JAVIER BARDEM: O HOMEM POR TRÁS DO CAPITÃO SALAZAR

Nascido em 1 de março de 1969, na cidade de Las Palmas da ilha de Gran Canaria, pertencente à Espanha, Javier Ángel Encinas Bardem é o filho mais novo em uma família de atores presentes no cinema espanhol desde seus primeiros dias. Sua mãe, Pilar Bardem, é uma consagrada atriz e defensora da luta contra a guerra e o capitalismo, e seu tio, Juan Antonio Bardem, foi um escritor e diretor, vencedor do Cannes International Critics Award em 1956 por A Morte de um Ciclista. Seus avós, Rafael Bardem e Matilde Muñoz Sampedro, também eram atores e acompanharam o crescimento do cinema espanhol ao longo do século XX.

Além do histórico de atores, a família do ator também possui uma história ao lado das lutas sociais e políticas. O diretor Juan Antonio chegou a ser preso durante o regime de Francisco Franco devido a seus filmes antifascistas, e Pilar Bardem tornou-se um nome reconhecido pela sua rebeldia, seu engajamento em movimentos femininos e sua luta contra o envio de tropas espanholas à Guerra do Iraque, movimento no qual foi acompanhada pelo próprio filho.

PRIMEIROS TRABALHOS

Devido à sua descendência, Javier Bardem passou sua infância em sets de filmagem e bastidores de peças teatrais. Sua primeira aparição em uma produção ocorreu em 1974, na série televisiva de Fernando Fernán Gomez, El Pícaro. Na época, o ator tinha apenas seis anos. Mas mesmo com o histórico familiar, Bardem não via a si mesmo como um ator, preferindo muito mais a pintura, atividade que o levou a cursar a Escola de Artes e Ofícios de Madrid, realizando pequenos papéis como ator para ganhar dinheiro e sustentar seus estudos. Contudo, o próprio ator confessou não ter talento para a pintura, abandonando sua carreira de pintor e se dedicando a diversas outras profissões, entre as quais se destacam escritor, operário de construção e mesmo stripper (profissão que exerceu por apenas um dia) antes de se tornar um ator.

Javier começou a chamar a atenção na indústria cinematográfica em seu papel no filme As Idades de Lulu (Las Edades de Lulu, 1990). Apesar de ser coadjuvante no filme, seu trabalho foi o suficiente para levar o diretor do filme, Bigas Luna, a promovê-lo para personagem principal em Jamón, Jamón (1992), filme que também contou com a participação da atriz Penélope Cruz. No ano seguinte, Bardem e Luna ainda trabalhariam juntos em Ovos de Ouro (Golden Balls, 1993). Todos esses trabalhos criaram uma imagem de símbolo sexual espanhol ao redor do ator e ameaçaram estagnar sua carreira nesse estereótipo.

Na metade dos anos 90, ele começou a expandir seu repertório para papéis mais dramáticos, como em Dias Contados (Numbered Days, 1994), El detective y la Muerte (1995), e Perdita Durango (1997), trabalhando também ao lado do icônico diretor espanhol Pedro Almodóvar em Carne Trêmula (Live flesh, 1997). Ainda em 97, o ator receberia uma proposta de John Malkovich para uma produção, que Bardem teria recusado porque seu inglês ainda não era muito bom.

INGRESSO NO CINEMA INTERNACIONAL

Foi o papel de Bardem em Antes do Anoitecer (Before Night Falls, 2000) que consagrou a carreira do ator e o colocou sob o radar internacional. Interpretando o escritor e revolucionário cubano Reinaldo Arenas, Bardem faturou sete premiações e se tornou o primeiro ator espanhol a ser indicado para o Oscar de Melhor Ator.

Com 25 filmes espanhóis em seu currículo, Javier Bardem já era um nome extremamente popular em seu país. Foi com Antes do Anoitecer, contudo, que o ator alcançou reconhecimento mundial e iniciou sua carreira em Hollywood. Logo após o sucesso do filme, Bardem recebeu a proposta de trabalhar no sucesso Minority Report (2002), mas recusou o papel em favor de um lugar como protagonista no filme de John Malkovich, Guerrilha Sem Face (The Dance Upstairs, 2002). Originalmente, ele deveria interpretar um papel coadjuvante, mas o filme de Malkovich levou tanto tempo para conseguir financiamento que deu ao ator tempo suficiente de aprender o inglês necessário e assumir o protagonismo.

Após um papel secundário em Colateral (Collateral, 2002), que contou também com a participação de Tom Cruise e Jamie Foxx, Bardem novamente encantou o mundo com sua atuação em Mar Adentro (The Sea Inside, 2004), no qual ele faz o papel de Ramón Sampedro, um tetraplégico que luta por seu direito de cometer suicídio. O papel lhe rendeu um prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza.

TRABALHANDO COM GRANDES NOMES

Em 2006, Javier Bardem conseguiu um papel na produção do premiado diretor tcheco Milos Forman, Sombras de Goya (Goya’s Ghosts) no qual contracena com a atriz Natalie Portman e com o ator Stellan Skarsgard. No ano seguinte, o ator protagonizou duas grandes produções derivadas de obras literárias: a primeira, Amor Nos Tempos do Cólera (Love in The Time of Cholera, 2007), baseado na obra de Gabriel Garcia Marquez, recebeu críticas positivas, mas não grandiosas; já o seu papel ao lado dos irmãos Coen em Onde Os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Men, 2007) foi extremamente consagrado pela crítica em geral. Interpretando Anton Chigurh, um assassino sociopata que persegue o vaqueiro Llewelyn Moss (interpretado por Josh Brolin), Bardem se tornou o primeiro ator espanhol a ser premiado com o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, prêmio que ele dedicou à sua mãe durante seu discurso de aceitação.

Em 2008, o ator recebeu um papel no filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona, no qual voltou a contracenar com sua companheira de longa data, Penélope Cruz. Dois anos depois, Bardem e Cruz se casaram, tendo seu primeiro filho, Leo, em janeiro de 2011. Dois anos depois, nasceu a filha do casal, Luna.

Em 2010, o ator protagonizou o filme Biutiful, sob a direção de Alejandro González Iñárritu, pelo qual recebeu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes e se recebeu uma indicação a Melhor Ator Principal no Oscar de 2011. Pelo mesmo papel, Bardem também recebeu seu quinto Goya Award, prêmio que dedicou à sua esposa e a seu filho recém-nascido.

TRABALHOS RECENTES

Desde seu trabalho com Iñárritu em 2010, Javier Bardem tem se tornado um ator bem popular no universo hollywoodiano. O diretor Francis Ford Coppola chegou a afirmar que o ator seria um herdeiro e até mesmo um aprimoramento de grandes estrelas como Al Pacino, Jack Nicholson e Robert De Niro, possuindo a mesma ambição e excitação para fazer algo bom.

Ainda em 2010, o ator participou da comédia Comer, Rezar, Amar (Eat Pray Love) ao lado de Julia Roberts. Em 2012, assumiu o papel do vilão Silva em 007 – Operação Skyfall (Skyfall), tornando-se um dos únicos três atores vencedores de um Oscar a interpretar um vilão do personagem James Bond, os outros dois sendo Christopher Walken (007 – Na Mira Dos Assassinos) e Christoph Waltz (007 Contra Spectre). No mesmo ano, recebeu sua estrela na calçada da fama.

Ainda em 2012, demonstrou a herança do viés político de sua família ao produzir o filme Sons Of The Cloud: The Last Colony, no qual denuncia o sofrimento do povo Saarauí nos campos de refugiados e a pouca disposição das Nações Unidas em resolver essa crise humanitária. Depois disso, atuou em alguns filmes de menor sucesso, como O Conselheiro Do Crime (The Counselor, 2013), Agente Do Futuro (Automata, 2014) e O Franco-Atirador (The Gunman, 2015).

Seu último grande papel é como o Capitão Armando Salazar, o grande vilão de Piratas do Caribe – A Vingança de Salazar (Pirates of the Caribbean: Dead Men Tells No Tales, 2017), antigo rival do protagonista, Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) que dedicou sua vida a caçar e matar piratas, até ser emboscado pelo jovem capitão e morto em um naufrágio. Seu espírito, porém, retornou, jurando vingança contra o capitão pirata. Além desse, Bardem também está trabalhando ao lado de sua esposa em uma produção intitulada Escobar, que contará a história do caso amoroso entre a jornalista Virgínia Vallejo e o poderoso traficante Pablo Escobar.

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