A NOSTALGIA NA CULTURA POP: DECEPÇÃO COM O PRESENTE E SAUDOSISMO DO PASSADO?
- Ulisses MRF
- Mar 29, 2018
- 5 min read
Updated: May 23, 2019

Está na boca do povo e nos comentários de internet a ideia de que a atual Hollywood está desgastada, já não produz como antes e vive de remakes, reboots e sequências; e quando produz fica presa aos modelos e às referências a filmes e ideias antigas . “Nada de novo sob o sol na indústria da sétima arte”. Isso se torna mais real ainda quando se faz um recorte específico para a produção relacionada à chamada Cultura Pop! São os filmes, séries, livros e histórias de ação, aventura, mistério, animação, heróis, fantasia, ficção científica...entre muitos outros. Aqui vamos pensar um pouquinho em como podemos explicar esse fenômeno.
As produções dos subgêneros do que chamamos Cultura Pop têm um público bem direcionado e específico. Em sua maioria são crianças, adolescentes e jovens adultos que têm o costume de ir aos cinemas e estão conectados às produtoras e aos temas dos filmes por meio da internet e das redes sociais. Muitos desses filmes bebem de produções anteriores e entram para o hall de filmes baseados nas famosas “referências” e easter-eggs (segredos escondidos para os fãs no meio dos filmes), eles apelam para a conhecida nostalgia, a saudade que existe entre os fãs das produções anteriores que marcaram época.

São inúmeros os exemplos recentes que podem ser citados e que trazem essa abordagem: Detona Ralph, a nova trilogia da franquia Star Wars, as novas produções de Star Trek, a série Stranger Things, os novos filmes da franquia de Jurassic Park, Procurando Dory, o mais recente Mad Max: Estrada da Fúria, Os Caça Fantasmas, os novos live-action das animações clássicas da Disney (A Bela e a Fera, Mogli - O Menino Lobo), o novo IT - A Coisa, Power Rangers, Blade Runner 2049 e a saga Transformers... Entre esses, muitos se destacam por utilizar as referências e a nostalgia para aproximar o público e mesmo atrair novos públicos para um filme com uma história nova, outros usam os mesmos temas para desenvolver o universo inicial e expandi-los, outros ainda usam as mesmas ideias para repetir sucessos anteriores, as opções são diversas.

Esse fenômeno pode ser analisado dentro de perspectivas diversas. Quais as razões desse apelo da produção de entretenimento por coisas que já foram? O que significa esse resgate de temas e universos que fizeram parte da consciência coletiva de outras gerações?
Uma das razões primordiais para esse resgate é econômica. É buscar repetir receitas de sucesso e garantir que as produções de larga escala (o entretenimento de massas) banque as outras diversas produções dos estúdios e produtoras, produções que tem direcionamentos para outros públicos e outros temas. De certa forma é dizer que os estúdios são conservadores e apostam pouco em fórmulas novas e filmes fora da caixa, o que é uma realidade! A indústria do cinema se diversificou e se tornou sede de investimentos multimilionários. Ou seja, reproduzir e esgotar as fontes de histórias que já existem e que garantem um consumo básico já estabelecido, o famoso: “Todo mundo gosta disso!”.
Mesmo assim, uma razão tão importante quanto a econômica pode ser mais subjetiva: uma decepção com o presente. Nos anos 1980 e 1990 era visível nas produções de entretenimento um otimismo com o futuro e com a tecnologia, era mais ou menos claro aonde a tecnologia, a computação, o crescimento econômico e as descobertas científicas levariam a humanidade. É o exemplo do filme De Volta para o Futuro II (1989) que tem parte do enredo em 2015, com alta tecnologia e poucos problemas em um futuro com skates voadores! Assim como a empolgação, sentimento de liberdade e esperança que a trilogia original de Star Wars passava aos fãs nesse momento: a robótica e a computação iriam mudar o mundo! (É importante deixar claro que muitos filmes viam o futuro e a tecnologia com maus olhos também, como é o caso de Blade Runner e O Exterminador do Futuro, por exemplo.)
Porém, o desenrolar da vida mostrou que a coisa não era bem assim. No início dos anos 2000, com a ascensão dos diversos terrorismos ao redor do globo, novas guerras políticas e posteriormente a crise econômica mundial de 2008 a coisa ficou feia! O futuro já não é mais como era antigamente e talvez uma comoção geral tenha tomado conta do imaginário coletivo. Um desespero e um desapontamento com a situação à que a humanidade chegou, um presente sem sentido e que não corresponde às expectativas levantadas. Além desse desespero pela expectativa frustrada há também uma decepção por não conseguir responder questões que garantam segurança à vida e às perspectivas de futuro: como será o futuro? Para onde caminha a humanidade? Haverá paz mundial? entre muitas outras.
Esse fenômeno de desapontamento, conjugado com a seleção de memórias positivas (aquela ideia de que antigamente sempre era melhor e tinha as melhores coisas, a saudade da época da infância, o tio dizendo que no tempo dele é que as coisas funcionavam), acaba criando um público que pede e consome produções baseadas em referências ao passado e à nostalgia. A história pode mudar um pouco, mas o importante é estar confortável com aquilo que vai ser visto, conhecer o universo do personagem, lembrar da infância enquanto estiver assistindo, uma busca por uma inocência perdida e por um tempo sem problemas e sem o desespero causado pela ausência de seguranças da modernidade. Isso revela muito da sociedade ocidental, uma sociedade que busca o mais confortável e palatável, conservadora com suas visões sobre o que é bom ou ruim e avessa às modificações bruscas ou à ausência de sentido.
Muitas dessas produções recentes que apelam para a nostalgia, no entanto, não ficam presas ao tempo a que fazem referência. É o caso do novo Os Caça-Fantasmas, que se tornou AS Caça-Fantasmas e coloca em questão problemas estruturais e modificações que ocorreram na sociedade ocidental, por exemplo, as lutas feministas por respeito e igualdade nas condições de trabalho. As novas ficções científicas já abordam questões relacionadas ao acesso aos dados e às redes sociais, dependência de tecnologia e inteligência artificial atrelada à ética de colocar o homem como criador (como no filme Ex Machina: Instinto Artificial(2014) e Elysium(2013) ). São mudanças diversas dentro de um campo mais estático, uma área que dá segurança aos roteiristas e diretores pois eles já sabem que o público sabe do que está sendo falado, sabem que certos símbolos, sequências, imagens e músicas já despertam certa sensação naqueles que assistem. É assim que a nostalgia funciona.

É importante salientar que não deve ser feito um juízo de valor sobre essas produções baseadas na nostalgia. Elas não são ruins por estarem dentro de um universo confortável e já conhecido. Muitas delas trazem novidades e adaptações para novas tendências e situações globais, como colocado. Ou seja, o mais importante é entender o que provoca esse fenômeno, pensar sobre ele e saber identificar as obras que se baseiam inteiramente nele.
A nostalgia é parte da contemporaneidade e ferramenta dela. Ela aparece no mais novo filme do aclamado, e nostálgico, diretor Steven Spielberg, Jogador N°1 (Ready Player One) que chega aos cinemas brasileiros carregado de referências aos filmes, jogos, séries e livros que fazem parte da conhecida Cultura POP. Trazendo uma realidade distópica em um futuro não tão distante (2044), em que as pessoas vivem imersas na realidade virtual de um jogo chamado OASIS, o filme mostra os desafios de Wade Watts (Tye Sheridan) para conquistar a fortuna do criador do jogo junto com seus amigos. São desafios dentro do jogo para conquistar missões e também fora dele para permanecer vivo!
O filme é baseado no livro homônimo de Ernest Cline publicado em 2011 nos EUA e promete ser um destaque na área de ação e aventura com muitos efeitos especiais e uma carga forte de referências como é possível notar no trailer do filme:
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