MARY POPPINS E A MAGIA NOS DIAS ATUAIS
- Luís Henrique Franco
- Dec 19, 2018
- 5 min read

Criada em 1934 por P.L. Travers e adaptada para o cinema por Walt Disney em 1964, Mary Poppins serviu perfeitamente para o Universo mágico criado pelos estúdios Disney. Um sucesso estrondoso, que rendeu à atriz Julie Andrews um Oscar, a história da babá encantada que chega flutuando com um guarda-chuva para ajudar à família Banks se tornou um clássico de uma época onde o cinema ainda usava e abusava de sua capacidade de ser mágico, heroico, fantástico e sem limites para o que se poderia imaginar.
Criada a partir das lembranças de Travers das histórias de sua infância, a babá mágica surge do nada para ajudar à família Banks, proporcionando aos filhos do casal uma educação baseada em suas lições mágicas, que buscam trazer um pouco de diversão ao mundo sério e cheio de responsabilidades. Essa filosofia não só influencia a visão das crianças, mas também a dos próprios pais, fazendo-os descobrir a magia e o encantamento novamente. Sua própria chegada, vinda dos céus com um guarda-chuva na mão, é um sinal de esperança para a família Banks e uma maneira de mostrar a eles que tudo é possível.

CONFLITOS COM A ESCRITORA
O sucesso gigantesco do filme, porém, não veio sem muito esforço. O principal deles foi convencer a escritora do romance a conceder os direitos para a filmagem. Foram mais de 20 anos nos quais Disney lutava para conseguir de Travers a permissão para rodar o filme, porque a escritora temia que a adaptação não faria justiça à sua personagem.

No final, a escritora aceitou conceder os direitos devido a um problema financeiro pessoal, mas ainda assim exigiu que pudesse acompanhar a produção do longa e garantir que a personagem estivesse bem representada. Ela inclusive exigiu que o roteiro teria que ser aprovado por ela antes de as filmagens começarem. A atriz Julie Andrews foi aprovada por Travers após uma entrevista pelo telefone, mas diversos outros fatores, como a trilha sonora e as animações (que a escritora tentou excluir do filme), foram alvos de constantes críticas.
Acima de tudo, Travers criticou a maneira como Disney aparentemente “adocicou” sua personagem, vista nos livros como uma mulher áspera e extremamente adepta às lições de etiqueta, algo muito diferente da mulher doce que vemos no filme. Ainda assim, e apesar de todos os conflitos, o filme rapidamente se tornou um enorme sucesso, e suas músicas são até hoje lembradas como algumas das mais memoráveis dos filmes feitos por Disney.
A BABÁ ENCANTADA

Mary Poppins foi a primeira babá encantada a aparecer no cinema, e trouxe consigo inúmeras inspirações que coroaram filmes infanto-juvenis ao longo dos anos. E faz sentido que essa ideia tenha surgido de um livro escrito por uma britânica. A Inglaterra ainda hoje leva a questão das babás e cuidadoras muito a sério, e possui uma das mais antigas e consagradas escolas para a formação dessas profissionais, o Norland College. O fato de que, nos livros, a personagem é extremamente rígida e severa mostra como essa tradição do país influenciou Travers.
Ainda assim, a versão açucarada da Disney se tornou a mais famosa, e inspirou diversas outras babás mágicas e misteriosas do cinema e da TV. A mais famosa dos tempos atuais é Nanny McPhee, interpretada por Emma Thompson. Nessa série de comédias britânicas, pais solteiros e desesperados por causa do extremo mal comportamento de seus filhos recebem a milagrosa ajuda de uma misteriosa babá que mais parece uma bruxa e que usa de seus poderes para controlar os jovens e fazê-los se comportar. Em seus dois filmes, a senhora misteriosa concede às famílias que visita cinco lições que eles precisam aprender, e sempre carrega consigo o lema “quando não me querem, mas precisam de mim, eu fico. Quando me querem, mas não precisam de mim, eu vou embora”.

Mary Poppins também foi inspiração para algumas sátiras bem-humoradas ao redor do mundo. Em uma dessas adaptações cômicas, ocorridas na série Eu, A Patroa e as Crianças, a família dos Kyle recebe a ajuda de uma empregada enquanto Jay, a mãe, está viajando. Bem idosa, mas cheia de truques, a senhora conquista o coração da família com seu jeito sempre extremamente perfeito de fazer as coisas, fazendo com que todos implorem para que ela fique. Interpretada por Betty White, a babá traz um ar cômico que se traduz na sua graça e maneiras delicadas e serenas de uma mulher idosa, ao mesmo tempo em que ela praticamente adivinha tudo que a família precisa e melhora tudo o que eles fazem com seus toques especiais. No final do episódio, porém, ela vai embora, voando com um guarda-chuva.
Também não podemos esquecer a referência prestada pela Marvel à personagem no filme Guardiões da Galáxia Vol. 2. Na cena em questão, o personagem Yondu (Michael Rooker) desce ao chão segurando em seu dardo flutuante de uma maneira que faz com que Peter Quill (Chris Pratt) diga que ele “parece Mary Poppins”, ao qual o alien pergunta se “ele é legal?”
O RETORNO DA MAGIA EM NOVOS TEMPOS
Quando o primeiro Mary Poppins estreou, os efeitos especiais nos filmes não eram nada comparados aos de hoje. Não que fosse uma obrigação que eles fossem tão avançados a ponto de convencer o público de que eram reais. Naquela época, e principalmente para um filme como esse, a fantasia deveria ser o fator reinante, algo que forçasse sua audiência a usar a sua imaginação, principalmente para ver e aceitar um mundo onde pessoas reais e desenhos animados pudessem existir.

Os filmes, então, eram trabalhados de forma a se demonstrarem como arte apenas, como uma representação, não necessariamente do real, e que, portanto, poderia aceitar facilmente situações as mais absurdas com o enfoque de divertir seu público. Hoje, porém, a história é diferente, e parece que mesmo os filmes que trazem a temática do fantástico buscam fazer isso de maneira a tornar aquilo que deveria ser o surpreendente e o inacreditável de sua história em algo verossímil, que consiga se passar pelo real. Os efeitos especiais hoje em dia são feitos para se assimilarem completamente a algo real.
De certa forma, o inacreditável hoje em dia tenta se mesclar com a realidade, fazer parte dela, e não ser algo a mais, algo que nos tire dessa noção de realidade e nos faça exercitar a imaginação. Por isso, talvez, uma nova releitura da história de Mary Poppins seja uma história mais do que adequada para ser contada nos dias atuais. Sua própria fórmula e proposta instigam as pessoas a buscarem o impossível e exercitarem a imaginação para algo que não pode, de fato existir. Mesmo com novos efeitos que com certeza buscarão tornar tudo o mais verossímil possível, a essência de Mary Poppins é justamente desafiar essa nossa percepção (“Tudo é possível, até o impossível”) e nos fazer acreditar novamente em coisas que sejam extraordinárias demais para serem reais.
Emily Blunt certamente terá um trabalho sério pela frente, não só por essa questão da magia e da realidade comentada acima, mas também por ter que fazer jus à grande Julie Andrews e manter o que foi proposto por ela para a personagem tantos anos atrás. Ainda assim, Mary Poppins é uma história que merece ser recontada e que não poderia encontrar momento melhor no cinema para retornar. Para aqueles que são fãs do filme original, não deixem de conferir essa nova história, que chega aos cinemas dia 20 de dezembro.

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