OSCAR 2020 – O ESCÂNDALO: AS REPERCUSSÕES DO #MeToo NO CINEMA
- Pietro Lago
- Feb 6, 2020
- 3 min read
Com um movimento que teve seu auge em 2017, estamos apenas começando a entender e sentir as repercussões do ainda relevante #MeToo. E com isso novas produções artísticas nascem e trazem consigo diálogos importantes de uma era que será para sempre marcada da prevalência generalizada de agressões sexuais e assédios, principalmente contra mulheres, no local de trabalho.

Só no final de 2019 fomos surpreendidos com duas importantes produções: a série “The Morning Show” e o filme “Bombshell (O Escândalo)”, produzido por Charlize Theron e que conta com, até o momento, três indicações ao Oscar.
Estrelado por Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie, O Escândalo conta a história real de diferentes funcionárias da Fox News – entre elas as âncoras televisivas Megyn Kelly e Gretchen Carlson – que denunciaram publicamente em 2016 a cultura de masculinidade tóxica da empresa norte-americana, levando à queda de seu produtor televisivo Roger Ailes. Embora com pouca repercussão no Brasil, as alegações de assédio e agressão sexual dentro da Fox News tiveram um impacto enorme no jornalismo televisivo americano. O Escândalo também não foi a única adaptação cinematográfica a contar essa história, que ainda recebeu mais atenção com a minissérie “The Loudest Voice”, protagonizada por Russell Crowe e distribuída pela Showtime.

O Escândalo faz um excelente trabalho em retratar as nuances e complicações que acompanharam os processos de denuncia dentro da Fox News. Desde expor casos de machismo e má conduta sexual até abuso de poder, o filme se preocupa não só em tratar com seriedade situações reais como também traz um olhar delicado sobre como esses casos repercutem após suas denuncias.
Existem muitos momentos frustrantes e impactantes no filme que nos colocam diretamente no lugar de suas personagens, trazendo e ampliando ainda mais o nível de complexidade que uma situação de assédio pode provocar.

Um momento muito chocante no filme – porém já conhecido por muitas mulheres que trabalharam na Fox News – e que inclui a personalidade de Roger Ailes (interpretado por John Lithgow), é quando o produtor pede para jovens repórteres “darem uma voltinha” durante suas entrevistas de emprego, justificando que o mesmo se trata de um meio visual e que observar suas curvas seria necessário. Mas talvez quem melhor possa explicar o momento seria a verdadeira Megyn Kelly, meticulosamente interpretada por Charlize Theron, que após assistir o filme relatou:
“Eu sei que as pessoas pensam que é como "oh você só tinha que girar um pouco”, mas eu lembro de me sentir como: Eu passei por todo o período escolar, me ofereceram uma parceria no Jones Day que é um dos melhores escritórios de advocacia do mundo, discuti perante tribunais federais de apelação de todo o país, vim aqui, estou cobrindo o Supremo Tribunal dos Estados Unidos, me formei com honras em todos os meus programas e agora ele quer que eu dê uma voltinha… e eu fiz isso. Se você não percebe o quão humilhante isso é, não posso te ajudar.”
Dito isso, apesar de trazer um retrato real e muitas vezes comovente sobre os casos de assédio, O Escândalo não está protegido de falhas e peca em seus aspectos mais técnicos, desperdiçando a oportunidade de se garantir como um filme mais memorável.
Com um roteiro de Charles Randolph, que também escreveu em 2015 o sucesso “A Grande Aposta”, em O Escândalo o roterista busca dar o mesmo tom metafórico e irônico antes aplicado, mas percebe, a medida que o filme avança, que esse talvez seja um assunto mais sério e íntimo, o que dificulta esse estilo de narração, e acaba por abandonar sua abordagem narrativa logo no segundo ato da história, tornando tudo um pouco desajeitado e bagunçado. Isso se alia à direção do filme, que também visa por um estilo mais metafórico com tomadas que tentam simular o efeito de um documentário. Mas a identidade excêntrica que cineastas como Adam McKay dão à filmes como “A Grande Aposta” e “Vice”, em O Escândalo o mesmo acaba não funcionando, o que deixa o espectador cada vez mais em dúvida de onde o filme realmente pretende ir. E talvez a cruel resposta seja que seus próprios criadores também não sabem…

É difícil dizer onde o problema realmente está, mas sem dúvidas o que podemos atestar é que esta se trata de apenas uma das primeiras adaptações cinematográficas de muitas que veremos sobre os atuais casos do movimento #MeToo. Outro fato a se refletir é que o filme fora escrito e dirigido exclusivamente por homens, mas retrata uma história com três protagonistas mulheres, o que nos deixa, pelo menos por um breve momento, questionando o que teria sido do filme se tivesse uma maior participação feminina em sua narração visual.
E você, o que achou de O Escândalo? Deixe seus comentários sobre o filme e suas apostas para o Oscar! Confira o trailer do filme abaixo.
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