OSCAR 2020 – ADORÁVEIS MULHERES: O AMADURECIMENTO DAS MULHERZINHAS
- Barbara Carmo
- Jan 23, 2020
- 3 min read

Como muitas pessoas, ao saber que a obra de Louisa May Alcott receberia mais uma adaptação para o audiovisual minha reação foi um enorme “Por que? Para que? E pra quem?” Apaixonada pelo material original, acreditava (como muitos) que a adaptação de 1994 já havia feito mais do que um bom trabalho em transmitir a história das irmãs March para as telas de cinema de maneira praticamente impecável, com um elenco que contava com apenas o que os anos 1990 tinha a oferecer de melhor na safra de jovens atores (Christian Bale, Claire Danes e Kirsten Dunst para citar alguns) e com nossa heroína rebelde Jo March sendo incorporada pela rainha da década em pessoa, Winona Ryder. Dificilmente uma nova adaptação teria o mesmo peso e impacto, principalmente considerando que a última vez que vimos as irmãs March nas telas fora a menos de dois anos antes, em 2017 com a minissérie Little Women produzida BBC e estrelada por Maya Hawke. Nem mesmo a promissora diretora e roteirista Greta Gerwig (Lady Bird, Frances Ha) parecia capaz de se erguer diante de uma batalha claramente vencida e é exatamente por isso que Adoráveis Mulheres é um filme tão bom.

Com uma edição confiante e interpretações sólidas de todo o elenco, Adoráveis Mulheres nos entrega exatamente aquilo o que não esperávamos: É uma adaptação da obra de Alcott, porém completamente diferente de todas as adaptações vistas até então. Seguimos uma linha do tempo emocional em vez de uma linha cronológica e com isso as jovens irmãs March que boa parte do público cresceu conhecendo e que uma parte ainda maior irá ser apresentado pela primeira vez ganham uma luz completamente nova, algo visto principalmente em personagens como Amy March (Florence Pugh, indicada ao Oscar por sua performance), a irmã mais nova e em quase todas as adaptações inumanamente irritante que acaba de alguma forma crescendo para ser uma bela mulher que se casa com alguém rico como sempre sonhou. Nas adaptações tradicionais, Amy geralmente é tida como uma antagonista para nossa amada heroína Jo, é a primeira irmã que sempre irá apontar a Josephine seus defeitos e de todas as March, é a que nossa querida protagonista é claramente a mais distante. Na versão de 1994, Amy é uma criança bem mais jovem que suas irmãs, sempre seguindo Jo e Laurie de maneira irritante e estragando seus planos. Em 2019, apesar de ser mais jovem, Amy é claramente uma jovem inteligente e pragmática. Diferente da idealista Jo, ela compreende que para se viver bem e prover para a sua família sendo uma mulher em um mundo patriarcal seu único caminho é o casamento e ela o persegue, sem vergonha ou culpa, conseguindo um final feliz para si e para a sua família.

Talvez essa perspectiva mudada seja a grande contribuição que esta adaptação deixe às adaptações por vir. Jo March (Saoirse Ronan) não é uma heroína neste filme, ela mal é uma adulta, basta ver a forma como reage ao ter seus trabalhos criticados, ou como implora para que sua irmã Meg (Emma Watson) não se case com um homem que ama. Nossa idealização de um ícone feminista a frente de seu tempo é despedaçado em frente aos nossos olhos ao perceber que Jo não faz nada pelas mulheres, nem mesmo as de sua família, mas por si mesma e que isso não é condenável, assim como desejar uma vida doméstica como Meg não é comodismo ou ter ambição e ser pragmático em conquistá-la como Amy não é vergonhoso. Cada uma das irmãs March ensina valores importantes e defeitos que não as fazem piores umas das outras, mas apenas humanas. Jo é egoísta, Meg é vaidosa, Amy é dramática demais para o próprio bem e a pobre Beth (Eliza Scanlen), a irmã mais inofensiva que se pode imaginar, coloca o bem de todos acima do seu próprio e isso acaba lhe custando tudo o que tem.

Com merecidas seis indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Figurino, Adoráveis Mulheres corre como um tipo de azarão nesta edição, suas melhores chances de vitória residindo em Melhor Roteiro Adaptado para Greta Gerwig e Melhor Figurino para Jacqueline Durran, pela inovação por parte da primeira e pela tradição de vitórias de filmes de época pela parte da segunda. Seja como for no dia 09 de Fevereiro, quando a premiação acontecer, Adoráveis Mulheres já conseguiu mais do que jamais foi esperado dele: É uma adaptação que quebrou os moldes das anteriores enquanto respeita o material original, agradando tanto fãs antigos quanto novos e isso, de certa forma, é um prêmio em si mesmo.
Confira o trailer abaixo e deixe seus comentários sobre o filme!
Para mais conteúdo como esse, inscreva-se na Flit Studios: www.youtube.com.br/flitstudios
Comments