ESPECIAL OSCAR - MELHOR ATOR COADJUVANTE
- Luís Henrique Franco
- Feb 27, 2018
- 6 min read

O Oscar de Melhor Ator Coadjuvante premia aqueles atores que, não ocupando o papel de protagonistas de seus filmes, conseguiram se destacar quase tanto quanto os principais e assumiram funções extremamente essenciais nos enredos do qual fizeram parte. Em 2018, os indicados ao prêmio são Sam Rockwell, Woody Harrelson, Christopher Plummer, Willem Dafoe e Richard Jenkins.
SAM ROCKWELL - TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME

Depois de vencer o Globo de ouro, o Bafta e o SAG awards, o americano Sam Rockwell confirmou o favoritismo ao prêmio de ator coadjuvante. Não por menos, seu papel destaca-se como um dos mais interessantes em um filme cuja principal virtude é justamente o elenco.
Rockwell interpreta Dixon, um policial racista e violento, mas ao mesmo tempo dono de comportamentos infantis: a mesma figura envolvida em um suposto escândalo de tortura de prisioneiros negros é visto, em muitas partes do filme, absorto na leitura de uma história em quadrinhos, mesmo que a situação ao seu entorno seja caótica. Além do mais, não importa quão durão seja, basta que alguém levante o fato dele ser um homem adulto que ainda mora com a mãe para o pôr desconcertado.
No entanto, se as primeiras impressões transmitidas ao público pelo personagem são de desprezo, ao longo do filme, Dixon passa por um impressionante e, sem dúvida, um dos melhores arcos narrativos dos últimos tempos; dessa forma, é louvável a maneira com a qual Rockwell acompanha as diferentes posturas do personagem ao longo da narrativa, sem perder seu jeito “Dixon” tão essencial, sendo genuíno, mas sem despencar à caricatura e transmitindo ao público até dimensões psicológicas do personagem. Seu maior trunfo não está em compor uma figura que se ame ou odeie, mas alguém que temos a chance de entender.
WOODY HARRELSON - TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME

Por seu papel em Três anúncios para um crime, em que interpreta o chefe de polícia Willouby, o veterano Woody Harrelson recebeu sua terceira indicação ao Oscar, sendo as outras duas em 1996 por O povo contra Larry Flint e em 2010 por O mensageiro. Assim como o papel de Rockwell, Harrelson atinge uma complexidade psicológica impressionante. Por mais que certas atitudes suas sejam questionáveis (a todos os efeitos é a única pedra no caminho de Mildred para a justiça), é muito difícil não nutrir uma certa afeição por seu personagem: não vemos apenas a faceta conservadora do policial em Willouby, mas um amoroso pai de família e também um homem que sabe estar vivendo seus últimos dias, pois luta sem sucesso contra um câncer que corrói seu pâncreas.
Na verdade, esse talvez seja o maior mérito de todo o filme: apresenta personagens que se tornam verdadeiros justamente por serem complexos. Há nuances de caráter suficientes para serem trabalhados pelo elenco, justamente o tipo de coisa que, nas mãos de bons atores, dá origem a interpretações excepcionais.
Sem qualquer dúvida, Harrelson faz isso bem, pois consegue que as sensações referentes a seu personagem sejam, ao mesmo tempo, de raiva, pena e ternura.
No entanto, dificilmente sua atuação conseguirá superar o trabalho de seu colega de elenco, Sam Rockwell, que acaba tendo muito mais o que trabalhar ao longo do filme.
CHRISTOPHER PLUMMER - TODO O DINHEIRO DO MUNDO
Por Luís Henrique Franco

O novo filme do diretor Ridley Scott narra os eventos reais acontecidos durante o ano de 1973, quando o neto do bilionário J. Paul Getty foi sequestrado em Roma e seu avô, provavelmente o homem mais rico da época, gerou uma grande polêmica ao se recusar a pagar o resgate. Na trama, acompanhamos o lado da mãe do sequestrado, Gail (interpretada por Michelle Williams) e sua tentativa de libertar seu filho sem que ele saia ferido. Vivendo o poderoso magnata e bilionário, está Christopher Plummer, substituto do afastado Kevin Spacey. Em um filme que não é nem de longe o melhor do diretor, a atuação de Plummer é talvez o ponto mais marcante. Mesmo sendo um coadjuvante, sua presença na história, tanto em quesitos do seu personagem quanto de sua atuação, é forte a ponto de ele se tornar onipresente durante toda a narrativa. Frio, fechado, fácil para cortar laços e duro com todos que o cercam, o Getty de Plummer é um negociador habilidoso e um pesadelo tanto para os sequestradores quanto para sua nora. A frieza nunca abandona seu rosto e tudo o que ele faz ou fala são ações e palavras de um homem que sabe barganhar pelo melhor preço e não para até o conseguir.
O filme em si pouco surpreende, ficando preso em um vai e vem entre a situação dos sequestradores e as tentativas de Gail de convencer Getty a pagar o resgate, não parecendo evoluir muito com o passar do tempo e tornando-se bem cansativo. Apesar de não segurar a trama, a atuação de Plummer é muito bem realizada e dá ao personagem uma característica marcante que o faz onipresente, volta todos os pensamentos e ações para ele e faz de seu personagem um dos protagonistas da trama. Ainda assim, não é o bastante.
WILLEM DAFOE - PROJETO FLÓRIDA

Poucos filmes sabem ser tão sutis e ao mesmo tempo tão impactantes em sua mensagem como Projeto Flórida. Em linhas gerais, o filme acompanha a vida de uma menina e sua mãe, que vivem em um Project, um tipo de residência comum nos Estados Unidos, onde pessoas que não tem condições de pagar o aluguel de uma casa, por exemplo, recorrem para não ter de ir morar na rua. A partir da perspectiva da menina e dos amigos (na sucessão de brincadeiras das crianças ao longo de uma Flórida dividida entre o luxo, o consumismo e a pobreza), o cineasta Sean Baker traça uma contundente crítica aos Estados Unidos dos dias de hoje.
Com um elenco formado principalmente por atores desconhecidos – o que dá, muitas vezes, um ar documental ao filme – Dafoe é a figura que mais destoa em meio ao grupo. É um dos rostos mais conhecidos do cinema americano contemporâneo, afinal.
Mesmo assim, consegue passar bastante verossimilhança em seu papel, tornando-se tão real quanto as pessoas que vivem no predinho rosado.
Dafoe interpreta o zelador do Project, função que lhe exige ser duro às vezes – como quando precisa expulsar inquilinos inadimplentes ou dar bronca nas crianças por suas trapalhadas –, mesmo que seja uma figura carinhosa e sensível ao drama de todas aquelas pessoas. É um homem cujos principais gestos estão contidos num olhar, num comportamento atencioso ou um simples menear de cabeça, ao perceber que nada pode fazer para ajudar alguém. É um papel sensível em um filme sensível, que sem dúvida alguma merecia ter ganho mais destaque nessa premiação.
RICHARD JENKINS - A FORMA DA ÁGUA

Em A forma da água, Richard Jenkins interpreta Giles, um artista de meia idade que luta para conseguir vender suas pinturas em um mundo cada vez mais dominado pela fotografia, ao mesmo tempo em que sofre silencioso a impossibilidade de seu amor, pois é homossexual em um mundo em que pessoas como ele não tem o direito de serem felizes.
Assim como o papel de Octavia Spencer, Jenkins é um dos principais aliados da faxineira Elisa Esposito (Sally Hawkins) sendo, em muitos momentos, sua voz, e um outro canal para transmitir suas emoções.
Além disso, Giles também é o narrador da inusitada fábula de Guillermo Del Toro. Logo no início do filme o público é guiado ao interior da narrativa pela voz calma de Jenkins, introduzindo-nos em um mundo de monstros e princesas. Mas muito mais do que um auxílio as emoções da protagonista, seu personagem tem suas próprias questões, medos, desejos e fracassos. E é muito interessante a forma com que Jenkins transita entre os diferentes sentimentos do personagem, partindo muitas vezes, da alegria à tristeza e, de lá, à coragem.
No entanto, é muito difícil que o ator leve o prêmio esse ano. Mesmo sendo uma figura carismática dentro do filme, seu papel no decorrer da obra é pequeno. É um apoio às decisões de Elisa e também um alívio cômico. Mas que fique a indicação como uma excelente menção honrosa.
E O OSCAR VAI PARA...
Sam Rockwell. Além de ter ganho os principais termômetros para o Oscar, Rockwell tem de longe o melhor papel: não é apenas uma figura auxiliar à sua narrativa, mas essencial a ela.
Essas foram as nossas análises e apostas para o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. E você? Quem você acha que deve ganhar? Deixe nos comentários!
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