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"FATHER AND SON", A MÚSICA QUE PESOU O SIGNIFICADO EMOCIONAL DE GUARDIÕES DA GALÁXIA

  • Writer: Luís Henrique Franco
    Luís Henrique Franco
  • Jun 9, 2019
  • 7 min read

Updated: Aug 31, 2019



Guardiões da Galáxia fez história no Universo Cinematográfico da Marvel, e boa parte de seu sucesso se deve a um uso preciso e muito bem planejado de uma trilha sonora cheia de grandes sucessos dos anos 70 e 80, principalmente. Em geral, as músicas nesse filme são animadas e com um ritmo divertido comum das discotecas daquelas épocas. Contudo, em seus dois filmes já lançados, uma música destoa das demais: Father and Son, cantada por Cat Stevens e introduzida no final de Guardiões da Galáxia Volume 2.


Lançada em 1970, Father and Son apresenta uma melodia calma e, ao contrário das outras músicas em Guardiões da Galáxia, não remete exatamente a um sentimento de felicidade, êxtase ou animação. Praticamente, ela alimenta o contrário. É uma canção que remete a um sentimento de tristeza associada à saudade. Dificilmente uma música associada ao tom colorido de aventura desse filme, mas não poderia haver música melhor para ser colocada na situação em que os personagens se encontravam.




DOIS MIX REALMENTE INCRÍVEIS



Guardiões da Galáxia Volume 1 tem uma das introduções de personagem mais memoráveis do universo Marvel. Logo após a cena inicial, somos levados a um planeta cinzento, com um dia extremamente escuro e enevoado, algo muito bom para iniciar um filme de mistério ou de terror. Nesse cenário, surge um humano solitário, com uma máscara amedrontadora por causa de seus dois olhos vermelhos gigantes. Esse indivíduo claramente busca alguma coisa, e seu silêncio nos deixa em um estado de enorme tensão. Finalmente, o indivíduo retira a máscara e revela o rosto de Peter Quill (Chris Pratt), mas ainda estamos um pouco tensos, porque não sabemos o que ele quer. Então, vemos ele colocar fones de ouvido e ligar um walkman, e qualquer vestígio de tensão que tivéssemos desaparece quando começa a tocar Come and Get Your Love, do Redbone.



Essa é a simples maneira que James Gunn encontra para introduzir o tema de seu filme e de seu protagonista. Quill é um idiota que não se importa de dançar no lugar mais amedrontador do universo. Pelo resto do filme, a atitude do personagem condiz com suas músicas. Quando o personagem vai para a cadeia, ouvimos Hooked on a Feeling, do Blue Swede. Quando os Guardiões chegam a Luganenhum, literalmente uma cabeça titânica no meio do espaço, ouvimos Moonage Daydream, de David Bowie. E quando o grande vilão está prestes a aniquilar o planeta, Quill começa a dançar e cantar O-o-h Child, do Five Stairteps. Todo o uso das músicas é usado propositalmente para nos fazer não levar essa equipe a sério.



Quero dizer, por que deveríamos considerá-los grandes heróis? Todos são perdedores, todos são idiotas e egoístas e não conseguem levar a situação totalmente a sério. nenhum deles queria salvar a galáxia e, quando finalmente surge a pergunta de por que eles deveriam se importar com ela, a resposta que surge do grupo é que eles só vão salvar a galáxia porque "eles são os idiotas que vivem nela". O filme faz o possível para nos fazer não considerar essa equipe como um grupo de heróis, e as músicas escolhidas combinam com essa ideia, nos tirando de qualquer tensão que poderíamos sentir. Outro grande exemplo disso é a cena de preparação dos Guardiões para a batalha final: enquanto em Os Vingadores, a preparação é agraciada com a música grandiosa composta por Alan Silvestri, aqui o mesmo tipo de cena acontece ao som de Cherry Bomb, da banda The Runaways.




O segundo volume, apesar de trazer músicas mais ligadas aos momentos do filme, também incorpora essa ideia de que não estamos vendo um grupo de heróis convencional. A prova disso está, novamente, na primeira cena, onde James Gunn poderia optar por acompanhar a batalha entre os Guardiões e um monstro interdimensional, mas prefere acompanhar Baby Groot enquanto ele dança ao som de Mr. Blue Sky, da banda Electric Light Orchestra. Outras músicas surgem ao longo das cenas para subverter o que geralmente esperamos desses momentos, como Southern Nights tocando durante uma emboscada ou Come a Little Bit Closer enquanto uma nave dos Saqueadores é tomada por Recoket, Groot e Yondu e sua tripulação é morta. Em ambos os filmes, os chamados "Mix Incríveis" trabalham para dar ao filme como um todo essa tonalidade de não-realidade ou, pelo menos, de não seriedade.




O PROTAGONISTA COMBINA COM AS MÚSICAS



Peter Quill é um personagem que se enquadra muito bem na ideia do "eterno Peter Pan". Tendo ficado traumatizado ao ver a sua mãe sucumbir ao câncer e logo depois ser sequestrado para viver uma vida desregrada de Saqueador, ele optou por não amadurecer em suas atitudes e manter para sempre uma postura de homem arrogante e atrapalhado que apenas curte a sua música e não se abre sobre seus sentimentos.


Quill é um homem que carrega muito sofrimento e escolhe não falar sobre eles, não passar pela dor que carrega. Mesmo depois que os Guardiões se tornam parte de sua família e um lugar seguro para ele, ele ainda assim não se abre muito sobre o que sente, preferindo manter a pose do homem inconsequente e galanteador que "tem tudo sob controle" na cabeça dele.


Nesse sentido, as músicas seguem a trajetória do personagem. Elas são todas animadas e inconsequentes, como o personagem, e tiram a seriedade das cenas. Eles criam a tonalidade perfeita para um grupo de heróis que, apesar dos perigos que enfrenta, nunca deixa de tomar ações estúpidas que acabam por piorar tudo, nem deixar de lado seus momentos de egocentrismo mesmo no calor da batalha.



DOIS FINAIS SEMELHANTES: A MÚSICA OS DIFERENCIA


Apesar desse tom descontraído e não muito atento à seriedade das situações, ambos os filmes dos Guardiões da Galáxia trazem em si uma grande dose de sentimentalismo e emoção, causada pelo acompanhamento das histórias individuais de cada um dos membros da equipe, seus sofrimentos e tudo aquilo que os fez se sentirem como "perdedores". A união deles em uma equipe os faz mais fortes para enfrentarem essa dor, mas ela nunca vai embora, e podemos ver isso na cena final do primeiro filme.


Após a batalha contra Ronan, os Guardiões embarcam em sua nova nave e Quill relê a carta que sua mãe lhe deu antes de morrer, em uma cena sentimental onde ficamos sabendo porque ele se importa tanto que os outros o chamem de Senhor das Estrelas. É uma cena forte devido à relação de Quill com sua mãe, e mostra a aceitação final do personagem com a partida dela. De certa forma, é uma cena que mostra a superação do personagem diante de um trauma que o seguiu por toda a vida.


Nesse momento triste, o protagonista faz aquilo que sempre fez durante sua vida e durante o filme: coloca uma das músicas que ele e sua mãe gostavam tanto de ouvir para ajudá-lo naquele momento de memórias tristes. A música em questão é Ain't No Mountain High Enough, que apesar de ter uma melodia mais tranquila do que outras músicas tocadas antes e com um tom mais sentimental, ainda apresenta uma letra que fala de reencontro e de esperança de uma maneira mais animada. Não é algo que sabota a cena sentimental do filme e retorna ao clima de humor que dominou toda a história. Diante de um dos momentos mais emocionantes do filme, essa música começa de uma maneira mais calma antes de ir direto para a parte mais animada, dando ao público tempo para se acalmar e retomar ao lado mais cômico, embora agora tenhamos a certeza de que os Guardiões estão todos unidos por laços extremamente fortes.



Quando chegamos ao Volume 2, vemos novamente essa cena emocionante sendo trazida ao final do filme, o sentimento de perda na vida de Quill e o uso da música para tentar entender e remediar o momento. É nesse ponto que entra Father and Son, música que ressalta a importância da relação do protagonista com o personagem Yondu Udonta, agora falecido. Contudo, ao contrário do primeiro, a música não salta para um momento mais alegre, mas mantém constante um ritmo triste, melancólico e que se traduz como uma despedida final. Por manter essa tonalidade mais entristecida, a música cria uma grande diferença entre o primeiro momento, onde vemos Quill aceitando a morte já antiga de sua mãe e finalmente se libertando para seguir em frente, e o segundo, onde o momento de perda recente cria uma dor nova que ele não está preparado para lidar, mas ao mesmo tempo reflete sobre seu papel de líder dentro dos Guardiões e o faz perceber, mas intensamente do que no primeiro filme, que ele não precisa enfrentar essa dor sozinha. Além disso, a letra da música cria um cenário de um pai aconselhando um filho, o que marca definitivamente a passagem de Quill para líder definitivo dos Guardiões.




Ambas as músicas marcam dois momentos importantes na evolução emocional do personagem, do momento em que ele finalmente se permite aceitar algo imutável até o momento em que, de frente com uma nova perda, ele é capaz de se colocar acima dela e aceitá-la de imediato. Essa evolução é visível depois em Guerra Infinita, particularmente na relação dele com Gamora e na maneira como ele é capaz de levar a sério o pedido dela e de entender seus motivos para fazê-lo.


Father and Son, dessa forma, não marca apenas uma mudança no segundo filme dos Guardiões da Galáxia, mas na tonalidade da franquia inteira também. Não é algo que impede o retorno dos momentos mais cômicos e do ar mais descontraído, mas garante ao público o entendimento de o quão complexas são as relações formadas naquela equipe, além de proporcionar um final digno para a história de evolução emocional de Peter Quill. O fato é, ele nunca vai deixar de ser um personagem cômico e com um amadurecimento questionável em vários aspectos, mas a maneira como as músicas refletem a aceitação dele diante de muitas situações e problemas de sua vida também é inegável, e a forma como Father and Son destoa das demais músicas reforça esse momento específico na questão de como o personagem passa a enxergar o mundo e as pessoas à sua volta.


Quando você para para pensar no futuro dos Guardiões da Galáxia no Universo Marvel, com seu terceiro filme praticamente confirmado nas mãos de James Gunn, você também não pode deixar de se perguntar quais as novidades que a trilha sonora trará dessa vez. Por causa disso, é interessante notar: o Mix Incrível de Peter Quill sempre trará músicas extremamente dançantes e animadas e temas que reforçarão mais o lado cômico dos filmes do que um lado extremamente emocional e mais profundo. Ainda assim, não se pode negar o uso bem planejado de músicas especiais para esses momentos, e a maneira como esse uso evoluiu do primeiro para o segundo filme. O que será que estará reservado para o terceiro, agora que contamos com um Quill que já evoluiu dessa maneira em relação às suas emoções familiares?



 

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