OSCAR 2020 - 1917: O PROLONGADO E INCESSANTE PESADELO DA GUERRA
- Luís Henrique Franco
- Jan 29, 2020
- 4 min read

1917, novo filme do diretor Sam Mendes (Beleza Americana e 007 - Operação Skyfall), chega à premiação do Oscar desse ano como um dos filmes com o maior número de indicações, e um dos favoritos a muitos dos prêmios principais. Há quem possa dizer “ah, mais um filme de guerra. Todo ano tem um que é indicado”. Mas essa produção, que retrata uma história contada pelo próprio avô do diretor, está longe de seguir o modelo típico dos filmes de guerra americanos. Ambientado na Primeira Guerra Mundial, o filme se inicia em 6 de abril de 1917 e acompanha a história de dois cabos do exército britânico, Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay), que são enviados em uma missão urgente para entregar uma mensagem ao coronel responsável pela linha de frente, ordenando o cancelamento de um ataque que acontecerá no dia seguinte. O comando acredita que os alemães estão armando uma emboscada e que, se o ataque ocorrer, haverá um massacre de mais de 1600 soldados. Correndo contra o tempo, os dois soldados precisam atravessar um ambiente devastado e um campo de batalha horrível às pressas se quiserem chegar ao local à tempo.
Tensão e horror são palavras excelentes para descrever os acontecimentos desse drama. Filmado para dar a ideia de uma única sequência sem cortes, a câmera acompanha o ritmo e os movimentos dos dois soldados, forçando o público a uma imersão nas ações dos dois. Quando a dupla reduz o passo, a câmera reduz a velocidade de movimento. Quando estão parados, ela para. Quando descem ou sobem algum obstáculo, ela realiza o mesmo movimento. Isso não serve apenas para colocar o espectador “no meio da ação”, mas dá a sensação de estarmos vendo exatamente o que os dois soldados estão, e por isso não temos conhecimento de nada que eles também não saibam. Temos as mesmas informações que eles e, por isso, sofremos das mesmas ansiedades e dúvidas que eles sofrem ao longo da jornada, que se extende ainda mais devido às sequências prolongadas e, em muitos casos, com ação lenta, em um filme que trabalha mais com o suspense e a expectativa de que algo inevitável irá acontecer do que com conflitos e explosões constantes, abolindo as grandes sequências de ação e trocas de tiros que marcaram muitos filmes do gênero.

Sam Mendes junta duas peças extremamente positivas ao criar uma trama que se baseia em uma corrida contra o tempo e colocá-la dentro de um filme repleto de cenas longas e demoradas, fazendo o seu público pensar que uma quantidade gigantesca de tempo se passou em apenas alguns minutos de cena, acelerando nossa expectativa enquanto os personagens executam um caminhar lento. 1917 trabalha com o desespero de se correr contra o relógio e brinca com a nossa noção de tempo decorrido, tornando tudo mais urgente e, ao mesmo tempo, exigindo que entendamos o cuidado necessário pelos dois soldados ao cruzarem uma Terra de Ninguém localizada entre as trincheiras, onde podem aparecer tanto aliados quanto inimigos.
Também por causa dessas longas sequências, momentos de descanso e de calma são mais do que bem vindos por quem assiste, visto que a tensão dos planos longos força não só os personagens, mas também à plateia a exigir um descanso. E Sam Mendes o concede, mas não o necessário para podermos passar por toda a experiência do filme sem sentirmos ansiedade e uma certa dose de pânico pelos acontecimentos.

Nas questões de atuação, o filme talvez não se destaque muito. Chapman e MacKay tem interpretações sólidas do começo ao fim e conseguem mostrar o desespero dos soldados em uma missão quase impossível, mas não merecem tanto destaque a ponto de competirem com os indicados desse ano. Quanto ao elenco coadjuvante, que conta com nomes de peso como Colin Firth, Benedict Cumberbatch, Andrew Scott e Mark Strong, seus papéis são pequenos, reduzidos a personagens com quem os dois protagonistas esbarram ao longo da jornada e com quem trocam algumas poucas palavras antes de seguirem em frente com sua missão, e nenhum deles realmente chega a se destacar, o que parece ser exatamente o objetivo.
MacKay é com certeza o mais sólido dos dois personagens e transmite com perfeição a exaustão, o desespero e o sofrimento de seu personagem, mas ainda fica atrás de outras atuações do ano.

Quando ouvi falar desse filme, meu sentimento foi, ao mesmo tempo, de animação e de preocupação. Animação porque gosto dos filmes desse gênero, mas preocupação porque a história não me pareceu surpreendente, e o filme parecia algo que iria de encontro a outras propostas, como a do Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg. 1917 certamente anda em alguns locais comuns a quase todos os filmes de guerra, mas surpreende pois, ao criar a ideia de uma sequência contínua e sem cortes, nos força a experimentar o verdadeiro horror de uma guerra: a expectativa do inimigo, a incerteza se algo dará certo ou não, ou se haverá um ataque.
Ao criar um filme que mergulha em um avanço lento de seus personagens pelo campo de batalha destruído, Sam Mendes trabalha muito mais com a realidade de que o pior nem sempre é o momento em que os tiros são disparados, mas sim os momentos em que não há avanço, e tudo o que existe é o desespero de se embrenhar em uma trincheira, sem realizar avanço nenhum por dias, semanas ou até meses, com tiros de morteiro caindo sobre as suas cabeças, o que muitas vezes (e isso é mostrado no filme) força os comandantes e os soldados a decisões desesperadas e estúpidas. Não à toa o diretor escolheu a Primeira Guerra Mundial, uma guerra de trincheiras e avanços muito lentos e marcada pelo desespero total de ambos os lados, para ser palco desse filme.

Com 10 indicações ao total, 1917 é certamente o favorito nas categorias técnicas, em especial nas categorias de Sonorização e em Direção de Arte, sendo também um forte candidato a Melhor Fotografia nesse ano. Nas categorias principais, provavelmente Melhor Roteiro Original não deva ir para o filme, que, de certa forma, segue uma trama comum para filmes de guerra. O prêmio de Melhor Diretor, no entanto, já está praticamente na mão de Sam Mendes, por sua condução extremamente hábil da história e sua técnica maravilhosa junto com a câmera, e muitos já apontam esse como o grande vencedor do prêmio de Melhor Filme.
E você, o que achou de 1917? Deixe seus comentários sobre o filme e suas apostas para o Oscar! Confira o trailer do filme abaixo.
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