JARDIM DO INIMIGO OU A 18ª TENTATIVA DE FAZER ALGO BOM
- Artur Nicoceli
- Aug 9, 2018
- 3 min read
Updated: May 21, 2019
Começarei essa crítica de uma forma diferente que acredito não utilizar na produção dos textos futuros: vou explicar a minha relação com essa peça. Sou formado em teatro e desde que comecei a estudar tive interesse de ver a montagem de Jeová Nissi, O jardim do inimigo. Demorei cinco anos para assistir o espetáculo (digo espetáculo por imaginar a grandiosidade de um trabalho que está há dezoito anos em cartaz).
Quando cheguei ao teatro, entreguei o meu bilhete de entrada para aquela imersão de três horas dentro de uma história que eu esperava há anos. No entanto, me deparo com uma mini-loja adaptada em cima de uma mesa de plástico escrito: compre. Acho estranho, porém vou analisar o que estava à venda e era o próprio DVD da peça ao qual eu iria assistir naquele momento. Fiquei instigado pelo simples fato deles venderem a montagem antes da própria montagem.

Fonte: Notícias Gospelmais
Deixei a vendinha e fui me alocar na minha cadeira que havia comprado na internet há alguns dias antes do espetáculo com medo de lotação. Dito e feito, estava cheio. Fiquei ansioso. Quando toca o segundo sinal um projetor é ligado e começa a passar um vídeo sobre como a Cia. Palco Del Arte fez trabalhos passando a palavra de Deus pelo mundo. Fiquei incomodado porque não queria saber sobre os trabalhos religiosos que a trupe fazia e sim estava lá para assistir a montagem deles, ok.
Pois bem, esperei o vídeo de quinze minutos acabar e fiquei pensando como o peça poderia ser. Lembrava que a Cia. Palco alegava inspirar-se em Brecht, dramaturgo alemão; nos grandes trabalhos do teatro nova-iorquino da Broadway e que o iluminador era o Guilherme Bonfanti, que fez espetáculos como o Teatro da Vertigem.
Passaram dez minutos da reprodução do vídeo, a plateia ainda estava entrando no teatro quando surgem os atores de trás da plateia junto com alguns espectadores que ainda estavam procurando o lugar para sentar. O problema começa que eles não avisaram para a plateia desligar o celular, portanto muitas pessoas começaram a gravar o elenco com flash, assim sendo, deixando difícil enxergar os atores e enfraquecendo totalmente o trabalho do iluminador.

Fonte: Abc do Abc
O enredo fala sobre indivíduos condenados por ações feitas no dia-a-dia de cada um. Os personagens representam as drogas, prostituição, miséria e descompromisso. Quando surge um Acusador que começa a enfatizar o pecado de cada um, assim enfraquecendo-os.
Quando aparece uma missionária que tenta passar a palavra de Jesus. Mesmo os personagens resistindo, eles acabam acatando ao ideal e a vida deles é restaurada e são libertos do pecado.
O que mais me incomodou foi o trabalho de construção de cada ator. Fiquei instigado como uma peça está em cartaz durante dezoito anos sendo que o roteiro é fraco, deixando todas as ações e falas preconceituosas e beirando ao estereótipo, com personagens nada trabalhados e a escolha do teatro era maior do que a voz dos atores poderia aguentar e alcançar. Eu que estava na fileira “S” e tive muita dificuldade de ouvir a apresentação.
Esse texto é uma peça que não possui: trabalho cênico, respeito com a plateia que pagou para assistir, pois eles estavam entrando e os atores já haviam começado o espetáculo; e o grupo simplesmente esta focado em ganhar dinheiro desde os ingressos antecipados à venda na mini-loja.
O jardim do inimigo, uma peça que não pode ser chamada de teatro.
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