O HOMEM PERFEITO - UM NOVO CAMINHO PARA AS COMÉDIAS ROMÂNTICAS BRASILE

Diana (Luana Piovani) é uma ghostwriter que precisa escrever a biografia do roqueiro depravado Caíque (Sérgio Guizé) no momento mais caótico de sua vida, logo depois de seu noivo trocá-la por uma mulher mais nova. Já acostumada a criar narrativas cativantes, ela decide inventar o perfil on-line de um “homem perfeito” que poderia conquistar a atual namorada de seu ex-noivo e assim salvar seu casamento.

Uma montagem dinâmica proporciona um ótimo ritmo ao filme que, ao explorar a modernidade nas formas de relacionamento, deixam claro o contraste desequilibrado entre vida real e virtual. Além de abrir um debate sobre os padrões inatingíveis que as pessoas tem na internet, já que podem mostrar apenas o seu melhor lado, seja ele real ou não.

Uma mulher empoderada á frente da trama não deixou o filme livre de padrões sexistas e gafes com slut-shaming, mas alguns estereótipos são apresentados com a função de serem quebrados no decorrer da história. E, principalmente, inova ao ter uma desconstrução da “mulher ideal” na mesma medida em que aponta as falhas que fazem os homens estarem longe da “perfeição”.

Luana Piovani dá vida a uma personagem forte, sincera e real. Decidida a conquistar o que quer, ela acaba tomando atitudes nem um pouco ortodoxas, mas sempre convicta de que faz a coisa certa em prol do amor. A atriz comentou que esta extasiada em poder interpretar pela primeira vez a “mulher trocada”, e não uma “gostosa idealizada” como tantas que já fez em sua carreira. Um equilíbrio brilhante entre a persona “Luana Sem Freio” de seu canal no Youtube e uma notável imersão na fragilidade de “Diana” rendem uma protagonista que consegue carregar o filme facilmente.

Sérgio Guizé da veracidade á um personagem que é um desprezível estereótipo machista e ainda assim consegue inverter a situação a ponto de fazer a audiência torcer por ele. Mesmo com todos os tipos de “Bad boy que encontra o amor e vira mocinho” espalhados pela dramaturgia, o “Caíque” consegue se destacar por ser interpretado com profundidade e um timing cômico extremamente natural. Mesmo com muito a ser problematizado, fica difícil não se divertir com seu arco.

Já Marco Luque é um ponto fraco por não desenvolver bem um personagem que é sem sal por natureza, ficando até difícil de acreditar que ele é o pivô de toda a trama. Como todo clássico “Loser” com complexo de inferioridade ao estilo “Ross Geller”, o roteiro força a barra tentando vender o “Rodrigo” como um mocinho e prefere romantizar vários dos seus defeitos e machismos velados á tentar desconstruí-los. Seus poucos momentos cômicos são forçados e, como não há oportunidade de criar interesse ou empatia, a ausência total de um crescimento do personagem não é sentida ao final.

A “Mel” de Juliana Paiva tem uma ingenuidade que garante momentos cômicos e roubam a cena. Foi revigorante finalmente assistir um filme em que a personagem da amante foi desenvolvida com conteúdo, e não simplesmente colocada como a destruidora de lares, que é uma figura comumente hipersexualizada e fútil.

Marcus Baldini, que assume a direção com maestria, disse na coletiva de imprensa que uma das maiores inspirações para a personagem principal e toda a perspectiva da história foi Julianne Potter, personagem de Julia Roberts em “O Casamento do meu Melhor Amigo”. É inegável a influência de comédias românticas americanas para o desenrolar da trama, o que é justificável por ser uma formula de sucesso e também pela escassez do gênero no mercado nacional. Mas mesmo com algumas reciclagens de clichês, o filme vem com brasilidade total e consegue ser original dentro de sua proposta.

“O Homem Perfeito” chega aos cinemas em 27 de Setembro, distribuído pela Downtown Films.