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OPINIÃO: O DESTINO DO MACHÃO INVENCÍVEL DO CINEMA

  • Writer: Luís Henrique Franco
    Luís Henrique Franco
  • Sep 20, 2019
  • 5 min read


Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante. Mais presente em filmes de ação e faroeste, o protagonista masculino era quase sempre caracterizado como um homem rude, mal humorado, sempre muito sério e sem papas na língua. Era um indivíduo forte, viril, com um manejo de armas incrível e capaz de destruir dezenas e até mesmo centenas de inimigos de uma só vez sofrendo, no máximo, alguns poucos arranhões. Era um herói no modelo mais brutal que o cinema americano poderia exportar para o mundo, e representava uma ideologia que, para a época, era exatamente o que os Estados Unidos gostariam que o mundo visse.


Baseado nesse personagem tão excêntrico, diversos atores lançaram-se à fama em meio à cultura pop. Nomes como Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude van Damme, Bruce Campbell, Clint Eastwood, Charles Bronson e John Wayne tornaram-se incrivelmente reconhecidos por seus papéis de homens másculos, arrogantes, com um estilo de caubói pistoleiro e furiosos. E entre todos eles, também surgiu para o estrelato Sylvester Stallone, intérprete de dois personagens desse tipo: Rocky Balboa e John Rambo. Os últimos anos têm sido especialmente únicos para Stallone, que pôde reviver seus dois personagens icônicos em suas versões mais velhas. Primeira, Rocky foi revivido para a franquia Creed, e agora Rambo está de volta para seu quinto filme.


Como parte de uma cultura que buscava colocar, da forma menos sutil possível, os Estados Unidos acima de tudo e de todos, Rambo é o exemplo perfeito do que se desejava dos machões hollywoodianos: uma força praticamente invencível e a capacidade de trucidar centenas de inimigos em um campo aberto enquanto eles mal conseguiam acertar um único tiro. Cultura essa que figura até hoje nos grandes filmes de ação e em outras produções, embora de formas um pouco mais sutis. Por isso, é realmente simbólico que o quinto filme, em contraste com o primeiro de 1982, intitulado First Blood, tenha recebido o nome de Rambo: Last Blood, indicando que ao menos um dos grandes personagens de Stallone conhecerá seu fim.


Esse fim anunciado vem com uma mudança na maneira como o público tem recebido esses personagens. Rambo é parte de uma outra geração de cinema, uma que necessitava alimentar esse tipo de caricatura e que não tinha as preocupações que o comportamento polêmico desses heróis poderia causar. O importante naquela época era que esses personagens fossem máquinas de matar contra o inimigo, destituindo deles a necessidade de serem humanos. Hoje, tais visões sobre os protagonistas masculinos mudaram, e é possível ver as consequências dessas mudanças nos filmes e nas franquias que perduram desde aqueles tempos.


Talvez Charles Bronson e John Wayne não tenham vivido o suficiente para presenciar essa mudança, mas Clint Eastwood é um exemplo de como os novos tempos afetaram os "velhos caubóis". Suas performances como ator vêm mudando aos poucos desde Os Imperdoáveis, abandonando seu estilo bruto, frio e calculista de antes e adotando um ar um pouco mais sofrido, reflexivo e condizente com sua idade, com exemplos como Gran Torino e o mais recente A Mula. E mesmo que John Wayne não tenha vivido para ver esses novos tempos, seu legado foi posto à prova do novo público, com o clássico hollywoodiano Bravura Indômita sendo readaptado em 2010 com Jeff Bridges no papel principal e apresentando um protagonista que, ao contrário do original de 1970, onde seus defeitos eram postos de lado porque ele era o grande e poderoso "herói" da história, o novo filme abraça os defeitos do personagem e o tornam um homem muito mais falho em seus atos e, embora ainda bastante bruto, um pouco mais receptivo ao público geral.






Fora do universo dos "caubóis", o próprio gênero de ação sofreu grandes mudanças. Estrelas como Kurt Russell, Chuck Norris, Van Damme ou Schwarzenegger ou foram aos poucos sumindo do estrelato ou começaram a procurar papéis em outros gêneros, enquanto suas franquias mais famosas foram aos poucos perdendo seu público fiel. A mudança na atuação de Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro é notável, indo de uma máquina mortífera a um personagem que tenta usar de sacadas cômicas para conquistar um público já cansado desse papel. E mesmo assim, mais um filme está a caminho de ser lançado, mas isso é tema para um texto de um futuro próximo.



007 é uma outra saga que vêm a tempos sofrendo nos cinemas. Desde os tempos em que o papel pertencia a Pierce Brosnan, o espião inglês tem sido alvo de críticas e do esgotamento de suas aventuras, sempre repetindo os mesmos passos e a mesma fórmula ao longo de 25 filmes lançados periodicamente desde 1962. A era Daniel Craig conseguiu trazer, em seu início, um respiro para o personagem, incorporando-o a um tipo de filme de ação mais dinâmico, tenso e moderno. Ainda assim, as mudanças introduzidas para colocar James Bond dentro da nova era de tecnologias digitais de nosso tempo falhou em transformar o personagem em algo diferente do que uma propaganda dos tempos de espionagem e heroísmo da Guerra Fria. Ironicamente, 007 começou a criticar sua própria fórmula nos filmes mais recentes, mas fez muito pouco para mudá-la.



Em meio a esse novo cenário, Rambo é um personagem propício para encontrar seu fim. Como a maioria dos outros listados acima, é um protagonista que não mais se enquadra na maneira que Hollywood quer apresentar seus heróis, é um fruto do passado que ainda não teve o fim que precisa ter. Esse quinto filme muito provavelmente marcará um adeus, e provavelmente será carregado de reflexões e um certo sentimentalismo trazido por tudo que o personagem viveu e que seus fãs ainda se lembram.


Ainda assim, a despedida do personagem condiz mais com a ideia de ele ser velho e conectado a um ideal de outros tempos do que com o completo desgaste do tipo. Isso porque, embora o machão do cinema esteja bastante desgastado, ainda existem muitos membros desse grupo no cinema moderno e, embora tenham sofrido algumas alterações com o passar dos anos e perdido a necessidade de serem fisicamente colossais, por exemplo, esses homens ainda carregam em si o estigma de seus antepassados. São casos como este os personagens Dom Torreto (Velozes e Furiosos), Jason Boune (A Identidade Bourne) e John Wick (De Volta ao Jogo). A sobrevivência desses personagens em tempos recentes, onde os antigos membros desse grupo começam a perder espaço, se dá tanto pela renovação natural do cinema quanto pelas mudanças em filmes de ação, tornando-se mais dinâmicos e com uma ação mais explosiva. Para a visão hollywoodiana, esses filmes de ação se tornaram sucessos comerciais de verão, o que justifica a tomada nem sempre tão séria que alguns deles possuem e facilita a sobrevivência do tipo de herói desse gênero.



Então, sim, 2019 provavelmente será o ano que marcará o destino definitivo de Rambo. Ele não é mais um personagem que tem tanto clamor entre as pessoas, e seu estilo de filme de ação certamente se encontra um pouco ultrapassado. Seu tipo de personagem, entretanto, ainda sobrevive, e deve continuar a sobreviver por muitos anos em Hollywood. Porque é um tipo de personagem fácil de se identificar e capaz de proezas que todos desejamos poder realizar. Os tempos mudaram, e o machão do cinema não ficou a salvo de sofrer essas mudanças para poder sobreviver, mas ainda permanece o mesmo em seu cerne, apenas dando espaço para uma nova geração, que carrega o legado de Rambo, mas que pode deixá-lo morrer sem qualquer preocupação.




 

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