BLADE RUNNER - UMA VISÃO DE FUTURO
- Ulisses MRF
- Oct 6, 2017
- 4 min read
Updated: May 23, 2019

Carros voadores, telões gigantescos em avenidas aéreas, luzes neon por toda a cidade, chuvas constantes, bolas de fogo explodindo nos céus, uma infinidade de coisas feitas de plástico, pirâmides gigantescas sedes de grupos corporativos que dominam a vida da população e produzem robôs para tomar o papel de seres humanos em atividades insalubres. Caso você junte essa descrição com uma história policial, tiros e um romance, você terá a receita perfeita para um grande sucesso de ficção científica: Blade Runner - O Caçador de Andróides, de 1982, dirigido por Ridley Scott e com direito a Harrison Ford e Rutger Hauer no elenco principal.
O filme, baseado indiretamente no romance “Do Androids Dream of Electric Sheep?” (Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas?), de Philip K. Dick, tem um plot de investigação policial em uma futurista Los Angeles de um mundo globalizado, frio, triste, decadente e desanimador. As bolas de fogo no céu são uma constante dos planos abertos da cidade e os carros voadores ainda criam congestionamentos. A presença dos andróides, os Replicantes, clones humanos criados para atividades básicas e insalubres, como explorar minas e colonizar outros planetas, ajuda a desenvolver o tema central do filme de questionamento das grandes preocupações humanas sobre a morte e o sentido da vida.

Toda essa construção do futuro ficcional de Blade Runner funciona para dar sentido a essa trama rica em ironia e simbologias, muito ligada aos temas de filme de investigação policial e cultura cyberpunk, o longa ganha um caráter de filme cult quando parte para debates filosóficos de maneira suave e coerente. Entretanto, é exatamente esse futuro ficcional criado nas telas que interessa mais neste artigo: Blade Runner não traz uma imagem nem um pouco otimista do futuro da espécie humana!
A começar pelo ambiente produzido para o filme. Alta tecnologia presente nas ruas, mas com um preço a ser pago: destruição ambiental e super-urbanização. Espécies animais foram extintas na Terra e são clonadas para atividades próprias como alimentação e entretenimento. O ar parece pesado e as fortes chuvas, aliadas a uma escuridão da noite em grande parte do filme, contribuem para criar uma aura de angústia. As luzes fortes e piscantes da cidade iluminam uma sociedade com quase nenhuma empatia entre seus membros. O contraste entre construções super modernas e desenvolvidas com acúmulo de lixo pelas ruas e gangues infanto-juvenis mostra como a humanidade não consegue solucionar problemas básicos das cidades.

O livro de Philip K. Dick foi publicado em 1968 e 14 anos o separam da estréia do filme nas telas. Com toda certeza ambos compartilham visões de mundo muito similares, baseados na realidade do momento de um mundo dividido entre duas potências em uma constante tensão nuclear acaba. avanços na tecnologia mais rápidos do que é possível assimilar. O homem chegando ao espaço e à Lua. O surgimento das primeiras crises ambientais. Crescente urbanização descontrolada acompanhada de crises urbanas de saneamento. Crescimento de um movimento em favor da globalização e da mistura de diversas culturas. Tudo isso estava presente na época de Dick e Ridley Scott e influenciam na construção que ambos fazem do futuro. Naquele momento não era difícil imaginar que o mundo seria uma desolação destruída por bombas nucleares ou que grandes indústrias controlariam a vida das pessoas. Com os avanços em estudos biológicos e tecnológicos seria possível dali a alguns anos criar clones, como realmente aconteceu nos anos 1990.
A visão de mundo criada pelos dois, inclusive, é parte de uma cultura dos filmes de ficção científica da época, que analisavam o futuro da sociedade e viam graves problemas ambientais, sociais e de produção associados ao grande desenvolvimento da tecnologia. O escritor Isaac Asimov e o diretor James Cameron produziram, assim como Dick, um universo onde máquinas e andróides se tornam iguais ou até mesmo superiores aos humanos. Tanto no clássico Eu, Robô quanto em O Exterminador do Futuro, a ideia básica também presente em Blade Runner é a premissa de que, um dia, o que foi criado pelo homem irá se tornar mais poderoso do que ele e, consequentemente, lutará para assumir seu lugar. Robôs, Replicantes e ciborgues da Skynet compartilham em comum a ideia de terem se tornado tão superiores a ponto de começarem a constituir uma ameaça a seus próprios criadores.

Com relação à destruição do ambiente pela tecnologia, muitos outros filmes fazem menção a essa previsão apocalíptica de diversas maneiras. Sucessos como O Vingador do Futuro, de Paul Verhoeven, mostram um cenário onde a população da Terra se tornou tão grande que forçou muitos a colonizarem Marte, onde a situação de vida da maioria é degradante e péssima a ponto de levar muitos a se organizarem em uma rebelião. Já a saga de sucesso de George Miller, Mad Max, mostra um conflito por água e gasolina que resulta em um cenário onde o mundo foi completamente destruído e controlado por gangues de pilotos e motoqueiros que comandam segundo a lei do mais forte.
Para quem assiste se faz necessário entender que as previsões para o futuro partem do imaginário do presente das sociedades. Ou seja, só é possível imaginar que esse futuro é possível porque nas experiências tidas até então por essa sociedade aquela possibilidade existe. E essa possibilidade expressa por Ridley Scott de maneira tão visual e coerente com a temática do filme é uma aposta muito alta que hoje sabemos que não irá se concretizar tão cedo.
O filme (novamente repetindo) que estreou em 1982, aposta que em 2019 os acontecimentos seriam tão alarmantes e a presença dos Replicantes seria tão intensa que seria difícil separá-los dos seres humanos. Hoje, em 2017, sabemos que nem carros voadores, nem culturas completamente globalizadas temos. O medo da guerra nuclear volta a tona com um novo rosto, mas uma das poucas certeza é que Hollywood já garantiu Blade Runner 2049 para estrear dia 5 de Outubro no Brasil.
Na onda dos remakes/reboots que tem tomado conta das séries clássicas dos ano 1980 e 1990, o filme traz de volta Harrison Ford como o detetive Deckard, mas atualiza seu elenco e sua trama com a presença de Ryan Gosling e Jared Leto. A pegada de um mundo decadente aparece no trailer como você conferir aqui embaixo.
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