EU ESTAVA EM MINHA CASA E ESPERAVA QUE A CHUVA CHEGASSE - NECESSÁRIO!

“A justificativa de se estudar”, foi o comentário do diretor da peça, Antunes Filho, após o primeiro final de semana da apresentação do espetáculo estreado no festival Mirada.

A obra conta com cinco personagens divagando sobre a falta de dois homens. Todas as personagens são mulheres, sendo que quatro delas são filhas da quinta. A construção cênica aborda a relação familiar após o acontecimento de alguma catástrofe (não detalhada) com relação ao pai e a um irmão.

O centro de Pesquisa Teatral (CPT), localizado no SESC Consolação, possui em sua história uma pesquisa relacionada ao trabalho de ator que, como Antunes Filho justifica, é uma peça para se estudar, e acrescenta: “As escolas hoje em dia formam atores que já acham que dois anos é o suficiente para saber oficio de atuar e já saem procurando editais e fomentos produzindo qualquer peça, sem ao menos saber o que é ser artista”.

“Como um homem que trabalha com peixes, ele sabe pescar, os tipos de peixes, as formas de se cortar, como preparar, servir e comer. Porque o ator não entende que essa mesma pesquisa tem quer ser feita por ele com relação à arte?”.

(Fonte: SESC Mirada)

O trabalho de construção corpórea das atrizes se intercala com a ambientação da peça, demonstrando uma pesquisa minuciosa, em que o diretor colocou os dedos e fez com que os atores tivessem uma pesquisa com relação a cada personagem e a gênese.

A peça de 80 minutos é a pura justificativa do fazer artístico, com uma cenotécnica inspirada nas cadeiras dos ready-mades de Tadeuz Kantor, que são usadas como dilatadoras das relações dos personagens. Mesmo com uma impostação de voz, diferente dos outros espetáculos do CPT, em que os artistas propunham vozes baixas, existe uma rítmica métrica que dificilmente é quebrada, parecendo um canto gregoriano.

A conexão entre as personagens da filha mais velha e a mãe pode ser comparada com a relação familiar dos personagens Troy Maxson e Rose Maxson em "Fences" de August Wilson.

Antunes Filho faz um trabalho fenomenal cortando o texto de Jean-Luc Lagerce pela metade, deixando apenas o necessário e finalizando com um suplicio da irmã mais nova, colocando a esperança e deixando que o público continue a história na cabeça.

(Fonte: SESC)

“Eu Estava Em Minha Casa E Esperava Que A Chuva Chegasse” é uma das obras em cartazes de maior importância a todos os estudantes, pelo simples fato de criticar o modo como atuamos e como nos propormos a ser literais, muitas vezes em teatro político e sentimental caindo para o ostracismo de pensar.

“Se você não entendeu, ou não chegou perto, é por falta de leitura, é simplesmente porque essas pessoas ficam vidradas em televisão e apenas assistindo o óbvio, as pessoas tem indolência de pensar”, disse um dos espectadores a um amigo.

A peça fica em cartaz até o dia 16 de dezembro no SESC consolação.

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