ESPECIAL OSCAR 2019 - MELHOR DIREÇÃO
- Clara Sangiorgio
- Feb 19, 2019
- 4 min read
Updated: May 23, 2019

Desde que o início do Oscar a categoria de Melhor Diretor carrega o peso de ser uma das mais importantes da premiação. Poucas foram as vezes em que o diretor premiado também não levou a estatueta por Melhor Filme.
O panorama geral dos indicados neste ano é muito curioso. Mais “globalizado” do que em anos anteriores, a categoria conta com três diretores não americanos: Alfoso Cuáron (México), Pawel Pawlikowski (Polônia) e Yorgos Lanthimos (Grécia). Os representantes estadunidenses são Adam McKay e, em sua primeira indicação, Spike Lee.
ADAM MCKAY - VICE

O diretor tem uma veia cômica que o acompanha desde o início de sua carreira. Entre os anos de 1995 e 2001, McKay foi ator, roteirista e diretos da série americana Saturday Night Live e desde 2004 tem uma parceria com o ator Will Ferrell. Juntos eles já produziram dezenas de filmes e séries, como por exemplo O Âncora, um dos filmes de comédia mais aclamados da última década.
Em 2015 ele escreveu e dirigiu o estrondoso A Grande Aposta, que lhe rendeu o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado. Não curiosamente, McKay concorre novamente este ano como roteirista, mas desta vez em Melhor Roteiro Original.
Contando a história de vida do ex vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo Bush, Vice é a confirmação de um estilo que o diretor começou a moldar com A Grande Aposta, fazendo uso de temas político-econômicos para construir uma comédia biográfica. Com uma trama que tem de tudo para ser um filme monótono e sem graça, Adam McKay transforma a história em uma versão dinâmica e até mesmo divertida de si mesmo.
ALFONSO CUARÓN - ROMA

Pode-se dizer que Cuarón é uma das figuras mais multifacetadas da indústria cinematográfica contemporânea. O mexicano é, além de diretor, roteirista, produtor e editor, tendo em seu portfólio os mais diversos filmes de diferentes estilos, passando por A Princesinha (1995), Y Tu Mamá Tambien (2001), Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban (2004), Gravidade (2013) e agora Roma.
Gravidade lhe rendeu diversos prêmios importantes, como Globo de Ouro e Bafta, e também o Oscar de Melhor Direção, tornando-o o primeiro latino-americano a vencer a categoria.
O semi-biográfico Roma, foi baseado em suas memórias de infância, e já é considerado pela crítica uma obra de arte apesar de, polemicamente, ter sido produzido pela Netflix. Toda a parte técnica, desde o roteiro até a fotografia e edição foram feitas por Alfonso, dando um toque pessoal que nenhum outro filme da categoria tem. O pano de fundo crítico sobre a desigualdade social e o panorama histórico do México durante os anos 70 também são muito fortes na obra, mostrando que o diretor tem um compromisso a cumprir com a história de seu país.
PAWEL PAWLIKOWSKI - GUERRA FRIA

O cineasta polonês superpremiado ganhou notoriedade nos anos 90 com seus documentários. Em 2015 ele chegou ao Oscar, vencendo a categoria de Melhor Filme Estrangeiro com seu aclamado Ida.
As consequências da Segunda Guerra Mundial e do Stalinismo são uma constante em seus filmes, e Guerra Fria não é diferente. Visualmente impressionante, o filme conta a história de um casal de artistas que se apaixonam em meio ao tumulto da ~guerra fria~, mostrando suas separações e reencontros no período entre 1940 e 1960. O tom sério se mistura às músicas, uma constante do começo ao fim do filme, fazendo com que o longa seja quase um musical cult.
O diretor conta que se baseou na história de seus pais, nas idas e vindas que a família dele viveu durante os anos pós-guerra na Polônia. Pawel lindamente mostra como um sistema político afeta aos indivíduos e como eles se relacionam entre sim.
SPIKE LEE - INFILTRADO NA KLAN

É surpreendente que Spike Lee esteja sendo indicado pela primeira vez ao Oscar. Ele é um dos diretores mais influentes da atualidade. Seus filmes, todos de cunho político, falam sobre o racismo e a comunidade negra americana. Na segunda metade dos anos 1980 ele saiu de uma condição marginalizada de cineasta independente negro para um dos maiores nomes da indústria.
Lançado em 1986 no Festival de Cannes, seu longa metragem “Ela Quer Tudo” é considerado o predecessor de um movimento cinematográfico chamado “Black New Wave”, isto é, cinema produzido por negros com temáticas sobre a população negra. Ele abriu espaço para que outros cineastas como Barry Jenkins (de Moonlight e Se a Rua Beale Falasse) e Jordan Peele (Corra!) triunfassem.
Infiltrado na Klan tem uma linguagem mais palatável ao grande público, sendo o filme mais pop de Lee até hoje, mas sem perder seu estilo característico de estilo e montagem, como por exemplo usando cenas de “O Nascimento de Uma Nação”, um dos filmes mais importantes da história do cinema, mas que ao mesmo tempo um dos mais repugnantes, já que, segundo historiadores é o responsável pela presença da KKK no século XX.
YORGOS LANTHIMOS - A FAVORITA

O grego Yorgos Lanthimos tem uma história conturbada com cinema: ele precisou ser jogador de basquete profissional e estudar administração antes de largar tudo e finalmente se aventurar nos filmes. No início de sua carreira dirigia vídeos de dança de companhias locais, clipes musicais e comerciais, até que em 2005 finalmente teve sua grande chance com o longa Kienetta, que marca o começo de um estilo que ele carrega consigo até hoje: o de desconstrução da lógica, de desafio do ordinário.
Sua estreia hollywoodiana foi com A Lagosta em 2015. Seu primeiro filme em língua inglesa ainda é referência em roteiro. Já A Favorita é a confirmação da entrada de Yorgos no cinema americano, e tem de tudo para se tornar um clássico moderno. Seu estilo muito único, tanto em partes técnicas, quanto em atuações, faz com que A Favorita seja muito autentico em relação aos seus concorrentes.
E O OSCAR VAI PARA...
Todos os indicados tem um estilo único e muito diferentes entre si. Pode-se dizer que 2019 é um ano em que a categoria de Melhor Diretor passou longe de blockbusters convencionais.
Senti falta do lindíssimo Se a Rua Beale Falasse, do vencedor do ano retrasado Barry Jenkins (Moonlight). Dentre os indicados o trabalho do estreante Yorgos Lanthimos se destaca, no entanto acredito que a Academia irá premiar Alfonso Cuarón com seu filme intimista Roma.
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