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GODZILLA: A NOVA ERA DOS MONSTROS GIGANTES

  • Writer: Luís Henrique Franco
    Luís Henrique Franco
  • May 30, 2019
  • 7 min read


A base principal de praticamente todo o gênero do terror é apresentar ao público uma força incapaz de ser compreendida e controlada. É um preceito antigo: o homem sempre teme o que não pode explicar. O escuro é temido por pela ideia de esconder algo em seu interior que não podemos ver. Tememos animais como aranhas, cobras e insetos pelos seus aspectos incomuns e estranhos e pela sua periculosidade natural. Mesmo a religião já utilizou desse temor do desconhecido para atiçar seus fiéis a temerem a Deus como uma Força superior e incompreensível à qual todos deveriam obedecer e ao Inferno como um cruel destino ao qual os pecadores estariam destinados.


Nesse âmbito, as forças da natureza sempre entram como aquilo que, por mais que tentemos, jamais conseguiremos controlar. E essas forças são, em geral, representadas na cultura popular sob a forma de monstros titânicos e devastadores que arrasam cidades como se amassassem uma bola de papel. Esses monstros são frutos de um passado terrível de nosso planeta, ou são seres vindos de outros planetas ou dimensões, ou, para completar a ironia que carregam, são frutos de tentativas humanas de controlar a natureza e cuja ação foi mais devastadora do que antes se supunha.



Dessa última possibilidade, Godzilla é certamente o mais conhecido entre os monstros. Criado nos anos 50, o lagarto bípede gigantesco com um apetite voraz e capaz de soltar raios pela boca foi uma analogia à destruição causada no Japão após as explosões das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, e o efeito devastador que esses eventos tiveram no país ao longo dos anos. Criado originalmente a partir dos efeitos da radiação, Godzilla é uma força de destruição praticamente imparável que arrasa cidades com seu tamanho, sua força e seus poderes, e não há praticamente uma força entre os humanos que pode derrotá-lo.



O REI DA ERA RADIOATIVA


O sucesso de Godzilla (Gojira, de acordo com o original japonês) criou uma grande quantidade de monstros igualmente terríveis, a grande maioria deles inimiga dele. Entre os titãs criados, o mais popular foi o Rei Ghidorah, um dragão colossal de três cabeças e principal nêmesis de Godzilla. Outros que se destacaram foram Mothra e Rodan, mas uma grande infinidade de criaturas semelhantes foram criadas.



Todos esses monstros têm em comum uma origem ligada à radioatividade ocasionada pela explosão da corrida nuclear durante a Guerra Fria. Faz sentido que que tal disputa tenha provocado medo em inúmeras pessoas. A ideia de que bombas capazes de dizimar toda a vida na Terra estavam sendo produzidas em massa foi tão assombrosa que levou as duas maiores potências do período, Estados Unidos e União Soviética, na época grandes inimigos, a evitarem um confronto direto e o uso desses armamentos. No meio desse medo absoluto do fim do mundo por meio da explosão nuclear, Gojira e os outros monstros surgem como um pesadelo exagerado, mas que representa uma aflição real e viável: o mundo está à mercê de duas forças destrutivas, cujo conflito seria capaz de erradicar a vida no planeta.


O conflito entre Gojira e Ghidorah é o ápice dessa ideia. Temos aí duas feras de poder inimaginável, lutando para decidir quem será o verdadeiro rei e devastando a tudo e a todos em seu caminho. É o medo maior da humanidade, duas forças que cresceram muito além de qualquer poder de controle que se teria sobre elas e que agora lutam para obter o controle sobre tudo. E o pior de tudo é que, pelas suas origens, esses monstros são fruto de uma ação e de uma ambição humana.




KING KONG E OS ANIMAIS MONSTRUOSOS


Ao longo dos anos, o terrível Gojira foi colocado à prova contra outro monstro gigantesco que dominou a história do cinema americano. King Kong foi originalmente lançado em 1933 e acompanha a história de uma equipe de filmagem que, ao se depararem com a ilha perfeita para a produção de um novo filme, descobre também um horror indescritível, sob a forma de um gorila colossal que domina um local completamente habitado por seres primitivos de eras antigas.


King Kong se mostra o oposto de Gojira em sentidos de criação, pois se este foi criado a partir dos experimentos humanos com energia radioativa e bombas nucleares, o gorila é fruto de uma evolução indescritível, mas natural. Isolado do restante do mundo, ao gorila gigante foi permitido existir e crescer até aquele tamanho colossal. King Kong é um fruto legítimo da natureza sem qualquer interferência do homem, o que o torna um animal comum, apesar de seu potencial destrutivo.



Kong se torna um monstro, no entanto, quando a equipe do navio é capaz de aprisioná-lo e levá-lo para Nova York. Em um ambiente que lhe é estranho e hostil, para o qual ele foi levado para servir como atração turística, em um local cheio de barulhos estranhos e possivelmente ameaçadores, repleto de luzes ofuscantes, é claro que ele se sentiria na defensiva e atacaria na menor das oportunidades. Kong é uma fera, mas não um monstro. Suas ações destrutivas não são fruto de um ímpeto próprio da criatura selvagem em um ambiente humano, apenas são elevadas a um extremo catastrófico em conta de seu tamanho e força anormal.



Kong reflete um padrão entre as criaturas selvagens colossais que aparecem no filme. A grande maioria delas não age por maldade, apesar de serem colocadas como as vilãs do filme. Quando buscamos ver monstros nessa situação, não percebemos a realidade da situação. Eles são apenas animais em seu habitat natural, que foi invadido por humanos. Isso serve para o tubarão de Tubarão, os crocodilos de Pânico no Lago, os leões de A Sombra e a Escuridão e todos os outros animais monstruosos que já preencheram a tela do cinema, a ponto que devemos começar a pensar se são eles realmente os problemas, e não as pessoas que entram em seus territórios.



OS MONSTROS DO ESPAÇO E DO ENTRE-DIMENSÕES


Criaturas de dimensões distantes, com poderes terríveis e capazes de destruir toda a humanidade, são constante alimento para a ficção científica desde os tempos de H.G. Wells e sua Guerra dos Mundos, e tem em H. P. Lovecraft um de seus mais influentes autores. O terror de seus contos junta o medo do incontrolável com o medo do desconhecido e cria uma atmosfera de paranoia em seu público e de temor contra algo que não sabemos se existe ou não, e que não poderíamos definir se um dia o víssemos.



Filmes sobre o espaço sideral constantemente usam essa dinâmica, como é o caso de Alien, O Dia em que a Terra Parou, Independence Day, etc. O escritor Stephen King também já usou dessa ideia de terror ao escrever O Nevoeiro, que depois foi adaptado para o cinema. É uma ideia de terror que aborda o desconhecido e o inimaginável, esse último sendo o principal motivo para o medo que vem com os filme: a ideia de algo que nós nem conseguimos imaginar. Nesse caso, o sentimento pode ser traduzido como uma angústia vinda do nosso desejo de conhecer tudo, mas de sermos incapazes de saber contra o que exatamente lutamos, e é por isso que palavras como "alienígenas", "extra-terrestres" ou "OVNIs" tem um impacto tão grande em nós.



Acima de tudo, esses filmes não só abordam criaturas que não conseguimos conhecer direito, mas também traz as consequências de tentarmos saber mais sobre elas, e é extremamente assustador pensar em algo que desejamos conhecer, mas que é perigoso demais para pesquisarmos sobre.



UMA NOVA ERA: O QUE FAZER QUANDO OS MONSTROS DEIXAM DE SER FASCINANTES




É sensato dizer que, nos dias de hoje, monstros gigantes destruindo cidades não provocam nas pessoas a mesma aflição que antes. Para ser sincero, a maioria das pessoas acha essa destruição fascinante hoje em dia, e muitas inclusive a veem como algo divertido e engraçado. Perdeu-se a mitologia que era depositada nessas feras, de forma que seu poder incontrolável não é mais algo a ser temido, mas algo a ser esperado.


Sendo assim, como você faz para adaptar um monstro colossal com uma origem ligada à era nuclear, e que assustava por conta de seu potencial de destruição radioativo, e introduzi-lo em uma nova era onde as preocupações com o perigo nuclear não são mais tão marcantes ou alarmantes? De alguma forma, a saída fornecida por King Kong e outros animais gigantesco parece ter sido aplicada a Godzilla e seus rivais. Eles são agora parte de uma raça extremamente antiga que já habitava a Terra milhões de anos antes dos homens e que adormeceu no interior do planeta enquanto outras civilizações se formavam. Eles são titãs, os verdadeiros donos desse planeta. Eles não são fruto de um descuido radioativo dos seres humanos, eles são uma ameaça natural que retornou com os avanços humanos.


Acima de tudo, nenhuma dessas criaturas ostenta mais muito valor de terror em uma época onde monstros gigantes são a coisa mais comum que existe. Ao invés disso, eles se tornaram estrelas em um clube de luta cheio de ação e efeitos alucinantes de destruição. Sua presença não mais intimida o público, ela o excita. Godzilla deveria ser uma ameaça vinda de uma era radioativa, um deus da destruição, mas o seu lugar nos filmes atuais (já há algum tempo, na verdade) é o de um cão de briga em tamanho monumental. Mesmo que ele seja reverenciado como um deus pelos humanos que o buscam, seu papel no remake de 2014 e sua continuação de 2019 é a de ser um oponente formidável contra um grupo de monstruosidades, entre as quais se destacam Ghidorah, Mothra, Rodan e o próprio King Kong.


Esse é o plano para o futuro dos grandes monstros. O próprio King Kong foi deturpado em sua origem para se tornar mais um titã do mundo antigo e, em um futuro próximo, se tornar um formidável oponente para Godzilla. A magia desses personagens se perdeu. Não se vai mais ao cinema para assistir a um filme deles porque sua natureza é assombrosa e desafia a nossa imaginação, mas porque todos nós desejamos ver uma sequência de luta extremamente destrutiva com efeitos especiais de última geração.



 

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