ESPECIAL OSCAR - A DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA NO OSCAR 2018
- Luís Henrique Franco
- Feb 28, 2018
- 4 min read

A categoria "Melhor direção de fotografia" é uma premiação que existe desde 1929. A categoria aclama o filme cuja fotografia se destaca, através de paleta de cores, movimentos de câmera, tipos de planos, iluminação, sombras, enquadramentos, profundidade de campo, etc, e como todos esses elementos colaboram na construção da narrativa, seja buscando maior expressividade estética, seja buscando a clareza e objetividade das imagens de acordo com a proposta do filme. São muitos os detalhes que contribuem na composição da fotografia de um filme, destacamos alguns que chamam maior atenção nos filmes concorrentes ao Oscar na categoria.
1. A FORMA DA ÁGUA
Direção de fotografia: Dan Lautsen

A fotografia de "A forma da água", se vale em sua maioria de cores frias, essencialmente tons verdes e azuis, com algumas pontuações de alaranjados e marrons (que também constitui grande trabalho da direção de arte). Há um predomínio de sombras e por isso alto contraste entre claro e escuro, o que contribui para construir o ambiente misterioso e fantástico de Del Toro. A câmera quase nunca fica fixa, mesmo quando um enquadramento parece consolidado, a câmera se desloca em movimentos lentos e suaves, atribuindo uma visão contemplativa à narrativa. Hora a câmera se aproxima, hora se afasta dos personagens, permitindo que algum elemento se torne destaque ou deixe de se destacar dando lugar à outro mais importante. A fotografia permanece numa estética contínua do começo ao fim do filme, sem variação entre cenas.
Nota: 8,5
Pontos altos da fotografia: movimentos da câmera


2. O DESTINO DE UMA NAÇÃO
Direção de fotografia: Bruno Delbonnel

A fotografia preza muito pelo uso de sombras e alto contraste. Feixes de luz atravessam as janelas, claraboias, portas, criando silhuetas, sombras duras e contra-luz e também servem para dar destaque a determinado personagem. Há um predomínio de cores escuras com pouca saturação, dando a impressão em certos momentos de que a cena esta em preto e branco, como nas cenas que ocorrem no parlamento. Entretanto, há uma sequência que segue uma lógica completamente inversa à essa, em que todo o ambiente se torna alaranjado e muito saturado. Existem alguns planos-detalhes que quando colocados numa sequência de jump-cuts, demonstram grande potencial narrativo e estilístico. Os movimentos de câmera são utilizado sabiamente e por vezes até surpreendendo como na cena inicial que utiliza um travelling saindo de um enquadramento zenital (de cima para baixo). A fotografia do filme todo trabalha a fim de construir a atmosfera sóbria e nobre de "O destino de uma nação".
Nota: 9
Pontos altos: sombras e feixes de luz


3. BLADE RUNNER 2049
Direção de fotografia: Roger A. Deakins

A direção de fotografia utiliza em sua paleta de cores tons azulados e alaranjados. O uso do alto contraste é perceptivel nas cenas em que as sombras se sobressaem e alguns pontos de luz se destacam, como por exemplo a luminosidade que vem de uma janela. Isso cria silhuetas muito bem delineadas e um belo contra-luz. Há um uso muito interessante de sombras e de reflexos, seja o reflexo da água que se destaca sobre um fundo todo alaranjado e dá movimento para a cena, seja os reflexos no vidro dos automóveis. A iluminação também é manipulada a fim de criar listras, formas geométricas... A iluminação neon da cidade faz referência ao primeiro Blade Runner, de 1982, assim como as luzes que vem do alto e se movimentam nas janelas, porém a referência ao filme anterior poderia ser melhor trabalhada. Já na metade do filme, a fotografia muda e passa a usar exaustivamente tons de laranja no quadro todo, junto com uma névoa que impede o espectador de ver a profundidade de campo do enquadramento. Falando em enquadramentos, há um uso modesto, porém bem colocado de reenquadramentos durante a narrativa.
Nota: 8
Pontos altos: uso das cores e alto contraste


4. DUNKIRK
Direção de fotografia: Hoyte van Hoytema

Dunkirk puxa um pouco para os tons esverdeados, possui momentos de câmera subjetiva nas sequências dos aviões e câmera na mão. As vezes também alguns planos utilizam-se da pouca profundidade de campo a fim de destacar algum personagem ou situação, função que o primeiríssimo plano nos personagens também realiza. Os planos gerais merecem destaque, pois possuem belos enquadramentos, com relações gráficas muito bem equilibradas. O contra-luz é bem trabalhado no final do filme. Dunkirk tem movimentos de câmera que impressionam, são as cenas dos aviões que fazem curvas, sobem, descem e criam tensão. Além disso, o espectador percebe que a imagem possui algo que se pode chamar de textura, ela não é uma imagem lavada, possui profundidade, detalhes de luz e sombra em momentos distintos.
Nota: 9
Pontos Altos: planos gerais


5. MUDBOUND
Direção de Fotografia: Rachel Morrison

Câmera na mão, uso de grande profundidade de campo com momentos em que há um jogo do foco, que desfoca e foca novamente. A escolha das locações em planos feitos ao ar livre também merece destaque, já que isso influencia completamente na iluminação desses locais. Em algumas cenas (internas, noturnas) podemos ver a existência de alto contraste, em outras cenas (externas, dia) essa diferença diminui. Alguns planos detalhe se destacam, bem como reenquadramentos. As cenas da guerra aparecem com cores azuladas, já as cenas da fazenda, especialmente dentro de casa, aparecem com tons alaranjados e marrons.
Nota: 9
Pontos Altos: contra-luz, cenas externas


E O OSCAR VAI PARA...
Pode-se perceber que há semelhanças com relação à fotografia nas obras selecionadas: o uso de tons alaranjados e alto-contraste, são elementos presentes em quase todos os filmes. Todos possuem uma direção de fotografia que trabalha a fim de agregar sensações à narrativa, de dar destaque à certos elementos, de nos brindar com belas imagens, sejam elas mais voltadas para a realidade ou não. Entretanto, o filme "O destino de uma nação" constrói isso de uma forma que contribui e faz a narrativa crescer. A fotografia se destaca fazendo um uso consciente de técnicas e elementos, que possuem um significado estilístico. Não são escolhas feitas ao acaso por mero exibicionismo. Por esse motivo, por se destacar ao utilizar na fotografia possibilidades narrativas, meu palpite para o óscar é "O destino de uma nação".
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