ESPECIAL OSCAR – MELHOR DIREÇÃO 2018

Narrativa visual, atuação, câmera, equipe, orçamento, história... São tantas as coisas que um bom diretor deve ter em mente ao fazer um filme! O diretor não é apenas aquele contratado para coordenar ou supervisionar uma produção, mas é, definitivamente, aquele capaz de trazer uma visão e um sentido para uma história. E assim, se me permite dizer, torná-la algo mais que simples imagens sucessivas, torná-la, finalmente, em um filme, em cinema, em arte!

Todos os anos nos surpreendemos com excelentes produções criadas por excelentes cineastas. E, em algum momento, nos deparamos com uma premiação (ou talvez “A” premiação) que pretende escolher o melhor dos melhores: sejam bem-vindos ao Oscar de Melhor Direção de 2018!

É interessante notarmos ainda que neste ano todos os indicados são também os roteiristas de seus próprios filmes, o que os torna não apenas o fio condutor de uma boa produção, mas também os criadores de seus próprios universos.

Sendo assim, sem mais delongas, encoste na poltrona e relaxe! Neste artigo iremos decorrer juntos sobre todos os indicados à estatueta esse ano. Descobrir suas técnicas, inovações, desafios e o que tornam deles fortes candidatos ao prêmio, afinal de contas, todos esses grandes artistas foram capazes de grandes feitos e merecem reconhecimento.

Ou, ainda sim, como melhor diria Ron Howard, "Todos nós queremos a mesma coisa: Um bom momento, uma boa cena, um bom filme!".

Aproveite ;)

GUILLERMO DEL TORO – A FORMA DA ÁGUA

Guillermo nos introduziu este ano a um de seus projetos mais ambiciosos e pessoais, e que segundo o próprio diretor, vem sendo desenvolvido há mais de 6 anos! Em “A Forma Da Água (The Shape of Water)”, o cineasta nos leva a um mundo romântico completamente novo, retratando o amor de uma maneira pura, sincera e muito, muito poética!

É notável o quanto o cineasta se arrisca com essa nova produção. Além de retratar temas pouco falados na indústria, como a sexualidade feminina, ele ainda o faz com sua assinatura pessoal, em um universo fantasioso e com direito a uma bela criatura!

Seguindo para uma análise mais técnica, Del Toro parece utilizar de composições e movimentos de câmeras que parecem estar “flutuando” durante o filme inteiro, retratando de maneira brilhante seu próprio tema: a forma da água! Sacou?

O cineasta faz tudo isso e ainda conecta a história com um importante debate atual: o amor pelo próximo, a aceitação e o respeito pelo que é diferente e desconhecido. O resultado final é um filme incrivelmente poético capaz de nos transportar a um outro mundo, onde amar os amantes, por mais incomum que eles sejam, se torna quase obrigatório!

Esta é a primeira indicação de Del Toro como melhor diretor e uma possível vitória não seria nenhuma surpresa.

CHRISTOPHER NOLAN – DUNKIRK

Christopher Nolan é realmente um desses diretores que ou você ama, ou detesta. Sendo assim, para não criarmos nenhum rancor, já devo ir dizendo que faço parte das pessoas que amam o Chris!

Um pouco diferente de seus filmes passados, esse ano Nolan nos trouxe uma produção bem inovadora, e se você me permite a sinceridade, bem arriscada também! É sim um filme de guerra, mas não como qualquer outro. O uso de poucos diálogos e de imagens simbólicas e sugestivas, juntos com uma narrativa ousada e não linear, tornam a guerra o seu personagem principal e o tema essencial da história. Estamos aqui diante de um filme de guerra, sobre a guerra!

Colocando ainda de uma outra forma, "Dunkirk" não é um filme que retrata a guerra como algo essencialmente aterrorizante e viceral, mas sim, melancólico e triste. Isso tudo acaba resultando em um filme que não é necessariamente apelativo, mas incrivelmente emocionante. E apenas por esse ponto de vista bem inovador, em minha opinião, Nolan se destaca bastante entre os outros indicados, ultrapassando os limites de um filme de guerra qualquer!

Falando em limites, Nolan não parece conhecer muito os significados dessa palavra! Em "Dinkirk" o diretor se desafiou bastante ao utilizar locações reais e complicadas, e tudo isso sendo gravado em IMAX 70mm, que trata-se de um equipamento não muito convencional e extremamente robusto, dificultando bastante a mobilidade e praticidade na gravação de cenas aquáticas ou com aviões, por exemplo.

Esta é também a primeira indicação de Christopher Nolan como Melhor Diretor e, com uma carreira que vem se construindo cada vez mais peculiar, o cineasta tem incríveis chances de acabar levando a estatueta dourada pra casa!

GRETA GERWIG – LADYBIRD: É HORA DE VOAR

Aqui vai uma informação que pode te chocar um pouco: em 89 edições do Oscar que foram ao ar até hoje, Greta Gerwig é apenas uma das 5 únicas mulheres já indicadas ao Oscar de Melhor Direção na história do festival! Creio que isso mostra um pouco o quanto de trabalho ainda temos pela frente não é mesmo? Apenas por esse motivo isolado, vejo a indicação de Greta não apenas como sendo socialmente importante, mas como algo a ser celebrado por si só!

Nesse começo de carreira extremamente genioso, a diretora estreante Greta Gerwig foi capaz de nos apresentar uma história tocante e real, partindo quase de uma autobiografia. Em "Lady Bird: É Hora de Voar", a presença da realidade e da naturalidade no roteiro é tão grande que em muitos momentos esquecemos que estamos assistindo a um filme e, aos poucos, queremos nos sentir amigos dos personagens e estar ali os acompanhando nessa incrível jornada de autodescobrimento.

Gerwig executa essa tarefa muito bem por meio de diálogos cruzados e enquadramentos precisos e estáticos que, segundo a própria diretora, funcionam quase como fotografias que relatam os acontecimentos da história. Tendo ela mesma começado sua carreira como atriz, Greta entende também as dificuldades do meio e busca em seu novo filme um cuidado especial com suas atuações. Compondo a maioria de seu elenco com atores teatrais da Broadway, o filme é também um espetáculo de interpretações!

E como se isso já não fosse o bastante, Greta cumpre esses feitos incríveis desenvolvendo uma história nova e pouco contada na indústria, sobre o amor e a relação entre uma filha e sua mãe.

JORDAN PEELE – CORRA

Se você estiver procurando um filme extremamente criativo e original para assistir, pare de procurar e assista "Corra (Get Out)" agora mesmo! Com um roteiro que levou 8 anos para ser escrito, o então comediante de esquetes, Jordan Peele, se revela um diretor extremamente hábil em seu primeiro filme, construindo uma narrativa incrivelmente satírica que horas te fará rir e gargalhar e em outros momentos criará uma tensão igualmente forte ao sunken place.

Peele não só foi capaz de criar um filme altamente inteligente como também aproveitou para fazer uma crítica social extremamente importante e, dessa forma, abordar o racismo de uma maneira diferente e atual! Sendo assim, "Corra (Get Out)" se torna não só um filme artisticamente interessante, mas socialmente necessário em tempos modernos!

O diretor demonstra também uma habilidade técnica muito afiada ao começar o filme em um plano sequência em Steadycam perfeitamente espacializado. Além disso, em minha opinião, o seu uso exclusivo de close-ups é tão bem feito e ritmado que se torna quase uma arte por sí só.

PAUL THOMAS ANDERSON – TRAMA FANTASMA

E aqui está um diretor com uma carreira consagrada e que dispensa apresentações. Em seu mais novo trabalho, "Trama Fantasma (Phantom Thread)", Paul Thomas Anderson investe toda sua criatividade para elaborar um filme incrivelmente denso, complexo e extremamente rico em detalhes.

O filme é tão bem trabalhado que seu próprio título já revela por si só inúmeras representações possíveis da história. Prosseguindo com seu perfeccionismo já conhecido de outros filmes, Paul demonstra mais uma vez sua incrível habilidade em organizar detalhes para a criação de todo um universo que não apresenta falhas. Em minha opinião, este é talvez o filme mais "tecnicamente perfeito" entre todos os indicados e apresenta uma sinuosidade e simbologia que não permitem outra reação além do deslumbramento de uma história extremamente bem escrita e personagens muito bem compostos.

Além disso tudo, o cineasta provou mais uma vez estar em total controle de suas técnicas cinematográficas ao começar as gravações do filme sem um real diretor de fotografia. Em uma recente entrevista, Paul acabou revelando que o fotógrafo com qual costuma colaborar em seus filmes, simplesmente não estava disponível para essa produção e, dessa forma, o diretor decidiu então continuar sem um profissional dedicado e usar apenas uma equipe técnica de fotografia para ajudar nas configurações e enquadramentos.

"Trama Fantasma (Phantom Thread)" é um filme muito bem construído e que apresenta em sua essência uma dinâmica de relacionamento bem atípica e inovadora, e traz ao seu criador sua 2ª indicação ao Oscar como Melhor Diretor!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

2017 provou ter sido um excelente ano para o cinema e, dessa forma, para todos estes cineastas dos quais acabamos de acompanhar. Pessoalmente, fico contente em ver que todos os indicados tenham a possibilidade de ganhar o seu primeiro Oscar e serem reconhecidos por um trabalho que muitas vezes pode passar despercebido.

Como podemos ver, a criação de um filme não é uma tarefa simples e tão pouco imediata. Em muitos casos, pode exigir de seus artistas um grande tempo de elaboração ou então os colocar em desafios enormes, obrigando a refinarem suas técnicas cada vez mais e mais.

Podemos perceber ainda como todos os diretores esse ano não só se destacaram por incríveis habilidades técnicas, mas também por se colocarem em risco, criando histórias complexas e inovadoras. Afinal de contas, uma boa direção vai muito além de posicionar uma câmera ou dizer a palavra certa para um ator. É um trabalho de autodescobrimento em que o cineasta muitas vezes se coloca em risco em nome de sua paixão por contar histórias, e serem sinceros consigo mesmos durante este processo, desenvolvendo muito mais que uma experiência e abrindo portas para a criação de verdadeiras obras primas.

Para terminar o artigo, em uma recente entrevista, Guillermo Del Toro fez um depoimento que creio definir bem o trabalho de um diretor. Em questão, ele se referia ao final do filme "Dunkirk", de Christopher Nolan, mas acho que isso pode valer para todos os filmes:

"É simplesmente uma poesia, é puramente poético [...]. É tão complicado poder falar sobre filmes, pois você não pode colocar em palavras. O que faz [um filme] funcionar está além das palavras, além da história, do plot ou dos personagens. É o puro momento onde a luz reflete, ou quando a câmera se movimenta, quando algo se movimenta de maneira mágica. E então, este é o fim [...]!"

– Guillermo Del Toro

E O OSCAR VAI PARA...

Guillermo Del Toro! Em minha opinião, Del Toro é o diretor e cineasta que mais se destaca esse ano pela criação de uma obra prima única, sincera, revolucionária e incrivelmente arriscada. Se ele levar seu primeiro Oscar agora, depois de 20 anos de carreira, seria também uma forma de recompensá-lo pelo seu incrível corpo de trabalho e colaboração à sétima arte! Além disso, "A Forma da Água (The Shape of Water)" é um filme extremamente inovador. E se você crê já ter assistido um conto onde uma bela se apaixona por uma fera, posso te garantir que dessa vez pelo menos, a fera não precisa de transformação para achar o amor!

Essas foram nossas apostas para o prêmio de Melhor Direção. E você? Qual foi o seu favorito? deixe nos comentários!

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