CORAÇÃO DE COWBOY - UMA CELEBRAÇÃO DO SERTANEJO RAIZ
- Everton Salzano
- Sep 26, 2018
- 3 min read
Updated: May 23, 2019

Lucca (Gabriel Sater) se vê cada vez mais distante de suas raízes sertanejas ao alcançar o sucesso como um Pop star. Mas o auge da fama e o descontentamento com os rumos do mercado musical o fazem entrar em crise e precisar de um refugio em sua cidadezinha natal, onde mesmo entre problemas familiares não resolvidos e novas amizades improváveis ele tenta se reconectar a seu coração de cowboy.
Em uma história que poderia ter como plano de fundo qualquer outro gênero musical ou manifestação artística, é latente o dilema entre se manter fiel ao que acredita ou apelar para o que é mais comercialmente viável. Além de sutilmente alfinetar o atual cenário midiático de sertanejos ostentação e seus hits fúteis.
Com sucessos de “Chitãozinho e Xororó” e uma trilha sonora original brilhantemente costurada no roteiro por Lucas Lima (Família Lima), o longa proporciona uma experiência de imersão em uma cidade interiorana muito bem ambientada e repleta de personagens extremamente humanos. Livre de estereótipos no sotaque naturalizado e nas perspectivas de vida dos habitantes, o longa acerta ao fazer um resgate nacionalista do interior de forma atualizada.

Gabriel Sater faz um ótimo trabalho para um cantor em sua primeira experiência com cinema. Sua entrega é notável e seu arco flui bem, proporcionando cenas sinceras e emocionantes na incessante busca por aprovação do pai. Muito de sua personalidade pode ter sido usada para a construção, mas isso não o impediu de dar profundidade a um personagem muito bem escrito e dirigido.

Thaila Ayala rouba a cena simplesmente por ser real. Com um sotaque muito bem estruturado e um jeitão despojado, sua personagem Paula é uma mulher forte e decidida que não leva desaforo pra casa. Mesmo que responsável pela maior parte das tiradas cômicas do filme, houve espaço para colocar em pauta assuntos como assédio e ocupação de mulheres em ambientes predominantemente masculinos.

Uma menção honrosa aos atores mirins que fazem uma pequena mas valiosa participação para interpretar Lucca, Marcelle e Guga quando crianças. Em especial Giulia Nassa, que canta lindamente e ficou impressionantemente idêntica a sua versão adulta (Thaís Pacholek).
Mesmo com uma premissa que passa longe de ser inédita (qualquer semelhança com o enredo de Hannah Montana: O Filme é mera coincidência), o longa tem alma o bastante para se destacar. Tanto que foi escolhido como Melhor Filme por Voto Popular no Scruffy City Film and Music Festival em Knoxville, no Tennessee.
Seus pontos fracos se resumem a uma figura de vilã colocada desnecessariamente no enredo (mesmo tendo uma ótima atuação de Françoise Forton como a ambiciosa empresaria Iolanda) e alguns diálogos motivacionais que se tonaram ainda mais batidos por uma atuação insossa de Thaís Pacholek, que segura bem cenas dramáticas em que se coloca como uma esposa firme mas se perde facilmente em momentos de “mocinha de olhar interiorano”.
Em seu primeiro longa para cinema, o diretor Gui Pereira consegue passar uma mensagem linda e necessária de reconexão com as raízes em tempos tão efêmeros. Durante a coletiva de imprensa os atores eram só elogios sobre sua visão do projeto e o aclamaram por ser um excelente “diretor de atores”, o que é escasso no meio atualmente.
Um filme com o propósito de ser simples e que se torna ótimo exatamente por isso. Mais que uma bela homenagem à música sertaneja, uma história de amores e perrengues que tem como plano de fundo uma beleza nacional esquecida e subestimada.
“Coração de Cowboy” chega aos cinemas em 27 de Setembro, com produção e distribuição da O2 Play.
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