A PERSONALIDADE DE ELIO - ME CHAME PELO SEU NOME
- Ulisses MRF
- Jan 18, 2018
- 4 min read
Updated: May 23, 2019
ATENÇÃO: ESSE TEXTO PODE CONTER SPOILERS DO FILME
O filme “Me Chame pelo seu Nome (Call Me By Your Name)", dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, que estréia no Brasil em 18 de Janeiro de 2018, conta a história de um amor de verão. Um amor entre o adolescente Elio e o acadêmico Oliver, que acontece no ano de 1982 em algum lugar no norte da Itália. Uma descrição genérica dessas esconde um dos filmes mais bonitos e tocantes dos últimos tempos.

Elio é filho de um professor universitário que recebe, durante o verão, um aluno para conviver com a família em sua casa de campo enquanto desenvolvem seus trabalhos acadêmicos. São conversas sobre filosofia, arqueologia, história e literatura que acontecem sob o sol forte do verão italiano entre passeios de bicicleta, natação em rios e lagos e caminhadas pelos pomares. Crescendo em um ambiente acadêmico, Elio, interpretado de maneira surpreendente pelo jovem Timothée Chalamet, fala francês, italiano e inglês, passa seu tempo transcrevendo música clássica, tocando piano e dançando com os amigos em festas da cidade. Também tem uma forte ligação com os pais, em quem pode confiar seus sentimentos e desejos.

Oliver, interpretado por Armie Hammer, é visto durante todo o filme pela perspectiva do jovem Elio. É um acadêmico confiante sobre o que fala e como fala, é ousado e, quando colocado na paisagem da pequena cidade italiana de interior, logo se destaca por sua beleza, seu estilo e seu sorriso. Os dois embarcam em um profundo amor de autoconhecimento e amadurecimento, mas que está fadado a ter um fim enérgico e abrupto. O verão acaba e ambos se separam arrependidos de não terem aberto seus corações mais rapidamente.
Baseado no livro de mesmo nome de André Aciman, “Me Chame pelo seu Nome” é um filme sobre escolhas, sobre entregas e sobre viver cada momento da vida da forma como ele realmente é: único e marcante!

O trailer do filme já entrega um elemento muito importante para a construção do personagem Elio: sua posição de adolescente que está descobrindo seus próprios sentimentos, medos e prazeres, mas que ao mesmo tempo sabe que tem um poder intelectual acima do normal.
Oliver: Há alguma coisa que você não saiba?
Elio: Se você soubesse o pouco que eu sei sobre as coisas que importam...
A casa abarrotada de livros, as constantes referências à literatura francesa, alemã e italiana, as diferentes formas de interpretar Bach, os momentos fazendo transcrições de música clássica, às visitas aos campos arqueológicos de trabalho do pai. O espectador é colocado face a um adolescente que parece seguro do que faz e do que diz, assim como Oliver. As discussões sobre a filosofia de Heráclito enriquecem a aura de Elio como uma pessoa conhecedora das intempéries da vida humana e de sua fugacidade.
Entretanto, quando o amor surge entre os dois, quando Elio passa a se preocupar com Oliver, onde ele está, quanto tempo falta para se encontrarem, com quem ele está, quanto tempo falta para o fim do verão. É aí que surge a surpresa do filme, o contraste que enriquece a relação de ambos. Elio torna-se inseguro, tenta chamar a atenção de Oliver. fica frustrado quando não consegue ou não sabe o que fazer, mas acima de tudo, fica com o coração profundamente partido quando o amor de verão acaba.

Explorar essa dicotomia, razão x emoção, na personagem de Elio parece até simples. Ele se rende ao amor por Oliver, mesmo com o medo do julgamento dos outros e a insegurança sobre seus sentimentos divididos entre Oliver e a amiga Marzia. O roteiro, ao colocar esse problema, busca soluções que caminham em direção ao clichê, mas mesmo dentro do esperado subvertem a essência. Ambos vivem o amor de verão, “intenso enquanto durou”, quente e forte como os raios de sol, jovem e cheio de energia, mas ao mesmo tempo lento e contemplativo como aquele que tenta aproveitar cada momento. Ficam juntos sabendo de tudo o que fizeram um pelo outro e lembrando de tudo o que disseram um para o outro e sentindo medo da separação.
É quando Oliver parte, com o fim do verão, que Elio (em uma cena marcante com o ator Michael Stuhlbarg, que interpreta seu pai) entende e absorve aquilo que viveu. É então que ele faz a síntese de tudo o que passou por sua cabeça e seu corpo durante esses dias. Elio entende e concilia seus dois lados em conflito antes de se entregar a Oliver, abraça o medo que sentiu de sofrer com a separação e entende a essência da vida e de seus momentos únicos. É o sinal de seu amadurecimento, a tristeza existe, mas não existe a frustração ou a angústia que a criança Elio teria. O fechamento do filme deixa isso claro quando no rosto jovem de Chalamet é possível divisar as lágrimas nos olhos, o olhar pensativo e a boca curvada entre o sorriso e a tristeza ao contemplar a lareira, quente enquanto queima. Como um amor de verão o encontro dos dois marca um acontecimento para a vida, como todo encontro deve ser, e é: irrepetível e profundo ao marcar todas as possibilidades que o momento seguinte permite.
“Me Chame pelo seu Nome” é um filme sobre um amor de verão, é um filme sobre amadurecimento, sobre encontros e momentos únicos entre pessoas. É um filme lindo, com uma fotografia belíssima que trabalha criando o ambiente de verão ensolarado e entorpecedor. A trilha sonora merece atenção por refletir a relação entre duas pessoas que se gostam e se desejam, mas que sabem aproveitar a simples companhia um do outro. Um filme que merece ser visto no cinema e marcado como um dos possíveis competidores na corrida do Oscar 2018.

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