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NO PORTAL DA ETERNIDADE – REPENSANDO A PERSONALIDADE DE VAN GOGH

  • Writer: Damaris Lago
    Damaris Lago
  • Feb 9, 2019
  • 3 min read

Updated: Feb 3, 2020


Até dias atrás, sempre que via Willem Dafoe em alguma atuação, imediatamente o associava e comparava com seu personagem em “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese (1988). Pra mim, nenhum outro papel deste ator incrível e, com certeza, merecedor do Oscar deste ano, teria a força de desvincular seu rosto magro e olhar profundo da interpretação de Jesus Cristo. Mas Dafoe, finalmente, representará pra mim, a partir de agora, a figura emblemática e tão angustiante do artista Van Gogh, em O Portal da Eternidade.

Tão intenso como a interpretação perfeita do seu personagem principal, o filme de Julian Schnabel (O Escafandro e a Borboleta), e roteiro do premiado Jean-Claude Carrière, conseguem traduzir o desconsolo, o medo e a confusão mental do artista ocidental mais influente do mundo.



A história do pintor Vincent Van Gogh, ariano nascido na Holanda em 1853, recebeu um tom misericordioso para sua perturbada vida, parte dela passada em asilo por conta de seus distúrbios comportamentais. Considerado uma pessoa desagradável, suja, mal vestida e intolerante, o Van Gogh retratado no filme de Schnabel é vitima de uma personalidade que está além do seu tempo. A impressão é de um homem que nasceu em uma época restrita demais para quem consegue enxergar em um simples par de botas velhas, sua intrínseca personalidade.

O Portal da Eternidade me fez pensar na complexidade de sentimentos que reside em cada um de nós, mas que ninguém se entrega para, de fato, conhecer a fundo seus medos, paixões e anseios. O Van Gogh de Schnabel e Carrière é alto demais para uma Paris frenética da era industrial repleta de movimentos novos e egos em avalanche. Sentindo-se amolgado por uma sociedade de aparências, busca refugio no sul da França e lá sua arte emerge como um furacão sem piedade. Nada foge de seu olhar. Somente nos seus dois últimos anos, fez 860 pinturas a óleo.



As tomadas irregulares e distorções visuais despertam no expectador uma experiência capaz de projetar a pouca lucidez atribuída ao pintor ao longo da sua vida. Mas eu me pergunto como lidar com tanta genialidade dentro de um corpo e uma mente só?

O alívio vem com a figura protetora, paciente e amorosa do irmão de Vincent, Theo Van Gogh, lindamente representada por Rupert Friend e pela amizade com o pintor Paul Gauguin (Oscar Isaac). Seria quase impossível o pintor ter sobrevivido sem estas duas pessoas que lhe ofereceram apoio e companhia em um mundo sem piedade. Suas obras também carregam a presença destas figuras.

Van Gogh realmente pode ter sido louco, mas uma lucidez apaixonante se revela quando ele prefere ferir a si próprio, cortando parte de sua orelha esquerda, em meio a uma violenta briga com seu melhor amigo Gauguin. Quem de nós faria isso? Agredir o próximo sempre é a primeira opção.



Mais intrínseco ainda foi a escolha pelo diretor de atribuir sua morte não a um suicídio frio e calculado, mas a um fato onde Gogh não passou de vítima de dois adolescentes que brincavam com uma arma quebrada e que acabou ferindo mortalmente o artista. Esta versão, que foi recentemente descoberta por estudiosos, combina muito mais com uma personalidade que deixou para o mundo obras tão singelas e de intrínseca representatividade como “Madame Ginoux com Livros”, Retrato do Carteiro Joseph Roulin”, Doze Girassóis numa Jarra” e “A Noite Estrelada”. Tudo indica, que o artista, para proteger os adolescentes, acabou assumindo o acidente.

Com certeza, os ares dos vilarejos de Arles e Auvers-sur-Oise, no sul da França, onde viveu por muitos anos, faziam muito bem ao artista que buscava luz, paz e solidão para pintar. Foi ali que conseguiu expressar o melhor de si, não como cidadão, vizinho, amigo e irmão, mas como um ser humano que precisava extravasar, em pintura, sua genialidade, que só depois de um século é reconhecida, talvez e finalmente, por conta da nossa pequenez.

Mas, em minha opinião, nenhuma outra obra deste gênio-artista, poderá representar sua complexa presença, como a “Amendoeira Florescendo” (1890). A árvore que floresce no inverno, representa, pra mim, a angústia de um artista que mesmo deixando 2.000 obras e 1.100 em desenhos no papel, ainda nos causa má impressão. Sabemos julgá-lo mal com perfeição, mesmo admirando sua rica, maravilhosa e soberana arte. Esta dualidade, com certeza, tem ajudado a matar tantos talentos na história da humanidade. Nossa salvação é que sabemos reconhecer, as vezes, que estamos errados.

Com produção da Diamond Films, No Portão da Eternidade chega aos cinemas dia 07 de fevereiro de 2019. Confira o trailer:


 

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