top of page

notícias sobre o mundo do entretenimento

  • Grey Facebook Ícone
  • Cinza ícone do YouTube
  • Grey Instagram Ícone

OSCAR 2020 - CORINGA: A ORIGEM DO PALHAÇO, UMA EMPATIA AMARGA E UM CORINGA MAIS ATUAL IMPOSSÍVEL

  • Writer: Ulisses MRF
    Ulisses MRF
  • Feb 3, 2020
  • 5 min read

Updated: Feb 5, 2020

Minha mãe sempre me diz para sorrir e fazer uma cara alegre. Ela disse que eu tinha uma finalidade. Trazer risos e alegria ao mundo.


Em 2019 o universo cinematográfico da DC Comics produziu a adaptação para filme de mais um de seus personagens icônicos. O anti-herói (ou vilão?), Coringa, chegou às telas interpretado por Joaquin Phoenix e dirigido por Todd Phillips em uma abordagem ansiosa por realismo e aproximação com as ebulições sociais da contemporaneidade. O filme surpreendeu o público e a crítica e recebeu onze indicações ao OSCAR de 2020.



Com aparições anteriores em diferentes filmes do Batman, o palhaço de Gotham City ganha agora sua história de origem: Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é um palhaço profissional que tenta ganhar dinheiro em uma agência que o destina a diferentes apresentações, ao mesmo tempo em que se esforça para alavancar uma carreira no stand-up comedy de uma Gotham espelhada na decadente Nova York dos anos 1970. Lidando com seus distúrbios mentais, que resultam no consumo de mais de sete medicamentos e acompanhamento psicológico, Arthur também tem uma condição que expõe seu nervosismo e ansiedade por meio de risadas histéricas não compatíveis com seu sentimento momentâneo. Ele mora com uma mãe doente, desesperada pela ajuda de Thomas Wayne, o magnata filantropo de Gotham, para quem ela trabalhou na juventude.



Aos poucos o universo apresentado pela perspectiva de Arthur vai se fechando, a cada dia ruim o personagem se aproxima mais daquilo que o tornará o Coringa. Com certo cuidado, são apresentados alguns contrapontos, ainda que todos falhem: seu sonho de uma carreira na comédia, seu desejo pela aprovação paterna na figura do apresentador de tv Murray Franklin (Robert De Niro), e um relacionamento amoroso com uma vizinha de corredor. Nessa apresentação, há um jogo que mescla as vontades, desejos e sonhos de Arthur com aquilo que realmente acontece em sua realidade depressiva e o espectador acaba levado, na perspectiva do palhaço, à dúvida sobre o que de fato acontece ou não.



Com o desenvolvimento de uma revolta social inspirada por um assassinato cometido por Arthur, o palhaço com um largo sorriso se torna símbolo do descontentamento da população pobre de Gotham. Aos poucos, com o agravamento de sua condição psicológica, seguidas descobertas sobre seu passado e o encontro da resposta na violência desmedida, Arthur Fleck torna-se o Coringa. Não ainda o vilão inconsequente e irracional, mas no caminho certo para tal.


Apontado como um roteiro adaptado a partir das diversas aparições do personagem no universo do Batman dos quadrinhos, o roteiro de Coringa (Joker, 2019) é assinado pelo diretor Todd Phillips (destacado pela trilogia Se Beber, Não Case! e Cães de Guerra) e por Scott Silver. A abordagem aqui busca conhecer primeiro Arthur Fleck para então desenvolver sua transformação no icônico palhaço. Entretanto, o filme, mesmo que inegavelmente se construa a partir do ponto de vista de Arthur, não deposita todas as motivações na psique doentia do vilão. Ao apresentar uma Gotham City em crise, com greve dos lixeiros, aumento da pobreza e da violência e crise do sistema de saúde, os roteiristas apresentam uma abordagem social que corrobora na transformação do personagem e inevitavelmente brincam com a empatia do espectador pelo palhaço, uma questão que causou grande polêmica entre os críticos do filme.



A perspectiva centrada em Arthur garantiu grande espaço para Joaquin Phoenix mostrar um de seus melhores trabalhos. Sempre presente na tela, o sorriso e a risada incoerentes com a situação, o olhar paranóico e os recorrentes cigarros fumados em cena mostram um ser em desespero por sua condição. O trabalho físico do ator surpreende na forma: Phoenix está magérrimo com as costelas e ossos evidentes, assim como em sua movimentação e postura, as sequências em que Arthur está curvado sobre si mesmo ou em que se liberta por meio da dança. Além disso, suas expressões de alegria, seriedade, dor e sofrimento se substituem rapidamente mostrando grande domínio expressivo. O contraste evidente aparece quando o Coringa domina a tela. Phoenix exibe sua estatura, desenvoltura e a força que o palhaço encontra no sofrimento de seu alter-ego. A marcante cena em que dança enquanto desce uma escadaria marca a apoteose do palhaço no conflito interno com Arthur. Ou seja, a indicação de Phoenix para a categoria de melhor ator principal no OSCAR 2020 não pode ser desconsiderada na competição, sendo que ele já levou para casa o Globo de Ouro e o Critics Choice Awards por esse papel.



Outros elementos que passam ao espectador o sentimento e a condição de Arthur a cada cena são a fotografia e as músicas utilizadas, que também receberam indicações ao OSCAR. As cores azul, vermelho e amarelo estão diretamente relacionadas à depressão, euforia e melancolia do personagem. Percebe-se a transição entre as cores no decorrer do desenvolvimento de Arthur e em sua substituição por um Coringa vestido de terno vermelho em uma posição heróica. Muitos planos também trabalham favorecendo a expressão do ator, seu rosto e seus olhos, quando são planos abertos mostram a pequenez e o sofrimento de Arthur, assim como a força e a vivacidade do intempestivo Coringa. A música tema do palhaço, escolhida entre as produções de Frank Sinatra, That’s Life, também materializa o resultado do qual o Coringa faz parte e seu escape pela violência. As cenas com instrumentos de corda criando a tensão revelam certa dúvida ainda presente em Arthur quando o Coringa está agindo e casam muito bem com o olhar de Phoenix.


Outro destaque da produção é a caracterização de Gotham, uma grande cidade em crise e convulsão social com seus muros pichados, seu transporte público abarrotado, as cabeças cabisbaixas e o olhar desconfiado de seus transeuntes. A maquiagem e o figurino funcionam muito bem nos papéis centrais, também com destaque para as relações entre as cores e as personalidades.


O roteiro do filme faz algumas aberturas que podem parecer incompletas ou polêmicas. É o caso da relação entre Arthur e Thomas Wayne, também com Bruce Wayne e uma possível origem do Batman; o sonho da relação paterna com o apresentador Murray Franklin; seu relacionamento amoroso com uma vizinha; e a glorificação do Coringa por jovens revoltados muito semelhantes aos black-blocs dos protestos contemporâneos. Alguns desses exemplos desagradaram aos fãs do universo DC, outros aos críticos que viram uma glorificação problemática em um momento de destaque de atentados feitos por incells, assim como um escape pela violência frente a crise contemporânea. Entretanto ainda é possível, por mérito do diretor e do roteirista, perceber uma saída para essas questões: a perspectiva centrada em Arthur e no Coringa apresenta ao espectador seus sonhos e desejos como se fossem realidade. Dessa forma, fica um recado na ideia de que nem tudo é o que parece e o filme permite uma crítica social mais profunda através de um personagem do qual se espera violência e imprevisibilidade.



De maneira geral, Coringa encerra, com gosto amargo e críticas diretas, uma era de filmes de super-heróis. Tanto pela figura do anti-herói (vilão) que ganha a empatia hesitante do espectador, quanto por seu tom realista e depressivo, Coringa é um contraponto ao otimismo, ao colorido e espacial encerramento da série Marvel, por exemplo. É um grande destaque do OSCAR 2020, mas a maior aposta é para a atuação de Joaquin Phoenix. Todd Phillips tem competição acirrada na categoria de melhor direção, onde também estão os consagrados Martin Scorsese e Quentin Tarantino, por exemplo. Na categoria de melhor filme pode ser difícil que uma obra inspirada em personagens de histórias em quadrinhos, ainda que com uma abordagem exitosa, e que tenha causado certa polêmica pelo viés político, leve a estatueta para casa.


 

Para mais conteúdo como esse, inscreva-se na Flit Studios: www.youtube.com.br/flitstudios

Yorumlar


bottom of page