugh Jackman). Todos eles, porém, buscam a mesma coisa: imortalidade e a vida junto ao lado de quem amam. Essa busca é o que une as três histórias (mesmo que o objeto de busca assuma formas diferentes, como uma árvore, a cura para o câncer, etc.), mas seu resultado é diferente em cada caso, podendo ser bem-sucedida ou fracassada, causando um novo paralelo entre as histórias.

Fonte da Vida acabou por se tornar um filme bastante confuso e que dividiu o público, sendo mal recebido pela crítica. Boa parte desse retorno negativo pode ser considerado como uma consequência das altas expectativas criadas para a produção, que abordou um tema místico e de mudança de realidade que na época foi muito confuso para quem o assistiu.
Em 2008, porém, Aronofsky retornou ao estrelato ao produzir o filme de baixo orçamento O Lutador (The Wrestler), que conta a história de um velho lutador (interpretado por Mickey Rourke) que, já muito velho e fora de forma e mal podendo se manter com as poucas lutas das quais participa, se vê forçado a deixar de lutar por causa de problemas de saúde. Fora dos ringues, ele tenta seguir em frente na vida, trabalhando em uma doceria, tentando se reconciliar com a filha que ele abandonou (Evan Rachel Wood) e alimentando uma relação amorosa com uma stripper (Marisa Tomei), mas seu cotidiano se torna uma luta constante, principalmente após o surgimento de uma proposta grandiosa de retorno aos ringues, que ele luta para ignorar.
O Lutador foi um marco na carreira do diretor e revigorou a carreira de Mickey Rourke, que foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e faturou o Globo de Ouro e um BAFTA por seu papel. A atriz Marisa Tomei também foi indicada nas premiações do Oscar e do Globo de Ouro, e o cantor Bruce Springsteen faturou o Globo de Melhor Canção Original por seu trabalho no filme.
Dois anos depois, Aronofsky voltou a fazer sucesso com o surpreendente Cisne Negro (Black Swan, 2010), filme que narra a trajetória da bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) enquanto luta para conseguir e se manter no papel principal da peça O Lago dos Cisnes. O filme possui um ar de suspense e permanece tenso durante toda a sua narrativa, enquanto mostra a dificuldade dos ensaios e das cobranças no universo do teatro, onde cada pequeno erro pode comprometer uma peça inteira. Nesse universo de intensa cobrança, tanto pessoal quanto de seu diretor (Vincent Cassel), Nina luta para alcançar a perfeição, ao mesmo passo em que caminha para o delírio e a paranóia de sua própria cobrança. Enquanto procura fazer o papel perfeito, ela chega a perder a consciência de si mesma e tornar-se o personagem que ela tanto visa alcançar.
Cisne Negro é talvez a maior obra do diretor e seu filme mais consagrado, tendo concorrido Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Foi também o filme que rendeu a Natalie Portman seu prêmio de Melhor Atriz em um papel que é belo e, ao mesmo tempo, angustiante.
ANOS ATUAIS: A LUTA PARA SE MANTER NO TOPO
Desde o sucesso de Cisne Negro, Aronofsky não teve muitos outros sucessos, trabalhando em alguns curtas para a televisão e filmes que não foram tão bem recebidos. A produção seguinte à de 2010 foi o filme Noé (Noah, 2014), que tentou dar um ar mais fantástico e surpreendente à famosa história bíblica.
Apesar de possuir em seu elenco a dupla formada por Russell Crowe e Jennifer Connelly (que haviam feito sucesso juntos no filme Uma Mente Brilhante, de 2001) e os atores Anthony Hopkins e Emma Watson, o filme não agradou muito e acabou dando à história um ar de filme de ação e aventura. Ao mesmo tempo em que tenta parecer mais realista do que outras adaptações bíblicas anteriores, não apelando para o caráter megalomaníaco que elas costumavam ter e abordando temáticas mais científicas dentro de si, o filme apresenta uma história repleta de um misticismo que, apesar de essencial para uma história como essa, acaba por se chocar com o tom mais realista que se vinha seguindo. Mesmo com uma boa ideia de unir o conhecimento científico à religião, Noé acabou decepcionando muitos espectadores.
Em 2016, Aronofsky atuou também como o produtor do filme Jackie, que o fez trabalhar novamente com a atriz Natalie Portman para narrar a história da mulher do presidente John F. Kennedy e a polêmica entrevista dada por ela, dias após o assassinato do marido. Apesar de não dirigir esse filme, Aronofsky foi seu produtor, ajudando a narrar uma história tocante de uma personagem que, apesar de importante para todo o acontecimento, acaba sempre sendo colocada um pouco nos bastidores de toda a história. A atuação de Natalie Portman lhe rendeu mais uma Indicação ao Oscar, apesar de ela não ter conseguido vencê-lo. Apesar de tocante, o filme não foi muito comentado pelo público e não surpreendeu de uma maneira geral.
O diretor só retornou a dirigir um filme em 2017, lançando o filme Mãe!, sua nova obra que tem despertado bastante interesse do público e arrecadou boas notas com a crítica. Muitas pessoas que o assistiram, porém, não gostaram do resultado, que já foi dito como um filme confuso e chocante por muitos. E você, qual a sua opinião sobre essa nova produção? Deixe nos comentários!

Para mais conteúdo como este, inscreva-se na Flit Studios: www.youtube.com.br/flitstudios