RETROSPECTIVA ENTRETENIMENTO 2019
- Luís Henrique Franco
- Dec 31, 2019
- 10 min read
Updated: Jan 1, 2020

2019 chega ao fim. Mais um ano que se encerra cheio de acontecimentos importantes, polêmicas e mudanças na área do cinema, da TV e do entretenimento. Selecionamos alguns dos principais ocorridos do ano, que também marca o fim de mais uma década, a segunda do século XXI.
AS AMEAÇAS DE CENSURA
2019 foi um ano bastante difícil, podemos começar falando isso com bastante certeza. Vários acontecimento ao redor do mundo causaram uma ideia de instabilidade e insegurança em diversos setores. O Brasil foi extremamente afetado por essa questão, e a área da cultura foi um alvo recorrente dessa insegurança. Isso porque, desde o começo de seu mandato como presidente, Jair Bolsonaro tem se colocado extremamente contra esse setor no país.

Sua primeira ação com relação a isso foi extinguir o Ministério da Cultura e atribuir suas funções ao recém-criado Ministério da Cidadania, ao mesmo tempo cortando verba para que tais funções fossem exercidas. Depois vieram os ataques contra a Agência Nacional de Cinema (Ancine) que Bolsonaro afirmou estar procurando extinguir, pois "não tem nada que o poder público tenha que se meter a fazer filmes". Ele usou vários exemplos para tentar criar um argumento, atacando filmes como Bruna Surfistinha, de 2011, e o documentário Nem Tudo se Desfaz, que trata do crescimento da linha conservadora no país desde 2013 e busca captação de recursos para ser realizado.
Nos últimos meses, o filme A Vida Invisível foi alvo de um ato de censura, na qual uma sessão do longa aos servidores da Ancine foi cancelada sob a ordem da secretária do Audiovisual, Katiane de Fátima Gouvêa. O filme fora o indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar, mas não chegou a entrar na pré-lista.

Com todas essas questões, o destino da Ancine e dos outros órgãos de cultura do país ficam à mercê da incerteza e da expectativa de mais três anos sob o governo de Bolsonaro.
O GRANDE RECORDE... MAS A QUE PREÇO?

Quando Vingadores: Ultimato, a grande conclusão de mais de 10 anos de Universo Marvel no cinema, chegou aos cinemas, os fãs e mesmo aqueles que não eram tão ligados aos filmes dos heróis foram à loucura e fizeram filas enormes para assistir a essa épica conclusão. O filme logo se tornou o sucesso que pretendiam que fosse, e a arrecadação da bilheteria continuou a crescer até níveis dificilmente vistos, logo se tornando uma das maiores da história. Mas os fãs queriam mais. Eles queriam tirar o recorde de Avatar, de James Cameron.
O primeiro filme a realmente incorporar o 3D, Avatar permanecia intocado como a maior bilheteria de todos os tempos há 10 anos, e os fãs da Marvel fizeram um enorme esforço para ultrapassá-lo, mas logo de cara esse esforço se refletiu em um aspecto negativo para o cinema, quando Vingadores:Ultimato passou a ocupar 80% das salas do Brasil, não permitindo que outros filmes pudessem ser assistidos pelo público, o que irritou muita gente, principalmente integrantes do cinema nacional, que apontaram que aquilo desrespeitava o acordo que previa parte das salas dedicadas ao cinema nacional.
No fim, Vingadores: Ultimato quase conseguiu ultrapassar Avatar, mas saiu dos cinemas antes de completar o valor necessário. Mas a Marvel não se rendeu e anunciou que, em junho, o filme voltaria novamente aos cinemas, com cenas inéditas, o que despertou algum novo interesse do público. Contudo, novamente isso se tornou um problema, pois as cenas inéditas estavam inacabadas e com efeitos horríveis e incompletos, o que desagradou muitos fãs. No final, porém, Vingadores: Ultimato conseguiu o feito de se tornar a maior bilheteria de todos os tempos, embora o preço pago para isso tenha deixado muita gente descontente.

BRIGA PELO FILHO PRÓDIGO
Já faz anos que a Sony Pictures é detentora dos direitos de imagem sobre o personagem Homem-Aranha, e ela já demonstrou não estar disposta a abrir mão do personagem e devolver os direitos à Marvel. Contudo, um acordo entre a Sony e a Disney possibilitou que Peter Parker fizesse parte do Universo Cinematográfico Marvel, para alegria dos fãs. E tudo parecia muito bem, até o lançamento de Homem-Aranha: Longe de Casa, quando o acordo entre as duas marcas precisou ser renovado.

A questão é que a Disney queria manter o Homem-Aranha dentro do MCU, e precisava fazer a renovação com a Sony, que era a principal beneficiada monetariamente do acordo, tendo direito a mais de 90% do lucro obtido com o personagem. Então, quando o novo filme do herói chegou à marca de 1 bilhão de dólares na arrecadação, a Disney demandou que sua parte do lucro fosse maior, algo que a Sony não aceitou. O resultado disso foi uma briga entre os dois estúdios que resultou na quase sa[ida do Homem-Aranha do MCU, visto que a Disney quase perdeu os direitos de utilizá-lo em seus filmes.
O embate durou semanas, com cada lado fazendo demandas pesadas sem conseguir chegar a um acordo. Foi necessário a intervenção de muita gente, inclusive do ator Tom Holland, que interpreta o herói no cinema, para que Disney e Sony concordassem em renovar a parceria para permitir que o herói aparecesse em pelo menos mais dois filmes do MCU. Contudo, o destino do Aranha depois disso ainda é incerto.
A PRESSA É INIMIGA
2019 marcou o fim de Game of Thrones. A grande saga de fantasia baseada nos livros de George R. R. Martin se encerrou em sua oitava temporada, uma que foi muito aguardada pelos fãs, visto que dois anos haviam se passado desde a estreia da sétima temporada. Por conta disso, as expectativas eram enormes e, quando a série acabou, um sentimento de ultraje tomou conta do público, que viu resoluções rápidas, personagens mau desenvolvidos, situações completamente contrárias ao que vinha sendo proposto desde o início. Em resumo, foi uma temporada que desagradou demais muitos dos fãs.

A situação ficou pior quando chegou a conhecimento do público que os produtores da série, David Benioff e D.B. Weiss, estavam sendo cotados para produzir uma nova trilogia para a saga Star Wars e que, por conta de quererem iniciar rapidamente as produções dessa, haviam acelerado os acontecimentos de Game of Thrones, tirando o sentido de muitas cenas e fazendo com que arcos e evoluções de personagens muito apreciados pelos fãs chegassem a uma conclusão estúpida ou infiel ao que vinha sendo mostrado. A raiva que tomou conta dos fãs fez todos se voltarem contra D&D e seu novo projeto.
Infelizmente, não há nada que possa ser feito para salvar Game of Thrones a essa altura, mas os fãs ao menos tiveram uma vingança. Porque, devido à pressa com que D&D trataram a série para poderem começar logo a trilogia de Star Wars e o péssimo resultado obtido, a insatisfação do público foi tanta e gerou tanta repercussão negativa que os dois produtores foram simplesmente demitidos do projeto de Star Wars, e a trilogia que estavam planejando foi cancelada, ao menos por enquanto.
AFINAL, O QUE É CINEMA?
O diretor Martin Scorsese voltou a atingir um grande triunfo ao lançar, pelo servidor de streaming Netflix, seu novo filme, O Irlandês, que obteve um grande sucesso crítico e de público e já se consagrou como um dos melhores do ano. Contudo, na época do lançamento, o diretor decidiu abrir a boca para lançar uma polêmica: de que ele não achava que os filmes da Marvel eram cinema de verdade.

O comentário de Scorsese foi recebido tanto por pessoas que o criticaram quanto por aqueles que o apoiaram, e uma enorme discussão atingiu o mundo cinematográfico, com grandes nomes como Francis Ford Coppolla, Roland Emmerich e Jennifer Anniston endossaram a fala dita por Scorsese, enquanto outros como Bob Iger, Natalie Portman e James Gunn defenderam a Marvel. Seguiu-se uma decisão acalorada sobre a questão, debatendo-se o que é arte e o que é cinema, uma discussão que, em alguns locais, se estende até agora.
Em meio à toda a questão, Scorsese conseguiu se explicar mais detalhadamente, reconhecendo que haviam grandes talentos realizando filmes de super-heróis, e que eles faziam um bom trabalho, mas afirmou que o que ele entende como cinema, a "revelação estética, emocional e espiritual, a complexidade das pessoas", é diferente do que a Marvel mostra, que os filmes de heróis não tem essa questão da revelação, do perigo emocional, do risco, são filmes feitos "para satisfazer uma lista específica de demandas" e são pesquisas de mercado e de audiência e que o que ele teme é a dominância desse tipo de filme no mercado.
E você, concorda com que lado dessa discussão?
O X9 CONTA TUDO
Em novembro de 2018, o rapper americano Tekashi 6ix9ine foi preso durante uma enorme investigação de gangues, acusado de pertencer à gangue Trey Gangsta Bloods, o que ele veemente negou na época. Contudo, em janeiro desse ano, ele assumiu sua culpa e afirmou que sua função era usar sua música para ser o suporte financeiro da gangue. O julgamento final está marcado para o começo de 2020, mas a defesa de Tekashi espera o pior, uma pena mínima de 47 anos, ou mesmo prisão perpétua.

Desde que essa possibilidade se revelou, o rapper tem apresentado um novo tipo de cooperação com a investigação e passou inclusive a entregar os nomes de outros rappers que fariam parte da gangue. Entre os nomes citados, estão Aljermiah Mack e Anthony Ellison como alguns dos membros mais ativos. As denúncias feitas por Tekashi foram consideradas extremamente relvantes para juiz e levaram a uma drástica redução de sua sentença.
Contudo, as colaborações do rapper levantaram uma preocupação gigantesca na família do cantor, visto que Tekashi passou a ser visto e chamado de "X9", "Rato" e "Traidor", entre outros nomes. O medo é de que membros da gangue dos Bloods tentem assassiná-lo por conta de tudo o que disse. No momento, o rapper está seguro, mas ele já recusou o uso do programa de proteção às testemunhas, pois diz estar ciente do que realmente acontece nesse programa e de como sua vida não estará mais segura nele. Segundo ele, sua proteção será feita pelos seus seguranças pessoais contratados.
O PALHAÇO ASSUSTA

Esse ano foi marcado pela estreia do aguardado Coringa, filme que trouxe uma abordagem mais realista e visceral para a origem do icônico personagem das HQs. Apesar de ser muito aguardado, o filme também trouxe uma certa repercussão negativa, com muitos questionando a violência que o longa mostrava.
Muitas pessoas viram no filme de Todd Phillips uma produção que poderia novamente alimentar ações de extrema violência no mundor eal, e pediram para que a Warner, a produtora do filme, tomasse extremo cuidado na sua divulgação e na vigilância das salas. Muitos lembraram a empresa do ocorrido em 2012, quando um homem armado atacou uma sessão de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, matando uma dúzia de pessoas que assistiam ao filme.
Outros ainda criticaram a maneira como o filme parecia fomentar a ideologia dos Incell (Celibatários Involuntários), grupo formado por homens extremamente misógino que coloca a culpa completamente nas mulheres por seus problemas nas suas vidas, principalmente nas questões de relacionamento e sexuais. Apesar disso, Coringa seguiu nos cinemas e, até o momento, não se teve notícias de nenhum caso de violência ligado ao filme. Ainda assim, o medo pairou no ar na época de seu lançamento.
A CHINA MANDA, QUEM (DES)OBEDECE PAGA O PATO
A China sempre se consolidou como um dos maiores mercados mundiais em questão de cinema, tv e jogos, mas suas políticas rígidas de censura acabam sempre gerando polêmicas no mundo todo. Esse ano, essa política foi extremamente fortalecida devido aos protestos iniciados em Hong Kong, que sofreram desde o início uma forte repressão da polícia chinesa e geraram uma onda de apoio ao redor do mundo.

Diante desse caso, vários acontecimentos esse ano giraram em torno de declarações de apoio ao governo chinês ou aos manifestantes, e as respectivas consequências de cada um. O primeiro caso envolveu a atriz Yifei Liu, protagonista da readaptação live-action de Mulan, da Disney, filme que já sofreu um imenso boicote mundial antes mesmo de estrear por causa da decisão polêmica da atriz de declarar apoio à polícia e ao governo chinês na situação.

Um segundo caso de grande intensidade envolveu o jogador "Blitzchung", pro-player de Hearthstone, que durante uma entrevista declarou apoio aos manifestantes em Hong Kong e foi, por causa disso, banido por um ano de qualquer campeonato oficial da Blizzard. O banimento gerou uma intensa revolta em toda a comunidade e abalou muito o evento da Blizzcon, com vários jogadores profissionais e casuais declarando boicote à Blizzard pelo ocorrido.

UMA DÉCADA EM SUMMONER'S RIFT

2019 marcou também o aniversário de dez anos de League of Legends, um dos jogos mais populares da última década, e a data foi extremamente celebrada pelos jogadores, pelos fãs e pela empresa Riot Games. Muitas homenagens foram feitas, com murais nos quais foram pintados grandes jogadores de cada país, estandes em celebrações geek e muito mais. Junto com tudo isso, a Riot aproveitou para anunciar uma enorme expansão dos seus produtos.
No dia do aniversário do jogo, foram anunciados diversos novos lançamentos da empresa, incluindo um jogo de cartas, um de luta, um de FPS e um no estilo RPG, além do lançamento do League of Legends para Mobile e para console. O LoL como conhecemos também passou por inúmeras mudanças, apresentando novo mapa, novos campeões, novos efeitos e buffs das criaturas. Também foi anunciada a nova série animada, que vai focar na história de alguns campeões e deve abrir uma possibilidade para novas produções do tipo. Com isso, a Riot mostra ambição de se afirmar no cenário de games de uma vez por todas. Parabéns aos jogadores LoL que nos acompanham!
QUESTÃO DE BOICOTE E TERRORISMO
Como já é costume, no final do ano, o grupo humorístico brasileiro Porta dos Fundos lançou pela Netflix o seu Especial de Natal, um programa humorístico que faz piadas com algum evento bíblico envolvendo Jesus. Sempre motivo de diversas polêmicas e argumentos contrários, o especial desse ano apresentou, entre outras caricaturas, um Jesus homossexual, interpretado por Gregório Duvivier.

As falas contra o especial já eram esperadas. Na internet, milhares de pessoas levantaram a voz para criticar a representação feita e, inclusive, exigir que a Netflix retirasse o programa do catálogo. Muitos tentaram promover o boicote do especial, mas nenhuma dessas tentativas deu certo, visto que a popularidade do Especial apenas cresceu com o passar dos dias. Contudo, uma ação levou a questão a um nível mais extremo, quando a sede do Porta dos Fundos foi atacada com coquetéis molotov.
Felizmente, ninguém se feriu, mas o ataque provocou uma nova discussão sobre a questão de intolerância religiosa e de censura. O Grupo Integralista clamou autoria pelo ataque. Muitas pessoas que não simpatizavam com o especial repudiaram o ataque, mas muitas também comemoraram o ocorrido. O Especial ainda continua no catálogo da Netflix, e o ar de preocupação e enorme diante da possibilidade de ações como essa escalonarem para níveis mais intensos.
2019 foi um ano intenso, com muitos acontecimentos que mereciam atenção. Esses foram apenas alguns deles. Se você lembra de algum evento de cultura e entretenimento que mereça ser lembrado esse ano, deixe nos comentários!
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