OPINIÃO: A LASTIMÁVEL VIOLÊNCIA NO CINEMA ATUAL
- Luís Henrique Franco
- Sep 28, 2018
- 4 min read

À medida em que escrevo meus textos sobre filmes e séries, sobre atores, atrizes e diretores, várias vezes já me deparei com a necessidade de assistir a uma determinada produção para ganhar melhor embasamento. Geralmente, não tenho problemas em assistir um filme ou mesmo uma saga inteira para produzir um texto sobre um novo lançamento que está ganhando popularidade. Alguns filmes são bons, outros são ruins e outros são até péssimos, mas eu os assisto. Faz parte do trabalho.
Contudo, existe um limite para todos nós, uma linha que pode ser ultrapassada, mas que sempre estará lá para demarcar até onde nos dispomos a ir naquele dado momento. Para mim, essa linha foi alcançada quando resolvi assistir Uma Noite de Crime: Ano de Eleição. A premissa para eu fazer isso era a mesma de vários outros textos que eu já havia escrito: assistir aos filmes da saga (minha ideia original era assistir aos três) para ganhar embasamento. Contudo, a experiência foi demais para mim, e não consegui assistir aos outros dois. O motivo foi que a própria proposta do filme me foi extremamente sem graça e entediante.

A ideia de uma noite anual onde todos os crimes são liberados, sob a justificativa de permitir às pessoas liberarem sua raiva e não cometerem crimes no resto do ano é muito uma desculpa para criar um filme que chama a atenção pela sua violência desenfreada. É como se o aval dado para os personagens poderem fazer o que bem entenderem é igualmente dado aos diretores e produtores poderem colocar o máximo de sangue possível em cada cena, causando um choque nas pessoas que assistem pelos absurdos de violência cometidos. Esse tipo de filme é sem graça e quase não valeria um texto, se essa não fosse uma tendência cada vez maior no cinema atual.
Falemos mais dos filmes de terror por enquanto, onde essa saga se encaixa. O que se vê hoje em dia é um apelo muito maior ao gráfico, ao choque imediato de uma violência sem sentido, ao susto e ao espanto de se ver os corpos serem despedaçados, em detrimento do que poderia ser uma história melhor contada e que assustasse pelo contexto e pelo enredo. Pode funcionar uma vez, mas é difícil manter esse mesmo padrão por muito tempo e agradar aos que pagam para assistir às produções. Grandes franquias caíram nesse grande mal, perdendo aos poucos aquilo que as tornavam tão especiais. Alien é uma delas, aos poucos substituindo, com o passar dos filmes, o horror causado pela tensão e pelo desconhecimento de onde a criatura estava por filmes mais agressivos, cheios de ação e com uma criatura que não é mais tão cuidadosa quanto os primeiros e ataca desvairadamente os sobreviventes humanos, como pode ser visto em Alien: Covenant. Mesmo o rival direto do Xenomorfo, o Predador, que já em seu primeiro filme era mais violento, sofreu grandes mudanças para algo muito mais apelativo e para uma violência desnecessária, em especial em seus últimos filmes, Predadores e o mais recente O Predador.
Mesmo se pegarmos a franquia Jogos Mortais, que desde o seu princípio se baseava em um horror de tortura, podemos ver uma grande diferença entre os primeiros filmes, onde as armadilhas eram menos exploradas em favor de um terror psicológico que acompanhava os dois protagonistas acorrentados, e os últimos, onde o foco total estava na maneira como as armadilhas destroçavam suas vítimas da maneira mais sanguinária possível.

Obviamente, não estou defendendo a extinção da exibição da violência em filmes. Em muitos casos, em cenas de ação e em longas com monstros ou guerras, ela acaba sendo um recurso necessário para expor o cenário que pretende mostrar. Mas esse recurso precisa ser melhor pensado, empregado como algo adjacente à trama do filme, não como o elemento principal de toda a ação.
Quando penso em exemplos para ilustrar o que quero dizer, penso sempre na maneira como Tarantino trabalha seus roteiros. A violência é algo com a qual os fãs desse diretor se acostumaram a um bom tempo. Mas, justamente pela sua experiência em lidar com essas situações, temos em seus filmes uma violência que geralmente está associada ao restante do enredo e é fruto de uma sequência de tensão que termina de uma maneira bem movimentada e, até mesmo, escrachada, fazendo graça de si mesma e de seu próprio exagero.
Mesmo filmes de ação em geral, que desenvolvem uma tensão e uma história que justifique a culminação em uma cena de violência, apresentam essa justificativa, ao passo que outros apenas jogam um monte de tiros e pancadaria na nossa cara sem o menor pudor e isso, esse uso desenfreado da violência, simplesmente cansa.
Não vou mentir. Até é uma estratégia que deu certo durante algum tempo. O uso exagerado da violência como um princípio certamente foi um choque para o público que não estava acostumado a essa ideia. Mas agora, chegamos ao momento em que esse tipo de estratégia não funciona mais e apenas irrita o público pois, na incapacidade de chocá-lo ou diverti-lo, acaba por mostrar sua história como aquilo que realmente é: uma narrativa banal.
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