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ESPECIAL OSCAR - LUGAR DE MULHER É NA ÁREA CINZA DA MORALIDADE NO OSCAR 2018

  • Writer: Luís Henrique Franco
    Luís Henrique Franco
  • Mar 1, 2018
  • 5 min read


Qualquer grande premiação, seja ela o Oscar, o Emmy ou o Grammy, é complicada. Tira-se uma noite para eleger uma pessoa exemplar entre um grupo seleto de estilos que são, com frequência, diferentes demais para serem devidamente comparados. Esse é um problema eterno, mas se faz ainda mais evidente nesta edição do Oscar, que coloca uma seleção fortíssima de produções para competir em um clima político conturbado.

Segundo estatísticas da própria Academia, os papéis que mais rendem Oscars a mulheres são os de mãe, filha ou namorada de alguém. Entre as indicadas deste ano, temos personagens que são todas essas coisas, mas raramente podem ser reduzidas a isso, o que por si só já é uma vitória. Essas histórias de independência feminina são, no entanto, contadas — e interpretadas — de maneiras um tanto diferentes.

FRANCES MCDORMAND (TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME)


A grande aposta da maior parte daqueles que falam sobre essa categoria, Frances interpreta uma mãe em busca de justiça por sua filha, que foi estuprada e assassinada há alguns meses e não teve seu caso devidamente investigado. Na superfície, a Mildred de McDormand está repleta de raiva: ela é a imagem estereotípica de alguém que foi maltratada pela vida e aprendeu a ser “durona” como mecanismo de defesa. A força de sua performance surge nas pequenas nuances que ela adiciona a esse “estereótipo” da personalidade pós-traumática. Em algumas cenas, basta um olhar mais vago para que entendamos que por baixo de tudo aquilo está alguém que simplesmente não vê outra alternativa para lidar com seu luto.

O favoritismo em relação a Frances vem, é claro, principalmente de seu mérito como atriz: ela já coleciona outras quatro indicações ao Oscar e tem uma carreira diversa há mais de trinta anos. Como todas na categoria, eu entendo o que faz dela uma competidora forte. No entanto, eu diria que ela se encontra com o papel que é mais explícitamente desafiador e complexo — afinal, ela enfrenta uma perda brutal — o que talvez influencie no hype que a circunda: é mais fácil entender que é um papel difícil, mas isso não quer dizer que outros da categoria também não sejam igualmente complexos, se não mais.

MARGOT ROBBIE (EU, TONYA)


Sutileza também passa longe da personagem de Tonya Harding. Ironicamente, a personagem principal de “Eu, Tonya” é uma anti-heroína nos moldes de Jordan Belfort, de O Lobo de Wall Street, onde Robbie esteve presente como primordialmente um interesse amoroso, mas de uma forma suficientemente marcante e convincente para provocar empatia em quem a via. Em Eu, Tonya, ela explora essa capacidade ao máximo com uma personagem que tem espaço de sobra para errar, ser contraditória e humana.

Margot Robbie consegue pular do humor à seriedade em um piscar de olhos, e sempre parece usar todos os recursos possíveis para sua interpretação. Não é só a patinação que faz da atuação algo especialmente físico: ela sempre parece atuar com o corpo todo. O seu retrato de uma personagem que está constantemente tentando não enlouquecer é exemplar sem que ela perca a leveza. A ganhadora no meu coração, ainda que parte dele esteja nas mãos da próxima indicada.

SAOIRSE RONAN (LADY BIRD)


De todas as performances da categoria, a de Ronan é certamente a mais leve, a que menos se parece com atuação. E, na minha opinião, acaba sendo a mais desafiadora justamente por isso: ela precisa fazer muito e ainda fazer parecer fácil. O debut diretorial de Greta Gerwig opta por retratar um pedaço da vida de sua heroína, Christine “Lady Bird” McPherson, ao invés de construir uma narrativa coesa como a dos outros filmes da categoria. A ideia é que Lady Bird — tanto o filme quanto a personagem — pareça algo simples, que estamos acostumados a ver.

Para isso, não existe uma palavra capaz de definir melhor a caracterização de Ronan do que leveza: mesmo que a Lady Bird seja o drama em pessoa, Saoirse convence tanto em sua interpretação de “pessoa comum, complexa e com sentimentos” que poderíamos estar vendo um registro da vida de alguém real. É um filme que exige algo radicalmente diferente do que McDormand, por exemplo, nos oferece: Saoirse deve encarnar alguém que está passando por tudo e nada ao mesmo tempo. Para isso, ela precisa equilibrar timing humorístico e ser capaz de se movimentar entre emoções como se elas fossem permeáveis, e faz isso espetacularmente bem.

SALLY HAWKINS (A FORMA DA ÁGUA)


A atriz inglesa coleciona papéis que podem ser definidos como “doces”, uma característica que é auxiliada pelo seu físico diminuto (Sally tem 1,57 de altura e sempre foi magra), seus cabelos escuros e aparência pouco convencional. Em A Forma da Água, sua personagem parece se encaixar nesse mesmo modelo: Elisa é bondosa e empática, e seu arco gira em torno da conexão que só ela consegue formar com uma criatura incompreendida. No entanto, o papel depende igualmente de uma subversão constante desse estereótipo — Elisa é boa, mas tem agência e irá defender destemidamente o que acredita ser certo.

E Sally Hawkins consegue montar o estereótipo e subvertê-lo sem a ajuda de falas ou até mesmo de sons. Toda a intensidade de sua personagem está no olhar: desde a raiva contida do momento que ela manda seu superior “se foder” às pálpebras caídas e descontraídas que ela adota quando está nos braços de seu homem-peixe. Sua capacidade de instigar emoções fortes sem o auxílio verbal em um filme que é 100% emoção é louvável.

MERYL STREEP (THE POST - A GUERRA SECRETA)


Seria pretensioso dizer que esse é o papel mais mediano dos que já renderam indicações à Meryl, porque eu duvido que tenha assistido a todos os dezessete que já a colocaram nesta categoria. Minha antipatia pelo melodrama de The Post me influencia fortemente na hora de pensar na interpretação de Meryl, mas uma coisa é certa: sua atuação como a muito corajosa e meio estabanada Katharine Graham consegue redimir grande parte das falhas de The Post. Em um enredo que se apoia fortemente em extremos morais, ela faz um retrato convincente de alguém que está aprendendo a se colocar fora da sua zona de conforto.

Provavelmente não é o melhor que já vimos de Meryl, mas o mediano dela é realmente melhor do que os esforços de muita gente. Mas, na minha opinião, se trata da competidora mais fraca dessa categoria, o que diz muito sobre o nível de qualidade da competição.

E O OSCAR VAI PARA...

Me junto ao coro que aposta em Frances McDormand, ainda que relutantemente. Esta é uma de muitas categorias deste ano na qual a minha opinião pessoal diverge da tendência da Academia. Por um lado, eu não sou ninguém para discordar dos supostos maiores especialistas na sétima arte, mas não consigo deixar de achar que essa estatueta deveria ser de Margot Robbie.

Essas foram as nossas apostas para o Oscar de Melhor Atriz 2018. E você? Qual foi sua favorita? Deixe nos comentários!

 

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